Bola de cristal: o mundo em 2030

Blog do Velho Mundo

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De quatro em quatro anos o National Intelligence Council dos Estados Unidos elabora um relatório sobre “o estado da arte do futuro” a ser entregue ao presidente norte-americano depois de sua posse. O NIC, assim chamado na intimidade (Enaici, em inglês) é um órgão assessor do Director of National Intelligence (DNI), ele mesmo um assessor direto da presidência.

Pois o relatório deste ano, entregue ao presidente Barack Obama em janeiro, agora divulgado na internet, prevê um 2030 nada róseo para os Estados Unidos e seus parceiros.

O relatório é muito pouco assertivo, em geral. Prefere traçar molduras possíveis. Tipo: o que ocorrerá se o Irã desistir de seu programa nuclear? O que ocorrerá se ele não desistir? E assim por diante. Mas em alguns tópicos o relatório é muito assertivo.

1) Haverá um declínio generalizado do poder e da influência dos países do Ocidente (Estados Unidos e seus tradicionais aliados, o que, nesta altura, inclui o Japão) no mundo. Hoje estes países são responsáveis por 56% da atividade econômica mundial. Em 2030, abracarão apenas 25%. Uma queda vertiginosa, representando uma reversão de cinco séculos de tendência histórica, a partir do Renascimento.

2) Apesar de a economia chinesa superar a norte-americana em tamanho, o mundo será mais multipolar, com a formação de blocos continentais, em particular devido à atuação da China, Índia, Brasil e África do Sul. A Rússia é um caso à parte, pois já dispõe, pelo menos, de um ex-bloco regional. Estes blocos disputarão espaço com os Estados Unidos e a União Europeia. O peso e a influência desta declinarão em velocidade maior ainda, pondo em risco, inclusive, sua sobrevivência. A crise europeia, diz o relatório, deverá se estender pelo menos por dez anos.

3) 60% da população mundial estará vivendo em cidades, e a classe média será o maior grupo social do planeta, com 3 bilhões (35%) de pessoas numa população global de 8,4 bilhão (1 bilhão a mais do que a de hoje). Pela primeira vez na história da humanidade, os muito pobres não serão maioria. Na América Latina, o grande desafio continuará, no entanto, a ser o da diminuição das diferenças sociais.

4) Estas duas realidades combinadas determinarão um crescimento exponencial da demanda por educação, tratamento de saúde e também por alimento (35%), água (40%) e energia (50%), o que poderá servir de moldura para novos conflitos. Este cenário é desfavorável para o meio ambiente, mas, neste sentido, a América Latina será melhor poupada do que outras regiões do globo.

5) Haverá um crescimento na formação de “comunidades congregadas” supranacionais, como a “googlelândia”, a “twitterlândia”, a “facebooklândia”.  O poder estatal terá de conviver com estes espaços, além de haver uma repartição de poderes entre diferentes estados de influência em suas vizinhanças: além dos Brics, este será o caso, por exemplo, da Colômbia, Indonésia, Nigéria e Turquia.

Bom, vamos às conclusões laterais depois da leitura de um documento destes:

1) O mundo da nossa direita brasileira é muito pequeno, mesquinho, caduco e disparatado.

2) O Brasil está certo em apostar na multilateralidade da sua diplomacia, e em investir em contatos sul-sul.

3) É preciso acelerar o crescimento econômico latino-americano e a melhor distribuição de sua renda. Muita gente protesta, dizendo que é necessário parar de pensar em crescimento. Mas como não há, no horizonte próximo ou distante, uma perspectiva de substituição do padrão capitalista de produção, e como dentro deste ninguém pretende  abrir mão de nada, a única maneira de satisfazer as populações emergentes e seu crescente “envelhecimento” é fazer o bolo aumentar, como diziam os economistas hegemônicos nos anos 1970, mas dividindo desde logo, como eles não diziam nem queriam.

4) É preciso apostar pesado na formação e educação, para ter uma grande massa crítica capaz de navegar do universo das novas tecnologias. Sem isso, não só haverá um déficit de habilitação técnica, como também haverá um político: se poucos dominarem o acesso a essas tecnologias, estes tenderão a formar “castas de direita”, em detrimento dos outros “desfavorecidos tecnologicamente”.

Em todo caso, são previsões. Em 2030 eu completarei 83 anos, se o Patrão Velho lá de riba permitir, como se diz no sul do meu país. Quem me acompanhar verá.