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Na França, crescimento da extrema-direita revela briga familiar

Três gerações dos Le Pen disputam espaço na mídia para suas ideias conservadoras, com vantagem para a mais jovem, que também é a mais radical

cc / wikimedia

Marion Maréchal-Le Pen, a mais jovem e mais radical da família, tem espaço de sobra na mídia francesa

As direitas e as extremas-direitas estão em ascensão no mundo inteiro, não apenas no Brasil, pais onde, aliás, elas tiveram um pequeno refluxo depois do encolhimento das manifestações do dia 12 de abril em relação às do 15 de março.

Um dos países onde elas – direita e extrema-direita – mais têm crescido em importância é a França. A Frente Nacional obteve vários sucessos eleitorais, embora não tão grandes quanto se esperava, e, sobretudo, quanto eles esperavam. Marine Le Pen, a líder da Frente, é candidata a pelo menos chegar ao segundo turno na futura eleição presidencial francesa.

No momento, seu único oponente com intenções de voto capaz de batê-la é o ex-presidente Nicolas Sarkozy, de volta ao ringue, pela direita. Para capitalizar esta ascensão, Sarkozy marchou mais para o lado mais conservador, na tentativa de roubar votos de Le Pen. Passou a defender, por exemplo, a proibição do uso de véus islâmicos nas universidades francesas, além da proibição de servir comida nas cantinas escolares adequadas aos preceitos da religião islâmica, isto é, sem carne de porco (só falta quererem “obrigar” os estudantes franceses a consumir porco pelo menos uma vez por semana…).

Há uma discussão em curso sobre a que se deve este crescimento das direitas – do meio-campo ou da extrema – se ao recuo do Partido Socialista, entalado numa disputa interna sem fim nem quartel por causa das guinadas à direita do governo de François Hollande e seu primeiro-ministro, Manuel Valls. Pode ser. Votos de trabalhadores migraram, aparentemente, do OS para a extrema-direita. Mas a coisa não é tão simples assim.

A esquerda mais à esquerda e os verdes parecem estar soçobrando também neste naufrágio. Este refluxo total aponta para um problema estrutural, comum na história europeia. Momentos de crise abrem as portas para a direita. Isto acontece agora mais uma vez. Depois da crise de 29, as politicas recessivas (que hoje chamaríamos de neoliberais) do governo alemão abriram as portas para o crescimento definitivo de Adolf Hitler e seus comparsas.

Hoje, sem a dramaticidade de então, acontece algo parecido. Depois da crise de 2007/2008, o aprofundamento das políticas recessivas na Europa inteira, sob os planos de “austeridade” defendidos com unhas e dentes pelo establishment alemão, está levando à mesma insuflação da extrema-direita e da direita como um todo.

Porém este crescimento não vem sem solavancos. E no momento a Frente Nacional francesa está experimentando um destes sobressaltos. Surpreendentemente, em país tão adiantado, esse sobressalto se apresenta como uma briga familiar, e de gerações. Na semana que passou, Jean-Marie, o papai Le Pen, voltou a escandalizar os meios políticos com declarações que negavam a importância do Holocausto e elogiavam o governo colaboracionista de Vichy durante a Segunda Guerra.

A filha Le Pen – Marine – exigiu que o “velho” se recolhesse a um silencio obsequioso, deixando até seu cargo de presidente de honra do partido. Preocupada em afastar a pecha de partido racista da Frente, Marine aparentemente conseguiu seu objetivo. Portanto, nas aparências, a Frente estaria conseguindo de apresentar como mais moderada do que no passado.

Mas há um complicador em tudo isto. Trata-se da sobrinha de Marine, Marion Maréchal-Le Pen, filha do titio Le Pen, de 25 anos, que é a nova estrela do partido. É a deputada mais jovem do Parlamento francês. Irrequieta, escandalizou os meios políticos ao declarar abertamente que seus correligionários deviam aumentar a pressão sobre Valls para provocar-lhe um “infarto”, algo mais ou menos análogo às declarações de jovens ainda nas fraldas políticas, mas guindados à condição de liderança pela mídia conservadora no Brasil, que pedem tiros na cabeça do PT, ou, quem sabe, dos petistas.

Entretanto, este é o tipo de escândalo – e aqui está o pior desta história – que encanta eleitores jovens, ávidos por algo que “estremeça” os alicerces de uma política na qual não creem, desacreditando a partir daí toda e qualquer forma de política.

A jovem mais jovem Le Pen conta com um séquito de seguidores e seguidoras que lhe é extremamente fiel, inclusive em termos de lhe dar assessoria. Graças a isto a disputa na Frente permanece acesa, pois ela é apontada como mais conservadora do que a tia, uma reedição mais jovem e mais moderna do papai Le Pen, que parecia estar entrando para o museu da história.

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