guerra ou paz?

Novos dias D na Europa

Estão reunidos em Minsk, na Bielo-Russia, Vladimir Putin, François Hollande, Petro Poroshenko e Angela Merkel. Espera-se a discussão de uma saída para a paz sustentável na Ucrânia

TATYANA ZENKOVICH/efe

Angela Merkel, ao lado de François Hollande, cumprimenta o presidente bielorruso, Alexánder Lukashenko

Hoje (11) e amanhã serão novos dias D na Europa. Não que haja invasões, embora possa haver. Mas são dias decisivos. Nesta quarta estão reunidos em Minsk, capital da Bielo-Russia, Vladimir Putin, presidente da Rússia, François Hollande, da França, Petro Poroshenko, da Ucrânia, e a chanceler Angela Merkel, da Alemanha. Espera-se desta reunião que ela defina as balizas para uma nova trégua e para uma futura paz sustentável na Ucrânia.

O conflito, cada vez mais violento, já tem um saldo negativo de mais de 5 mil mortos, em grande parte civis, além dos milhares de desabrigados e refugiados. Os rebeldes separatistas apertam o cerco sobre o porto de Mariupol. Os governistas bombardeiam uma das “capitais” dos separatistas, Donetsk.

Podem ser os últimos esforços para conquistar mais territórios antes da trégua. Podem ser abertura de uma nova fase da guerra, agora vista como “de longo prazo” e de desgaste.

Os Estados Unidos se dispõem a escalar a guerra, fornecendo mais armamentos “defensivos” ao governo de Kiev, o que agrada sobretudo ao presidente falcão Arsenyi Yatsenuk, desejoso de levar a “guerra santa” até o fim. Angela Merkel prefere uma solução que não signifique a abertura de uma guerra interminável.

Também, nesta quarta estão reunidos os ministros da área financeira da zona do euro, preparando a reunião de cúpula dos chefes de estado da quinta-feira, em Bruxelas. Na pauta, um único ponto: Grécia.

É um verdadeiro showdown, algo digno dos duelos do OK Corral do velho faroeste. De um lado estarão Alexis Tsipras e Yannis Vanoufakis, do outro, Angela Merkel e Wolfgang Scauble, respectivamente chefes de estado e ministros das Finanças dos respectivos países, Grécia e Alemanha.

Tsipras diz que não abre mão do princípio de que o pagamento da dívida grega deva obedecer a possibilidade de recuperação da economia e do poder aquisitivo do povo; Schauble devolve que a Alemanha não abre mão de que a Grécia pague os compromissos assumidos, nos prazos assumidos.

Há muita gente na bancada do ” deixa disso”: França, Holanda, Itália, Espanha, para citar alguns. Há outros na bancada do “vamos ver”, do lado da Alemanha: Portugal e Finlândia, por exemplo.

É óbvio que Schauble, mais do que Merkel, se sente pessoalmente desafiado pela “rebeldia” grega. Ele tem os planos de austeridade na conta de frutos da sua arquitetura, embora sejam mais, na verdade, de Jens Weidman, do Banco Central Alemão, e das escolas ortodoxas que aqui predominam quase absolutas no ensino de economia.

As posições estão relativizadas. A Grécia e apenas um “apêndice” (2%) da economia europeia. Mas Tsipras chega à reunião fortalecido por um voto de confiança confortável no seu parlamento: 162 x 137 e uma abstenção por ausência. Além disso, tem a simpatia que sempre se atribui a Davi diante de Golias.

Schauble, embora esteja na posição de mostrar ter o queijo e a faca nas suas mãos, chega enfraquecido pela antipatia geral e por uma curiosa pesquisa do Instituto Econômico de Munique, que diz que todo o sul da Europa hoje está mais ” avançado” em termos de reformas neoliberais do que a própria Alemanha.

Se prevalecer a intransigência de Schauble, Weidman e companhia (Merkel, que nesta altura pode ter nas mãos a chave do compromisso), a Grécia sai do euro. O que trará mais problemas para a Alemanha do que para a Grécia, no longo prazo.

E poderá ser o começo do fim de um belo projeto, urdido pela social-democracia europeia, mas colhido pelo conservadorismo renitente e antissocial.

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