futebol e politicagem

Propinas, fraudes, lavagem de dinheiro… Surpresas nem tão surpreendentes na Fifa

Prisões de conselheiros da entidade na Suíça resultam de operação do FBI, que investiga irregularidades que podem chegar a US$ 150 milhões

Sidney Oliveira/ Ag. Pará – 21/01/2014

José Maria Marin: ex-governador de São Paulo, ex-político do DEM, então PFL, e, até aqui, poderoso dirigente da CBF

A operação pareceu organizada com a precisão de um relojoeiro. Pudera, foi na Suíça.

Um pouco antes das 6 horas da manhã, mais de uma dúzia de policiais entraram no hotel Baur au Lac, em Zurique, solicitaram as chaves mestras na portaria, e a seguir invadiram seis quartos e deram voz de prisão a seus ocupantes. Estes foram retirados discretamente pela porta dos fundos, cobertos por mantas e lençóis, e levados a carros com janelas cobertas.

Os seis eram alguns dos conselheiros da Fifa, que deveriam participar do Congresso da entidade, a ser aberto na quinta-feira (28), e que na sexta (29) deverá ou deveria reeleger Sepp Blatter como seu presidente.

Mais tarde, um sétimo conselheiro foi detido. Há ainda outros sete na mira das detenções, e mais de uma dezena de outros vêm a ser no mínimo ouvidos, talvez o próprio Blatter. No momento em que redijo estas notas há informações de que o FBI norte-americano estaria dentro do escritório da Concacaf, braço da Fifa para a América do Norte e a Central, em Miami, como parte da mesma operação.

Na verdade, a operação partiu do FBI. Há três anos, ele vinha recolhendo informações sobre a Fifa, em particular a Concacaf. As acusações são muitas. A menos grave seria a de sonegação de impostos. As outras envolvem recebimento e pagamento de propinas, fraudes, extorsão e lavagem de dinheiro. O valor estimado é de US$ 150 milhões.

O pagamento/recebimento de propinas seria relativo à escolha da Rússia e do Qatar como sedes das Copas de 2018 e 2022 respectivamente. É verdade que há muita dor de cotovelo envolvida no meio, com as entidades futebolísticas europeias e sua mídia inconformadas com quatro escolhas sucessivas de sedes fora do Velho Continente e alijadas, portanto, dos benefícios decorrentes.

Mas deve-se registrar também que a maior surpresa dos acontecimentos é sua demora em acontecer. Faz muito que denúncias do gênero rondam a entidade máxima do futebol mundial.

Há pressões para que Blatter adie a escolha (sua confirmação) do futuro presidente da entidade pelos próximos quatro anos. Ele enfrenta a oposição do príncipe jordaniano Ali Bin al-Hussein, que se declarou consternado e chocado pelas denúncias.

Mas um porta-voz da Fifa, Walter de Gregorio, anunciou que não existe esta possibilidade, nem de que as decisões sobre 2018 e 2022 sejam revistas.

A propósito, um dos detidos é José Maria Marin, ex-governador de São Paulo (o penúltimo, durante dois anos), ex-político do DEM, então PFL, ainda dirigente da CBF, onde muita gente deveria por as barbas e as carecas de molho.

Também a propósito, até o momento nenhuma das denúncias envolve o Brasil e a Copa no Brasil. Não adianta, portanto, as oposições quererem envolver a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula na questão. Embora, certamente, vai haver gente querendo fazer isto.

E ainda a propósito, registremos uma ironia. Neste mundo tomado pela vertigem e pela ociosidade frenética e muito bem remunerada por dentro e por fora das finanças internacionais completamente desregulamentadas e fora do controle dos Estados e organismos internacionais, onde denúncias como a presente se tornaram moeda corrente, economias e mídias ortodoxas se preocupam de modo privilegiado com o valor das pensões dos aposentados gregos.