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Direita brasileira parece desistir de querer ser Europa

Lições a considerar desde Berlim: nossas elites insistem em achar que Brasil não tem jeito, mesmo quando o país se aproxima de padrões do Primeiro Mundo

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Limite de velocidade em cidades em países europeus, adorados por paulistanos, é de 50 por hora. Sem discussão

Uma das características de muita gente da direita brasileira é sua extrema falta de educação, selvageria, incivilidade, grossura e desprezo pelo próprio país. Com exceção desse último item, os restantes não são exclusivos do Brasil. Por exemplo, aqui na Alemanha a extrema-direita tem-se esmerado em atos de selvageria, grossura etc. contra os imigrantes, refugiados, que aqui acorrem (embora muitos cidadãos daqui estejam se esmerando em bem recebê-los).

Recentemente houve casos como o do cara que entrou numa estação de metrô e urinou – urinou (!) – em cima de imigrantes que lá estavam, inclusive uma criança. Houve atentados a faca em casas de refugiados, ou até com gás pimenta, mandando gente para o hospital. Sem falar nos incêndios criminosos que se multiplicam contra estes abrigos durante a noite.

Mas no Brasil predomina uns “gestos” da direita que consistem em afirmar constantemente que “o que é bom para a Europa e os Estados Unidos não é bom para o Brasil”. Transporte público privilegiado em relação ao individual, corredores de ônibus, restrições ao uso de carro, controle rígido de velocidade, saúde pública, etc. etc. etc. – tudo isso é bom para a Europa, mas não para o Brasil, “nem existe no Brasil” o que, aliás, é mentira, porque o SUS é muito melhor do que muito do que existe em muitos países na Europa e também nos Estados Unidos (onde o sistema público de saúde claudica e está sendo reerguido por Barack Obama, contra uma feroz oposição dos republicanos).

Tome-se o exemplo do controle de velocidade. Li estarrecido que há uma ação judicial movida pela OAB-SP (corrijam-me se eu estiver errado) contra a diminuição da velocidade máxima nas marginais da capital paulista. Apesar de o número de acidentes ter baixado depois da medida. Vi outras manifestações grosseiras na mídia velha, por parte dos arautos do individualismo feroz, contra a extensão de corredores de ônibus e de ciclovias em São Paulo. Um descalabro político e moral, só compreensível pelo desvario mal-educado que tomou conta dos direitistas no país desde a Copa do Mundo e em especial depois da inesperada (só para eles) derrota do Aécio em outubro passado.

De vez em quando vale mesmo prestar atenção em lições que podem ser lidas a partir da Europa, desde que sem eurocentrismo nem aquilo de acreditar que o Brasil não tem jeito. Por exemplo:

1 – Aqui em Berlim, como em todas as cidades da Alemanha, o limite de velocidade nas ruas é de 50 quilômetros por hora. Perto de escolas ou em regiões densamente povoadas, 30. Exceções: as autoestradas de administração municipal, onde o limite é 100.

2 – Pedestre tem preferência em qualquer lugar.

3 – Em muitas das autoestradas federais não há limite de velocidade. Mas em outras há: 130, 100, 80 quilômetros por hora.

4 – Em estradas de zonas rurais os limites são variam: 100, 90, 80, 70 quilômetros por hora. Mas atravessando zonas urbanas cai para 50, e em centros de cidades, 30.

5 – O controle desses limites é rígido. Não há recurso, a menos que se comprove um erro por parte da autoridade ou de radares etc.

6 – Se passar três por um sinal vermelho, adeus carteira de motorista. Alcoolizado, idem. Multas enormes. E penas duras, no caso de acidentes.

7 – Para completar este quadro que muita gente da nossa “élite” acharia dantesco se fosse no Brasil, o Senado de Berlim (em termos brasileiros o conselho de secretários municipais) adotou uma nova lei, estabelecendo um limite de 30 quilômetros por hora em certas ruas durante a noite, para diminuir o ruído, pois está comprovado que a submissão constante a ruídos acima de 55 decibéis durante o sono aumenta o risco de problemas cardiovasculares.

Durma-se com um silêncio desses!