independência?

Depois da Escócia, a Catalunha

A Catalunha deve formar um Estado? Este Estado deve ser independente? Essas perguntas serão feitas em plebiscito dia 9 de novembro

efe

Milhares de pessoas se reuniram no estádio do Barcelona para pedir independência da Catalunha, em junho de 2013

A proposta da independência da Escócia foi derrotada por 55% a 45%, um resultado que longe de enterrar definitivamente a questão, apenas sublinhou-lhe a importância. Foi uma vitória da ameaça e do medo, da chantagem feita pelo mundo financeiro, muito mais do que de um projeto consolidado de ação comum.

O clima nas vésperas do referendo era muito parecido com o da eleição de 2002 no Brasil: os bancos deixarão a Escócia, as empresas fecharão suas portas, o FMI vai endurecer o jogo, o sistema financeiro vai sonegar verbas, a City londrina (ali é que está o poder) vai tirar a Escócia da libra esterlina e esta terá de escolher entre a complicação de criar uma moeda ou a supercomplicação de aderir ao euro e, em se tratando do Reino Unido, last but not the least (é assim que se diz por lá), a Rainha vai ficar triste.

Se o resultado, no longo prazo ou mesmo no curto, foi bom para os escoceses é coisa ainda a se configurar. É claro que é sempre melancólico assistir a uma vitória do medo; por outro lado, num clima de tal divisão (55 x 45), a independência poderia mesmo não ter terreno firme onde se apoiar.

Mas agora é a vez da Catalunha. O novo plebiscito está marcado para 9 de novembro próximo. O clima entre Madri e Barcelona está envenenado por causa disso.

As raízes históricas da questão são muitas e de longa data. Além da língua própria, a Catalunha continua sendo uma região relativamente na linha d’água numa Espanha em naufrágio geral. Foi a primeira região espanhola a se industrializar. Tem uma cultura própria riquíssima e de projeção internacional.

Durante a Guerra Civil foi dos territórios ferrenhamente republicanos. Valencia, vizinha co-irmã da Catalunha, foi capital do governo republicano. Muitas das brigadas internacionais (com alguns brasileiros inclusive) combateram em território catalão ou vizinho, como no vale do rio Ebro ou nos Pirineus.

Uma parte do sentimento separatista na Catalunha, hoje, vem do desejo de não compartilhar a sorte de uma Espanha em decadência: talvez seja o condimento mais conservador do movimento. Outra parte vem do sentimento republicano reprimido, contido e enrustido historicamente. E ainda outra parte, no momento, vem do repúdio às políticas excessivamente “austeras”, vale dizer, recessivas, com que o governo conservador de Mariano Rajoy tenta acertar o passo com Berlim, Frankfurt e Bruxelas.

Ou seja, faz-se o país naufragar para que o governo não afunde. E há ainda a recente desilusão com a monarquia, devido aos sucessivos escândalos envolvendo a família real.

No momento, as previsões são algo apertadas. Na última pesquisa de intenção de voto,  do começo do mês, havia 34,6% a favor da independência, 39,5% contra, uma enorme procissão de indecisos (19,2%) e alguns abstencionistas (6,7%). Os grandes partidos espanhóis são contra a independência, embora o PS seja favorável a uma grande autonomia para a atual província.

A proposta de plebiscito prevê duas perguntas:

1) A Catalunha deve formar um Estado?

2) Este Estado deve ser independente?

Não se sabe ainda se haverá novo plebiscito sobre a forma de governo, ou se a República será proclamada automaticamente em caso de vitória da independência.

Se aquelas proporções acima permanecerem até as vésperas do plebiscito, dificilmente o “sim” vencerá, pois a tendência, em geral, dos “indecisos” é a de se acomodar dentro da situação vigente.

Neste caso, como no da Escócia, um resultado negativo estará longe de enterrar a questão.

 

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