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Ataque à embaixada do Brasil em Berlim foi mais do que ato contra a política

No imaginário e na retórica das oligarquias, é necessário fazer com que o Brasil 'volte ao seu lugar'. As pedradas retóricas vêm do mercado financeiro, insatisfeito com a insubordinação do país

© Reynaldo Paganelli/Futura Press/Folhapress

Entrada da embaixada do Brasil na capital alemã: vândalos a serviço da desinformação e do retrocesso

Aparentemente foi produto destas idiotices antipolíticas que voam mundo afora. Um bando de uns dez mascarados foram, a 1h de segunda, ao lado e aos fundos (evitando a rua) do prédio que abriga a Embaixada do Brasil em Berlim e a residência da embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti. Jogaram umas 80 pedras e quebraram uns 30 vidros.

Em condições normais, um ato de vandalismo sem maiores consequências. Não houve vítimas, apenas danos materiais, que são condenáveis, mas são pouco perto do pior que poderia acontecer. O bando fugiu antes que a polícia chegasse.

Mas não vivemos tempos normais. O Brasil hoje é alvo de uma campanha de mídia – dentro e fora de suas quatro linhas – das mais agressivas que já se viu na história do país. Acrescida pelo fato de que nunca se escreveu tanta besteira desinformada sobre ele, disfarçada de “informação”, “denúncia”, “alerta”, o que se queira.

Diariamente aqui na Europa pingam matérias dirigidas contra o governo brasileiro e contra o próprio Brasil. As pedradas físicas que atingiram a Embaixada foram precedidas pelas pedradas retóricas que continuamente agridem o Brasil.

As pedradas físicas vieram provavelmente do grupo que mais tarde, no mesmo dia, divulgou um texto na internet, “[B] Kämpferische Botschaft nach Brasilien”, em www.linksunten-indymedia.org , onde contesta a realização da Copa do Mundo no Brasil, e se solidariza com o movimento “Não vai ter Copa”.

Mas as pedradas retóricas que diariamente, na TV, no rádio, na mídia impressa e virtual, agridem o Brasil vêm de outras fontes, que, aparentemente, nada têm a ver com aquela.

Há dois tipos de ataques. Um, mais politizado, é liderado pelos porta-vozes da city financeira londrina, The Economist e Financial Times. Atacam a presidenta Dilma, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o governo “intervencionista” do Brasil. Num artigo, a The Economist chega a afirmar que o problema do liberalismo no Brasil é o voto obrigatório, porque assim os pobres vão votar, e eles gostam de Estado, que lhes garante direitos e favores.

Lembra os bons tempos (para eles) da UDN antigetulista, que pregava que o valor do voto deveria ser diferenciado, de modo a que o voto de um médico ou de um engenheiro deveria valer mais do que o de um operário ou trabalhador rural. Melhor exemplo de corporativismo fascista disfarçado de liberalismo empreendedor é impossível.

O outro tipo de ataque, menos politizado, mais disseminado, é ditado por um desejo ressentido de que o Brasil “volte ao seu lugar”. O Brasil de hoje é uma liderança no G-20. Na Organização Mundial do Comércio. De devedor, passou a credor dentro do FMI. Pasmem: credor da União Europeia, através do fundo de ajuda que o FMI deu e dá aos endividados países do continente (que os repassam ao tão ávido quanto abalado sistema financeiro).

Diante das necessidades pantagruélicas destes países e sistemas abalados e em clima de recessão, o Brasil até que deu pouco: uns US$ 300 milhões, frente às centenas de bilhões afundados nesta crise sem fim. Mas deu.

Mais: diante de um mundo que perdeu 60 milhões de postos de trabalho nos últimos poucos anos, o Brasil criou 16 milhões a mais, e no mundo formalizado, com carteira e tudo. O Brasil tem uma taxa de desemprego entre 5 e 6%, enquanto na Europa há países que amargam mais de 20%, sem falar entre os mais jovens, onde estas cifras chegam aos 40 e 50%.

É demais. No imaginário e na retórica, é necessário fazer com que o Brasil “volte a ser o que era”: um país só de pobres e miseráveis (não é mais), e que concentra tudo o de ruim que há no mundo: inaptidão, ineficiência, corrupção, violência, homofobia, falta de cultura (“o Brasil não tem cultura, só música e samba”, ouvi num debate recente), desprezo pelo meio ambiente, etc. etc. etc.

É o que mais se ouve na mídia aqui – na Alemanha e na Europa. Repete-se inclusive a besteira de que é um país que investe bilhões em estádios inúteis que deveriam ser investidos em escolas e saúde, esquecendo que o que garante investimentos sociais deste tipo é a diminuição da taxa de juros e do superávit primário – tudo aquilo que faz a alegria do capital rentista, que só pensa em mergulhar o país na ciranda financeira mundial e no redemoinho em que ele afundou grande parte dos países europeus, reduzindo a pó as conquistas e direitos da maioria dos seus cidadãos.

Os vândalos que compareceram aos fundos da embaixada do Brasil para apedrejá-la na calada da noite, covardemente, estavam respondendo a este clima de hostilidade criado contra nosso país.

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