Grécia: um torpedo no meio do caminho – 2

Sarkozy e Ângela Merkel consideravam que tinham sido bem sucedidos em negociação, mas foram surrependidos quando Papandreou decidiu começar a fazer política (Foto: © Christian Hartmann/Reuters) Era para ser a […]

Sarkozy e Ângela Merkel consideravam que tinham sido bem sucedidos em negociação, mas foram surrependidos quando Papandreou decidiu começar a fazer política (Foto: © Christian Hartmann/Reuters)

Era para ser a festa de Sarkozy. Não está sendo. Apesar dele estar tentando recuperar o pódio.

Depois da festa em torno de Ângela Merkel, pelo “sucesso” em conseguir um “acordo” na zona do euro em torno do Fundo de Estabilidade, do corte na dívida grega, e da “aceitação” por parte da Grécia, de mais “austeridade” em troca de mais “ajuda” para, no fundo, não permitir que os bancos se vejam em maus lençóis, era a vez de Sarkozy brilhar na presidência do G20. Sarkozy precisava disso: sua popularidade está lá embaixo, há eleições no ano que vem, a “libertação” da Líbia, com decisiva participação dos Rafales que a Dassault quer vender ao Brasil, não lhe rendeu os dividendos esperados nas pesquisas de opinião.

Mas… tinha uma Grécia no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma Grécia. O anúncio, por parte do primeiro ministro grego Georges Papandreou, de que pretendia realizar um plebiscito – no fundo sobre se a Grécia permanece ou não na zona do euro – roubou a cena de Sarkozy. Aliás, roubou quase tudo, além da cena: a coreografia, o bastidor, a plateia inteira. Sarkozy ficou sem roteiro, para não dizer sem rumo. Ainda na quarta à noite Sarkozy, Merkel e mais gente graúda se reuniram com Papandreou para tentar dissuadi-lo do plebiscito. Não conseguiram. Papandreou saiu dizendo que iria antecipar o plebiscito para dezembro. No fim desistiu mesmo, devido ao racha que a proposta provocou no seu partido. Agora ninguém sabe o que vai acontecer com ele nesta sexta-feira. Enquanto isso, Sarkozy tenta capitalizar o recuo de Papandreou, dizendo que foi ele quem convenceu o PM grego a desistir.

A situação de Papandreou está por um fio. Mas pode-se dizer que em três dias ele fez o que se recusou a fazer durante ano e meio, que é o prazo em que ele vem engolindo sapos de Sarkozy e Merkel, e fazendo o seu povo grego engolir os purgantes amargos dos pacotes de austeridade que não levaram a nada que não fosse a inanição da economia grega e o desalento e/ou fúria das ruas de Atenas: Política. Acabou recuando devido à confusão interna de seu partido, pressionado também pela ameaça de que a próxima parcela da “ajuda” do FMI/Fundo de Estabilidade (8 bi de euros) não seria entregue. Além disso Papandreou alega que, embora a oposição lhe permaneça hostil, suas principais lideranças concordaram em aprovar o pacote de estabilidade, coisa que não acontecia antes.

 

O governo de Papandreou pode cair ou ficar. De quinta para sexta ninguém sabe, ninguém viu. Pode se formar um novo governo de transição, sem Papandreou. A oposição conservadora até agora não aceita um governo de unidade nacional: quer eleições, certa de que vai ganhar. Em Cannes os BRICS se comprometem a ajudar a combalida Europa.

“Tudo é nevoeiro”, como dizia o Fernando Pessoa em “Mensagem”.

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