Crise no Iraque

O presidente Barack Obama e um dilema chamado Isis

Iraque está se desfazendo diante do grupo que deseja criar Estado Islâmico no Iraque e Síria. Se Obama correr, não vai se dar bem; se ficar, vai se dar mal

Pete Souza/TWH

Obama cumprimenta líder sunita iraquinao Osama al-Nujaifi, em reunião em janeiro. Tensão interminável

Berlim – Isis é uma sigla em inglês para o chamado Islamic State in Iraq and Syria. Uma variante do nome troca Síria pelo Levante, e ainda outra por al-Sham. Mas o que é Isis, este grupo que está tomando o Iraque a partir da Síria?

Isis, seguindo a nova metodologia de grupos insurgentes que aderem a práticas terroristas, é uma holding formada por vários agrupamentos mais ou menos autônomos. É uma espécie de franquia, assim como a Al-Qaeda. A sigla foi criada em 2003, quando da invasão do Iraque pelos Estados Unidos e seus aliados, reunindo vários grupos muçulmanos da confissão Suni, descrita por muitos analistas como fundamentalista.

Em 2004 filiou-se à Al-Qaeda, mas esta rompeu com o grupo em fevereiro deste ano. Isis almeja a criação de um Estado independente, inicialmente em território sírio e iraquiano, mas depois estendendo-se por todo o Oriente Médio.

O grupo fortaleceu-se durante a guerra civil na Síria, numérica e financeiramente, em parte devido ao financiamento dado aos grupos rebeldes opostos a Bashar Al-Assad a partir da Arábia Saudita. Logo tornou-se um dos grupos muçulmanos mais influentes dentre os rebeldes. Mas agora, com o governo de Damasco na ofensiva política e militar, o Isis deslocou sua atenção para o Iraque – invadindo o norte do país, tomando cidades, e algumas atrocidades já lhe são atribuídas, entre elas a execução sumária de soldados e oficiais que não aderiram às suas forças.

O Estado iraquiano está se desfazendo. Seu exército, ao norte, não ofereceu resistência. Ao contrário, os militares fugiram, despindo inclusive suas fardas para não serem reconhecidos, abandonando armas e bagagens nas mãos do inimigo. As cidades vão caindo uma após outra, e agora os membros de Isis estão às portas da maior refinaria do país. Inicialmente acreditava-se que contava com cerca de 3 mil militantes, mas esse número está-se revelando grosseiramente subestimado.

A invasão de Isis propiciou outros levantes. Há informes sobre movimentos curdos, que querem assegurar o domínio sobre suas regiões. Ex-partidários de Saddam Hussein ou do partido de onde ele saiu (o Baath) estão saindo das sombras. O governo do primeiro-ministro Nourial Al-Maliki vem se revelando impotente para enfrentar a situação. Al-Maliki é apoiado, em princípio, pelo Irã e pelo governo sírio, o que o torna um inimigo natural da Arábia Saudita, país que vem insistindo na formação de um governo de “unidade nacional”. Pode-se dizer: que unidade, num país que está se desfazendo?

Enquanto isso, em Washington, o presidente Obama está encurralado pelo dilema: ele, que prometeu acabar com as guerras, está à beira de envolver-se de novo na mãe das guerras recentes, a invasão do Iraque, de onde ele queria sair. O iraque pode tornar-se mais uma promessa falida, desta vez não só não cumprida, como o fechamento de Guantánamo, mas desta vez revertida. Os republicanos e Tony Blair pressionam por uma intervenção terrestre; fala-se também na possibilidade de bombardeios…

Mas o pior ainda está por vir. Envolvendo-se na guerra, os Estados Unidos estarão, queiram ou não, agindo ombro a ombro com Damasco e Teerã, que desejam manter o governo de Al-Maliki. Agindo ombro a ombro com estes, estarão reforçando aliados de Putin, a quem os Estados Unidos e seus satélites europeus queriam cercar e manietar. Estarão também desagradando seus tradicionais aliados sauditas.

Críticos domésticos, nos EUA, se dividem: uns dizem que isso é consequência de terem entrado numa guerra em que nunca deveriam ter entrado (a invasão do Iraque); outros, mais à direita, dizem que o erro foi ter anunciado sair cedo demais.

Se nada fizer, Obama será pasto para as feras do Tea Party em casa. Se fizer algo, estará frustrando tradicionais aliados e reforçando figadais adversários ou inimigos.

Enquanto isto, Isis avança. E o Iraque se desfaz.

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