República dos Bananas

O balanço da bossa do golpe

É evidente a agressão dos vazamentos da Lava Jato ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma e o quanto eles e a mídia golpista poupam as figuras da oposição

Ribs/Facebook

Brasil e Argentina estão diante de uma nova bossa. Para dar um golpe, basta enganar muitos por bastante tempo

Conhecemos a máxima de Lincoln: é possível enganar todos por algum tempo; alguns, o tempo todo; mas não todos por todo o tempo.

Mas no Brasil – também na Argentina – estamos diante de uma nova bossa. Para dar um golpe, basta enganar muitos por bastante tempo. E depois o resto – inclusive o bagaço dos enganados – que se virem.

É verdade que na Argentina, no ano passado, não houve um golpe. Mas a tática usada para garantir que Macri ganhasse a eleição e conseguisse instalar seu programa de governo foi a mesma usada no Brasil para montar o golpe que está em curso.

O esquema foi igual: pressão contínua e mentirosa da mídia oligárquica, mais abusos coordenados a partir de setores do Judiciário, perseguição a líderes oposicionistas, plantação de noticiário diversionista para desviar a atenção quando denúncias surgiam sobre figuras da direita. Na Argentina, isso aconteceu em relação às denúncias das operações offshore de Macri e familiares, quando da revelação dos “Panama Papers”. Imediatamente juízes denunciaram Cristina Kirchner por irregularidades que passaram a ocupar as manchetes de La Nación e El Clarín, os conglomerados que querem comandar – e cercear – a informação no país vizinho.

No Brasil, é evidente a agressão dos vazamentos da Lava Jato ao ex-presidente Lula e à presidenta Dilma e o quanto eles e a mídia golpista poupam as figuras da oposição.

Fica evidente, através da comparação dos dois casos, que a tática, sendo a mesma, tem uma origem comum, provavelmente, e há muitos indícios nesta direção, provinda dos Estados Unidos. Antigamente, logo depois da Segunda Guerra, o ex-presidente republicano e general Dwight Eisenhower alertou sobre a existência de um “complexo industrial-militar” que, na verdade, comandava os Estados Unidos. Hoje pode-se falar num complexo sistema de informação reunindo agências como a National Security Agency, empresas de terceirização da espionagem e de inteligência, ONGs e Think Tanks que certamente forjaram este treinamento para elementos dos sistemas judiciários dos países da América Latina, além de órgãos de segurança, como as polícias federais respectivas e adjacências.

Junto a esse esquema, é indispensável contar com a operação midiática que bombardeie com constância frases e manchetes que cativem as mentes e corações dos que querem ser cativados, é bom que se diga, convencendo as pessoas de platitudes vazias, como a de que “sim, sempre houve corrupção, mas o PT a institucionalizou”, quando não convencendo os mais afoitos em acreditar em qualquer coisa que proteja o que veem como seu direito a privilégios, que foi o PT que a inventou.

Fica claro o objetivo desse estupro da inteligência ao se considerar que o “futuro governo” de Michel Temer já acena com os cortes dos direitos trabalhistas, da suspensão da obrigatoriedade de investimentos em educação e segurança e de cortes nos programas sociais, até com afirmações de que o Bolsa Família está “inchado”.

Esses arautos da regressão histórica aos tempos da República Velha estão convencidos, e trabalham com o sentimento difuso em parcelas de nossas elites e classes médias de que o Brasil precisa mesmo ter um “exército de reserva miserável” para funcionar, para manter a percepção de que direitos são privilégios de classe. Esse golpe armado precisa também desconstruir a narrativa de que os governos petistas melhoraram a condição de vida da população. Seu objetivo maior é “desconvencer” o povo de que ele tem direito a ter direitos.

Para tanto, esses golpistas dispersos em toda a parte, mas sobretudo concentrados em aparelhos de Estado não estão hesitando em dar um golpe que, além de cobrir o Brasil de descrédito em escala mundial, vai potencializar a corrupção, agora sim, como nunca se viu antes nesta uma vez chamada de Terra dos Papagaios, agora se transformando na República dos Bananas. Não que todos sejam bananas, porque é possível que alguns sejam bananas o tempo todo, mas é impossível que todos sejam bananas todo o tempo. Mas basta um bando de bananas por algum tempo, para abrir o bananal à sanha da direita.

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