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Diário do México, parte 4: o Palácio do Governo

Todos os anos, no dia que comemora a independência mexicana, o presidente deve sair à janela que dá para a praça e gritar algo como “Viva la Pátria” para a multidão

Antoine Hubert/CC/Flickr

Palácio Nacional, sede do governo federal mexicano, possui a sala em que ficou preso Benito Juárez

Nossa visita à capital mexicana se encerrou com uma passagem pelo Palácio Nacional, sede do governo federal mexicano. O Palácio também fica junto ao Zócalo, a praça central da cidade, quase em frente a catedral erguida sobre o templo asteca que ali havia, em frente às ruínas que são o vestígio deste outro tempo, pré-Conquista.

O Palácio em si tem uma arquitetura interessante, e é palco de uma cerimônia anual curiosa, para dizer o mínimo. Todos os anos, no dia que comemora a independência mexicana, o presidente deve sair à janela que dá para a praça e gritar algo como “Viva la Pátria” ou “Viva México” para a multidão que deve estar concentrada em frente.

Também no interior do Palácio pode-se ver a sala em que ficou preso Benito Juárez, que não aceitou o golpe de estado conservador que instaurou a monarquia no país e chamou o infeliz e trágico Maximilian von Habsburg para ocupar o trono. Este, como já se mencionou antes, foi deposto pelo próprio Benito Juárez, e foi fuzilado em Querétaro.

Há uma valiosa exposição de máscaras de todo o país, antigas e modernas. A tradição da máscara no México é muito ampla, unindo traços pré-colombianos com espanhóis, e as religiões antigas com a tradição carnavalesca de fundamento cristão. Figurações de animais e diabos se misturam com as conhecidas caveiras, ou Catrinas, femininas e com os tradicionais sombreiros mexicanos.

Mas a visita mais importante é a dos murais de Diego Rivera, que retratam a vida no país antes da chegada dos espanhóis e a história da Colônia, até a independência, a Revolução de 1910 e a Segunda Guerra. O mural mais importante, junto a uma das escadarias internas do Palácio, ocupa três paredes, é enorme, e ao “final”, à esquerda de quem olha, aparece Marx falando com trabalhadores, como que indicando o caminho a seguir…

A tradição dos murais foi muito incentivada pelos governos mexicanos pós-revolucionários. Num país em que a população camponesa e de trabalhadores urbanos era predominantemente analfabeta, o mural tornou-se um meio estético e didático de fixar uma leitura da tradição histórica. O mural mexicano ganhou projeção internacional, ajudado por um escândalo nos Estados Unidos. Este ocorreu quando Nelson Rockefeller, através de uma fundação paralela, encomendou ao mesmo Rivera a pintura de um mural sobre os tempos de transformação, para o Centro que leva o nome da família em Nova Iork. Entretanto, o mural desagradou a imprensa norte-americana de então, por incluir Marx e Lenin entre os figurantes.

Depois de uma intensa campanha contrária, a fundação contratada optou por destruir o mural. Porém, às vésperas da destruição, Rivera pediu a um amigo que o fotografasse. Com isso, conseguiu reproduzir o mural no presente Palácio de Belas Artes, na capital mexicana. Como “vingança”, incluiu o pai de Rockefeller entre as figuras, conversando com uma prostituta e cercado por símbolos que evocam a sífilis…

Um belo complemento a esta visita – mas com luz própria – é a ida ao bairro de Coyoacán, onde ficam a casa de Frida Kahlo e a de Leon Trotski. Ambas propiciam momentos emocionantes, em particular a de Trotski, mais sóbria e com a manutenção do seu estado de quando houve o assassinato do líder comunista, por Ramon Mercader. No jardim estão dispostas as cinzas do líder revolucionário e comandante do Exército Vermelho. Ainda se veem as marcas das balas do primeiro atentado contra ele, liderado por outro muralista famoso, Davi Alfaro Siqueiros.

Na casa de Frida Kahlo, além de pinturas e fotos, há vários objetos da artista, e uma evocação pungente da sua vida atribulada e cheia de dores e sofrimento. A distância entre as duas casas é pequena. Nas proximidades fica também o museu dedicado a Diego Rivera, mas este não foi possível visitar por falta de tempo. Fica para a próxima, porque próxima certamente haverá.

Depois deste giro pela capital e arredores, nos dirigimos ao mundo maia, na península de Yucatán.

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