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Nova Guerra Fria esquenta depois de abate de avião russo pela Turquia

Aconteceu o que todo mundo temia e, mais uma vez, o precário equilíbrio da paz mundial vai depender da cabeça fria do camarada Putin

CC / www.kremlin.ru

Vladimir Putin pode decidir rebater ataque a aviões russos pela Turquia, com consequências imprevisíveis

O incidente se deu na conturbada fronteira entre a Síria e a Turquia. O presidente turco, Tayiip Erdogan, acusou o avião russo de violar o espaço aéreo de seu país. Segundo as Forças Armadas turcas, dois aviões russos se aproximaram da fronteira. Advertidos, um deles desviou e o outro prosseguiu, tendo sido abatido quando havia percorrido cerca de dois quilômetros dentro do espaço aéreo da Turquia, mas caindo em território sírio. Erdogan garante que pedaços do avião caíram em território turco, ferindo duas pessoas.

Os pilotos do avião russo saltaram de paraquedas. No entanto, um deles pelo menos, foi morto por guerrilheiros anti-Assad que atuam, com apoio turco, nesta região da Síria. Estes anunciaram terem matado o segundo piloto, mas hoje (25) o presidente Vladimir Putin, da Rússia, disse que ele conseguiu escapar, socorrido pelo exército sírio.

No entanto, Putin, que nega que o avião russo entrou no espaço aéreo turco, afirmou também que um helicóptero enviado para resgatar os pilotos foi atacado pelos guerrilheiros, e que um de seus tripulantes morreu.

Putin considerou o ataque “uma facada nas costas”. E acusou o governo de Erdogan de “apoiar’ os terroristas do Estado Islâmico (EI). A maior parte da mídia do Ocidente está entre a cruz e a caldeirinha. Não gosta de Erdogan, mas detesta Putin. Os dedos em riste então se voltam contra Putin, e Erdogan é frequentemente citado como “defendendo o território da Turquia”. E Putin, como um aventureiro na Síria, bombardeando os rebeldes indiscriminadamente para favorecer Assad.

A acusação retórica de Putin contra a Turquia, mesmo se for exagerada, tem alguma base na realidade. Analistas mais equilibrados têm apontado uma negligência – senão leniência – por parte do governo turco, em relação ao Estado Islâmico. A política externa regional da Turquia tem como inimigos principais os curdos e Bashar Al-Assad (de quem Erdogan já foi aliado). O grupo terrorista vinha sendo visto como um inimigo secundário.

Grupos guerrilheiros anti-Assad que a Turquia apoia, como os “Turkmens” (em inglês), na fronteira entre os dois países, vêm o Estado Islâmico como um “companheiro de caminho” na tentativa de derrubar Assad, não como inimigos. A aviação turca age na Síria – mas principalmente contra as posições curdas, que são os mais efetivos combatentes em terra contra o grupo.

Internamente, a situação também é complicada. Há de 15 mil a 20 mil combatentes “estrangeiros” lutando com o Estado Islâmico, a maior parte vinda do próprio Oriente Médio, do Norte da África ou da Europa. A rota destes últimos passa pela Turquia, sabidamente. Vão primeiro para o aeroporto de Istambul, depois para duas cidades no Sul da Turquia, Hatay e Gaziantep, e destas para a fronteira com a Síria, que atravessam por terra.

Embora as relações comerciais entre a Rússia e a Turquia sejam intensas, as relações diplomáticas e políticas entre os dois países já vêm se deteriorando há algum tempo, exatamente por causa da intervenção armada de Moscou na Síria em favor de Assad, e também contra o Estado Islâmico.

A Otan e os Estados Unidos apoiaram Erdogan, mas pediram “moderação” a Moscou e Ancara. A Turquia não parece disposta a recuar de sua retórica agressiva anti-Moscou. Ou seja, mais uma vez, o precário equilíbrio da paz mundial vai depender da cabeça fria do camarada Putin. Que, esperemos, a mantenha.

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