regressão histórica

À direita, os exterminadores do futuro

Tudo o que Temer fez até agora, além de promover o maior loteamento descarado de cargos para formar uma base aliada e a mais gigantesca farra fiscal com o mesmo objetivo, foi destruir, desconstruir, desmontar

Beto Barata/PR

Última tentativa de Temer foi o extermínio do Ciência sem Fronteiras para a graduação universitária

Enquanto o chanceler interino José Serra continua promovendo sua diplomacia de pata(qua)das na cena internacional (a última sendo a piadinha de péssimo gosto sobre a quantidade de mulheres no Senado mexicano), o governo ilegítimo de Michel Temer continua tentando promover o extermínio do nosso futuro.

Sua última tentativa foi o extermínio do Ciência sem Fronteiras para a graduação universitária, sob a alegação esfarrapada de que agirá mais democraticamente (segundo o patético ministro da Educação) promovendo a ida de alunos do ensino médio para aprender inglês no exterior. Com justiça, Paulo Henrique Amorim chamou esta proposta, no seu blogue Conversa Afiada, de “Bolsa Disneylândia”.

Tudo o que o governo interino fez até agora, além de promover o maior loteamento descarado de cargos para formar uma base aliada e a mais gigantesca farra fiscal com o mesmo objetivo, foi destruir, desconstruir, desmontar, expurgar… Recompôs o Ministério da Cultura, apenas para promover demissões em massa agora. Ameaça todas as conquistas constitucionais desde 1988, e vai além, até a CLT da década de 40.

Sob a retórica furada de promover uma “política externa apartidária” (aliás, o tema do “sem partido” virou obsessão da nossa direita) compromete a soberania nacional e ridiculariza o país e o Itamaraty em escala planetária.

Este espetáculo de uma destruição pirotécnica de direitos e de políticas de inclusão social que fizeram o Brasil respeitado no mundo inteiro se apoia em parcela de  burguesia financeira ou de espírito financista e de uma classe média enraivecida por aquelas políticas. Constrói desta forma a ilusão de que é possível recolocar a pasta de dentes de volta dentro do tubo, promovendo a miragem de uma regressão histórica sem precedentes em nossa trajetória. Mobiliza enormes contingentes embrutecidos  pela visão fantasmagórica de um mundo em que os pobres ou ex-pobres não terão acesso à saúde pública, a uma educação decente, ao ensino  universitário público, a bolsas no exterior, a transporte público ampliado e decente; um mundo em que empregadas domésticas não terão mais carteira assinada nem acesso à seguridade social, como era antes no quartel destes abranges; aliás, nem haverá carteiras assinadas neste mundo de pesadelos sonhados como “passaportes para o futuro”, em que trabalhadores trabalharão 60 ou 80 horas por semana, tendo que comer com uma mão e trabalhar ao mesmo tempo com a outra.

Um aspecto relevante é que neste esforço regressivo abençoado pela mídia golpista, que agora afirma (Estadão) que nem sempre a maioria acerta, nossa direita intempestiva nem original é. A regressão histórica é o tema dominante da sinfonia da extrema-direita mundial, sob a égide do “meia-volta, volver”. Dependendo do país, fala-se em restabelecer uma grandeza passada e fanada: outro não é um dos temas preferido de Donald Trump nos Estados Unidos. A sombra do antigo Império Britânico acompanhou, em parte, a votação do Brexit no Reino Unido. Na França, na Holanda, na Alemanha, Le Pen, Gert Wilders e Frauke Petry promovem a visão de um filme que rodasse ao contrário, fazendo que, em um passe de mágica, milhões de pessoas caminhassem para trás, voltando a seus países de origem. Isso quebraria a Europa que envelheceria espantosamente em 30 anos e se veria sem força de trabalho para sustentar sua economia, mas azar: a promoção da imagem pode ser muito eficaz eleitoralmente.

No Brasil, igualmente se acena, como “política externa apartidária”, o retorno a um passado de submissão e alinhamentos automáticos com os dominantes do Ocidente, esquecendo até mesmo que esta jamais foi a política de um Pedro II, de um Rio Branco, ou Vargas (este o sempre odiado pelas direitas, não por seu caráter autoritário, mas por seu “populismo”), nem mesmo de ministros de extração tão variada quanto João Neves da Fontoura, San Thiago Dantas, Azeredo da Silveira, apenas para citar alguns nomes dentre muitos.

O governo interino faz por merecer, assim, o apelido de “exterminador do futuro”. Talvez os seus membros devessem ter mesmo aquela figura que deveria, segundo a tradição, ficar diante dos papas eleitos no Colégio de Cardeais, queimando uma estopa na sua frente e dizendo: “sic transit gloria mundi“, (assim passam as glórias deste mundo). Mas duvido que entendessem o significado do gesto, no mundo de confeitaria em que vivem.

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