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Golpe no Brasil: nada de novo na Frente Ocidental

Representante norte-americano na OEA declarou que no Brasil a democracia não corre perigo, mas que ela corre, sim, na Venezuela

NINJA

Assim como em Honduras e Paraguai, Ocidente não acredita que Brasil esteja sofrendo um golpe

“É errôneo pensar que toda gente tem a mesma capacidade de sentir.”Os governos norte-americano e alemão anunciaram, através de seus respectivos porta-vozes, que não veem qualquer golpe no Brasil. Pensei neste título do famoso romance de Erich Maria Remarque: “Nada de novo na Frente Ocidental” (“Im Westen nIchts Neues”, 1929), conforme o título de uma de suas versões. Foi uma das obras de Remarque queimadas pelos nazistas na famosa pira de 10 de maio de 1933, na hoje Bebelplatz, em Berlim.

Não me consta que ambos os governos tenham achado que houve qualquer golpe em Honduras ou no Paraguai, no mesmo molde do “kalter Putsch” (a expressão foi cunhada pela revista alemã Der Spiegel e hoje corre solta na mídia alemã). Também não me consta que no governo norte-americano ou no alemão alguém sequer suspeite de público que Bush II foi confirmado presidente, contra Al Gore, por um movimento golpista que reconheceu como legal e se recusou a investigar a fraude eleitoral na Flórida, em uma votação por 5 x 4 na Suprema Corte. A vertente atual desses golpes “legais”, “soft”, “kalter”, “brancos”, na verdade, começou lá. Mais uma vez, o Brasil se curva ante os Estados Unidos.

O representante norte-americano na OEA declarou que no Brasil a democracia não corre perigo, mas que ela corre, sim, na Venezuela. Lembra, mutatis mutandis, apesar dos partidos diferentes na Casa Branca, o reconhecimento apressado pelo governo Bush II do presidente golpista Pedro Carmona, quando da tentativa fracassada de derrubar Hugo Chavez em 2002, golpe, aliás, louvado como “democrático” pela mesma mídia golpista brasileira que hoje incensa a nossa “democracia” derrubando uma presidenta legitimamente eleita e pondo no seu lugar um governante títere das máfias ao redor.

Aqui na Alemanha nada de muito especial vai acontecer. Afinal, ao contrário do que dizia a propaganda, no século 19, para atrair imigrantes para o nosso país, este é muito longe. E foi, até o governo de Temer soltar sua caixa de maldades sobre o povo brasileiro, uma pulga na camisola da hegemonia neoliberal que campeia por aqui.

O governo alemão vai ter, eventualmente, que se explicar perante a própria mídia do país, que qualifica majoritariamente o golpe de golpe. Dá vontade de rir ler as alegações de que a mídia internacional está dominada pelos blogueiros “sujos” brasileiros.

Já o governo norte-americano não vai ter que explicar nada para ninguém. Mas o presidente Obama está se arriscando a entrar para a história, infelizmente, pela porta dos fundos. Depois de ter sido a primeiro presidente negro do país, e de ter enfrentado o lobby republicano que defende a seguridade privada, ele pode se tornar o presidente que prometeu, mas não fechou Guantánamo, apesar de ter reatado com Cuba, e agora mais um dos presidentes que apoiam golpes na América Latina.