Ainda Grécia: uma sugestão para a CUT e outras centrais

Nesta semana, o presidente grego, Karolos Papoulias, de 82 anos, reclamou acerbamente que o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, estava se referindo a seu país com desprezo e […]

Nesta semana, o presidente grego, Karolos Papoulias, de 82 anos, reclamou acerbamente que o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, estava se referindo a seu país com desprezo e escárnio. Reclamou também de holandeses e finlandeses. O motivo da reclamação foi o surgimento de comentários, em reunião de ministros da Fazenda, em Bruxelas, sede da União Europeia, segundo os quais se apontaria a porta da saída para a Grécia como a melhor solução para as agruras da zona do euro.

O comentário, de certa forma, procede. Digo de certa forma porque também não se pode negar (conforme meu comentário anterior, “Grécia: o tamanho do buraco”, aqui no blog) que há um pânico potencial em torno da idéia desse país deixar o euro, provocando uma quebradeira geral do sistema bancário.

Mas há no ar uma sugestão de que “os gregos é que fizeram tudo errado”, e agora recalcitram diante da necessidade de admitir e aplicar as medidas catastróficas dos planos de “austeridade”. A nova versão dessa sugestão é a de que os 130 bilhões da próxima ajuda seriam repassados à Grécia a conta-gotas, em “depósitos vinculados”, por assim dizer, isto é, com destino certo, ou seja, na maior parte, o bolso (ou os arquivos virtuais) dos credores. Como acabou acontecendo no caso do primeiro repasse, de 110 bilhões de euros (o próximo é de 130), de que a Grécia só ficou com 22: o resto foi para os credores, bancos, hedge funds, e outros investidores. A Grécia foi apenas o ralo por onde aqueles bilhões se escoaram para o saco sem fundo dos mercados financeiros.

Essa situação humilhante também tem eco na “vox populi” corrente, insuflada por grande parte da mídia: os gregos é que foram incompetentes, gastadores, perdulários, gananciosos, mimados, sobretudo os mais fracos, isto é, trabalhadores, aposentados, carentes, funcionários públicos, que viviam um carnaval acima de suas posses.

Tudo isso provoca uma corrente de ressentimentos que tende a estimular os confrontos e ódios nacionais, em lugar da solidariedade internacional. Isso é péssimo: joga água e farinha nos moinhos da direita. Nas próximas eleições, a serem realizadas em abril, o partido de direita Nova Democracia, deve ser o mais votado, com um pouco mais do que 30 % dos votos. Os partidos ditos de esquerda devem somar 50% no total, mas isso não quer dizer que possam formar uma coalizão de governo, tal é o tamanho de suas divisões.

Enquanto isso, a Grécia vive uma situação dramática. Atenas tem um pouco mais do que 3 milhões de habitantes e 25 mil moradores de rua. São Paulo, com quase 11 milhões, tem um pouco mais do que 14 mil – 28% dos cidadãos gregos vivem na ou abaixo da linha da pobreza. É o mesmo percentual do que o do Brasil, segundo o índice do Ipea, que avalia só a renda per capita. Mas se o índice for o da Umesco, chamado de “multidimensional”, o percentual cai para 8,5% porque avalia além da renda o acesso a saúde, educação, saneamento etc. Agrava a situação grega o fato de que um grande número daquele percentual vivia em condições razoáveis de emprego,moradia, saúde etc, até 4 anos atrás.

Na Grécia há um número telefônico – 1018 – que as pessoas podem chamar se se sentirem tentadas a cometer um suicídio. Em 2010, houve 2.500 chamados; em 2011, 5 mil. A taxa de suicídios na Grécia subiu para seis anuais para cada 100 mil habitantes.

Diante desse quadro devastador, está na hora de surgirem “Jornadas de Solidariedade” com os trabalhadores eo povo grego por parte de centrais sindicais, sindicatos, movimentos sociais, etc. Assumam a forma que quiserem ou puderem: orações, passeatas, cartas, mensagens na internet, minutos de paralisação. Nossas centrais brasileiras, latino-americanas, deveriam puxar tais jornadas, sugerindo às outras que as assumam também, sobretudo na Europa.

Afinal nós, da América Latina, devemos muito à solidariedade desenvolvida na Europa durante as ditaduras que enfrentamos. Está na hora de retribuirmos.