Netanyahu quer conduzir Israel a uma espiral ainda mais à direita

A menos que ocorra um milagre como aquele plebiscito de Pinochet que lhe saiu pela culatra, primeiro-ministro apela para um nacionalismo paranóico para abafar insatisfação social com a crise econômica

Haim Zach/GPO/Fotos Públicas

Netanyahu dispensou o centro da sua coligação, que já é de direita, e almeja algo mais ainda à destra

A leitura de trechos do último discurso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, me deixou de cabelos em pé. O que se lê mais é “eu”, “eu”, “EU”, assim, em maiúscula. Eu quero cuidar de vocês, povo de Israel, eu fiz de tudo para vocês, eu assim não consigo governar… E assim BN ordenou – e foi obedecido, com 84 votos a favor – a dissolução do atual Parlamento e a convocação de novas eleições, para a segunda quinzena de março.

A crise foi alimentada por discordâncias, parece, de longa data. Mas se exacerbou depois que o gabinete israelense discutiu – e aprovou – a apresentação ao Parlamento (Knesset) de uma definição constitucional de Israel como um “Estado-Nação do Povo Judaico”.

Houve confrontos verbais acerbados na reunião do gabinete. A votação foi de 14 x 7. E os mais resistentes à proposta, os ministros Teivi Lipni, da Justiça, e Yair Lapid, das Finanças, receberam a carta de dispensa assinada por Netanyahu. A resistência à proposta se baseia no temor que essa nova definição agrida o direito de minorias em Israel.

Mas Netanyahu não parece disposto a tergiversar. Acuado por insatisfações devido ao mau estado da economia, ele bate na tecla do nacionalismo israelense para se afirmar. Sua esperança é de que a votação no Likud, seu partido, em março do ano que vem, com a votação dos partidos ortodoxos judaicos, o permita formar um novo governo, mais fortalecido… à direita.

Em resumo, Netanyahu dispensou o centro da sua coligação, que já é de direita, e almeja algo mais ainda em direção à destra. Isto significa o que ele entende por governança: mais assentamentos judaicos em territórios palestinos, mais restrição de direitos a estes, mais legislação pró-exclusividade judaica. E em Israel nada de novo vai acontecer até que se livrem dele. O que parece muito difícil no curto prazo, tal é o nível da paranoia claustrofóbica que reina na política israelense.

A menos que ocorra um milagre, como semelhante o que aconteceu com o plebiscito proposto por Pinochet ao Chile, em 1989, e que lhe saiu pela culatra.

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