Grandes perguntas e algumas respostas sobre a pequena Eslováquia

A primeira ministra da Eslováquia, Iveta Radicova, líder da coalização que governava o país (Foto: ©European Council) 1) O que é a Eslováquia? É um país remanescente da antiga Tchecoslováquia, […]

A primeira ministra da Eslováquia, Iveta Radicova, líder da coalização que governava o país (Foto: ©European Council)

1) O que é a Eslováquia? É um país remanescente da antiga Tchecoslováquia, desfeito após a queda do comunismo e o colapso do bloco do Leste Europeu e do Pacto de Varsóvia. Tem 5,5 milhões de habitantes (algo como o Rio de Janeiro, um pouco menos) e produz 0,5% do PIB da Europa. Limita com a Hungria, a Áustria, a República Tcheca, a Polônia e a Ucrânia.

 2) Como é o seu governo? Em primeiro lugar, era. O governo acaba de cair. O presidente Ivan Gasparovic deve nomear um governo interino. A primeira ministra Iveta Radicova, uma socióloga de 54 anos da União Democrata Cristã, deve continuar chefiando um governo provisório até a indicação do interino. As próximas eleições deverão se realizar na primavera, no ano que vem. Ela liderava uma coalizão de quatro partidos de direita.

3) Por que o governo caiu? Porque um dos partidos da coalizão, o neoliberalíssimo Partido da Liberdade e da Solidariedade, liderado por Richard Sulik, resolveu tirar o tapete debaixo dos pés da primeira ministra Iveta, se abstendo numa votação crucial, que ela havia vinculado a um voto de confiança no seu governo.

4) Quem é esse Sulik? É um político de direita, responsável por uma política de construção da desigualdade nesse território antigamente comunista (o que não significa que houvesse igualdade). É dele, assessor de economia que foi de governos anteriores, a proposta implementada de se adotar um imposto de renda único de 19% no país, bem como uma “value added tax” (equivalente a uma soma dos brasileiros IPI, ICMS e ISS, ou seja imposto sobre produção e circulação de mercadorias e de serviços), chamada de VAT, de 19%, tudo isso para atrair investimentos estrangeiros.

5) Por que ele resolveu se desligar do governo? Porque a votação em pauta dizia respeito à ampliação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, um fundo criado para socorrer países em dificuldades para pagar a sua dívida, como a Grécia, e que os principais países da Zona do Euro (Alemanha e França) queriam estender para socorro aos bancos. Foi uma maneira de implodir o governo de que fazia parte visando melhorar sua posição. O argumento lançado por ele –  “acabamos de poupar 300 bilhões de euros ao contribuinte europeu” – deve ser visto com reservas.

6) Por que? Porque não é verdade. A matéria vai ser votada de novo no parlamento de Bratislava (a capital) ainda esta semana, e deverá ser aprovada. O SMER – Partido Social Democrata, de oposição –, que tem um grande número de parlamentares, deverá votar a favor, agora que o governo caiu. A votação foi curiosa, para dizer o mínimo: 55 votos a favor, nove contra, 60 abstenções e 26 ausências. Agora, com os votos do SMER, a medida deverá ser aprovada, pelo menos se os 55 que votaram a favor mantiverem a posição. Na quinta-feira (13) de fato foi anunciado um acordo entre o governo provisório de Iveta Radicova e o SMER para voltar a votar a matéria, aprovando a expansão do fundo.

7) Se isso não acontecesse e a proposta voltasse a ser derrotada, o que aconteceria? Uma possibilidade seria a dos restantes países da Zona do Euro passarem por cima da Eslováquia e cobrirem o montante com que ela deveria entrar, cerca de 7,7 bilhões de euros, 12% do seu PIB anual. Isso já aconteceu antes, quando o país decidiu não participar da primeira ajuda à Grécia, no valor total de 110 bilhões de euros. A Eslováquia deveria entrar com 800 milhões. Pelos números envolvidos, a situação agora é diferente. Para repartir a nova conta, uma nova rodada de votação entre os demais seria necessária. Ou então a Alemanha e a França teriam de cobrir a diferença, algo impopular nos seus países.

8) A Eslováquia vai sofrer alguma sanção? Não. Na situação atual isso só ampliaria as frinchas na Zona do Euro, coisa que Alemanha e França não querem. Só houve uma declaração, misto de apelo e puxão de orelhas, por parte dos presidentes da Comissão Européia, José Manuel Barroso, e do Conselho Europeu, Herman van Rampuy, no sentido de que os partidos eslovacos se compenetrassem e votassem de acordo com a gravidade da situação.

9) O que tudo isso mostra? A fragilidade da política do euro, mais uma vez, que mostra sua vulnerabilidade frente às injunções de políticos populistas de direita, tipo Sulik, e a inconsistências de governos mal enjambrados, como o de Radicova. Mostra também que a “solidariedade européia” está em baixa, e que visões míopes, como as de Sulik, disfarçadas de “grandes valores”, como a “proteção ao contribuinte”, podem prevalecer e cegar a visão dos horizontes.

10) E o Brasil com tudo isso? Vai bem, obrigado. Mas deve se precaver. Um derretimento do euro terá conseqüências muito negativas no nosso país, pelo menos num primeiro momento, porque emperrará importações e exportações em escala mundial. A melhor opção, no momento, seria a Grécia fazer uma reestruturação controlada da sua dívida, com a concordância dos demais países da Zona do Euro. Mas isso é muito difícil. Por isso, cautela, caldo de galinha e reforço dos investimentos públicos e do mercado interno nunca fizeram mal a ninguém.

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