Alguns temas para @s leitor@s seguirem no fim de semana

Síria e a ameaça de uma nova guerra de alcance mundial, eleições nos EUA, Obama vai pra Cuba, a Europa se fragmenta e o mundo está em ebulição

ONU

Fugindo do conflito: refugiados estão no centro da maior crise humanitária do planeta desde a 2ª Guerra Mundial

Síria e vizinhos

Teoricamente, hoje (19) deveria entrar em vigor o cessar fogo acordado pelo “Grupo dos 17” em Munique, na semana passada. Entretanto há dois fatores a considerar:

Ninguém sabe o alcance que terá este cessar fogo, mesmo que ele entre em vigor, o que muitos analistas põem em dúvida. Ele não inclui o Estado Islâmico (EI), nem o grupo Jahbat al-Nusra, visto pelo menos até recentemente, pelo menos, como vinculado à Al-Qaïda. Este grupo atua em quase toda a Síria, menos nas regiões ocupadas pelo (EI) e pelos curdos, sendo rivais daquele e inimigos destes. Nesta atuação misturam-se a outros grupos rebeldes, o que pode provocar complicações.

Vários dos participantes dos acordos estão adotando o comportamento de dizer uma coisa e fazer várias outras em sentido contrário. A Turquia está empenhada em impedir que os curdos estabeleçam uma zona autônoma junto da sua fronteira com a Síria. A intenção turca é estabelecer um “corredor sanitário” de isolamento no território sírio, definindo-o como uma proteção necessária para impedir a incursão de terroristas curdos em seu próprio território.

Recentemente o governo turco responsabilizou organizações curdas pelos atentados que mataram 28 militares em Ancara e outros seis numa estrada no interior do país, cisa que elas negam. A força aérea turca vem bombardeando posições curdas na Síria, coisa que é vista como um desafio à Rússia e desagrada os EUA.

Por sua vez, a Arábia Saudita enviou aviões de combate a bases turcas, não se sabe ainda com que intenção concreta, a não ser a de recuperar uma influência no confronto, que vira diminuída nas últimas semanas. Também ameaçou enviar tropas terrestres, gesto qualificado pelo primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, como fator de risco para uma “nova guerra mundial”.

O governo de Bashar al-Assad vem recuperando posições que perdera antes, notadamente na região de Aleppo. A Rússia é acusada pelos EUA, Turquia e Sauditas de bombardear posições rebeldes indiscriminadamente, coisa que Moscou nega. De fato, a situação é de alto risco, com aviões russos, norte-americanos e turcos se alternando no espaço aéreo sírio com objetivos e alvos diferentes.

A Turquia já abateu um avião russo, acusando-o de violar seu espaço aéreo por 10 ou 15 segundos, coisa que a Rússia nega. Ao caírem de para-quedas, um dos pilotos foi morto por guerrilheiros apoiados pela Turquia e outro foi resgatado por soldados do governo de Damasco. Entretanto, um helicóptero russo enviado para resgatar os pilotos foi atacado por aqueles guerrilheiros, e um militar da missão foi morto.

Estamos diante de uma situação que tem analogias com a que levou à Primeira Guerra Mundial. Devido a várias cadeias de alianças, um atentado em Sarajevo, cometido por um suposto anarquista, levou a um dos maiores confrontos da história da humanidade.

O tamanho da fúria dos republicanos nos EUA

Os membros do Partido Republicano têm bons motivos para ficarem furiosos neste fim de semana. O presidente Barack Obama fez dois anúncios que devem tirar o seu sono. O primeiro foi que cumprirá seu direito e dever constitucional, indicando um novo jurista para a vaga na Suprema Corte aberta pela morte do arqui-conservador Antonin Scalia.

Se isto acontecer, e o Senado, com maioria republicana, se negar a avaliar a indicação num prazo razoável (entre dois e três meses), ou se a reprovar simplesmente porque “foi indicado pelo presidente”, mesmo que aleguem outros pretextos, os pré-candidatos republicanos ficarão numa saia justa.

O outro anúncio foi que visitará Cuba em 21 e 22 de março. Os pré-candidatos hispanos dos republicanos, Ted Cruz e Marco Rubio, estão furiosos pelo que chamam de “apoio à ditadura comuno-castrista”. Mas a verdade é que a visita os encurrala, opondo-os a um movimento geopolítico de monta, que é do agrado de vastos setores da opinião pública norte-americana, europeia, latino-americana e mundial.

De quebra, a atitude do presidente Obama confirma o acerto da posição brasileira de patrocinar investimentos na ilha, como no porto de Mariel. De certo modo, ela antecipou corretamente a atitude dos Estados Unidos, num movimento de “quando eles chegarem, nós já estaremos lá”, o que demonstra a cegueira seletiva de muitos setores das oposições… no Brasil.

O tamanho da fúria do pré-candidato Donald Trump

Este pré-candidato está particularmente furioso porque o Papa Francisco I, ao visitar a fronteira entre o México e os Estados Unidos, condenou seu plano de construir um muro ao longo de toda ela (fazendo o México pagar). O Papa disse que a “atitude de construir muros ao invés de pontes não é cristã”. Trump cuspiu fogo na resposta, chamando o Papa de “disgraceful”, o que pode ser traduzido tanto por “infame” como pela expressão “esse Papa é um desgraçado”, em português mais coloquial.

De passagem: neste sábado os republicanos realizam suas primárias na Carolina do Sul, e os democratas no próximo. Nas duas semanas seguintes haverá primárias em outros 14 estados.

A brigalhada em torno da União Europeia

Também hoje será retomada a reunião de cúpula dos mandatários da União Europeia para discutir as reformas propostas por David Cameron na sua organização e constituição. Cameron quer maior autonomia para os países membros em vários tópicos, e põe isto como condição para favorecer a permanência do Reino Unido na UE no plebiscito que prometeu fazer em 2017.

Há a possibilidade de que ele venha a ser antecipado para junho deste ano. Comentários nos bastidores sugerem que o principal empenho de Cameron é defender a City londrina (como é chamado o centro nervoso do mundo financeiro britânico) diante das possíveis restrições e controles que vierem a ser adotados pela UE.

Também a questão dos refugiados e suas eventuais quotas está em jogo. Angela Merkel declarou que a permanência do Reino Unido é vital para a UE. Mas outros comentários dizem também que a França e a Bélgica consideram o “Brexit” (como é chamada a alternativa da saída do Reino Unido) como “inevitável”.

O casamento de pessoas do mesmo sexo na Itália

A Itália é o único pais da Europa Ocidental que não legalizou de alguma forma a união de pessoas do mesmo sexo. Agora o projeto de lei patrocinado pelo governo de Matteo Renzi sobre o tema entra em semana decisiva no Senado.

Tradicionalmente se atribuiu esta resistência à Igreja Católica. Entretanto, esta se mostra dividida de um modo curioso: o Papa vem mantendo um “silêncio obsequioso” sobre o tema, enquanto o presidente da Conferência Nacional dos Bispos Italianos (equivalente à nossa CNBB), monsenhor Angelo Bagnasco, está fazendo campanha contrária abertamente.

A oposição principal ao projeto vem dos partidos conservadores, que agora ganharam um aliado importante, o “Movimento 5 Estrelas”, liderado pelo comediante Beppe Grillo, desejosos de atrair votos da direita italiana.

Seca na África

A Unicef alertou para o problema da seca na África subsaariana, em vários países, como Burundi, Lesotho (o país mais alto do mundo), República Sul-Africana, Moçambique e outros, o que poderia afetar 100 milhões de pessoas na região. A Unicef também alertou para problemas semelhantes em outras partes do mundo, como a América Latina e Ásia, em consequência ainda do El Niño, embora o ápice deste fenômeno tenha passado.

Referendo na Bolívia

No domingo (21) ocorre referendo no país sobre mudança constitucional que permitiria ao presidente Evo Morales candidatar-se mais uma vez ao posto. A Unasul (União das Nações Sul-Americanas) vai acompanhar o pleito, com representantes dos doze países membros. A proposta foi aprovada no Parlamento Boliviano no ano passado, com o condicionante do referendo.

O atual mandato de Morales vai até o ano de 2020. Se a mudança for aprovada, o presidente poderá se candidatar a um quarto mandato, que iria até 2025. A seu favor contam os altos índices de crescimento econômico do país e políticas de inclusão social de sucesso. A oposição vem usando a admissão de um caso extra-conjugal no passado por parte do presidente a acusações de “tráfico de influência”.

As pesquisas de intenção de voto dão resultados muito diferenciados, indo desde uma vitória do “Sim” por larga margem até o contrário, uma vitória ampla do “Não”, passando por resultados apertados favoráveis a ambos os lados e até pelo empate de 40% a 40%. Em todas elas, o número de indecisos aparece com dois dígitos, entre 10 e 20%.

Cristina Kirchner

Hoje a ex-presidenta argentina completa 63 anos. Muitos analistas estão prevendo sua volta antecipada ao primeiro plano da política argentina, com a queda da popularidade do presidente Mauricio Macri e também diante do vazio que seu afastamento deixou na liderança peronista de esquerda.