O Tea Party e a patologia da política norte-americana

Líderes republicanos ouvem Obama no Congresso: desprezo, tédio, incredulidade, sarcasmo nas faces (Foto: Flavio Aguiar) A eleição de Barack Obama em 2008 jogou a direita norte-americana numa crise de identidade. […]

Líderes republicanos ouvem Obama no Congresso: desprezo, tédio, incredulidade, sarcasmo nas faces (Foto: Flavio Aguiar)

A eleição de Barack Obama em 2008 jogou a direita norte-americana numa crise de identidade. A ascensão dos políticos do Tea Party é fruto dessa crise.

Eles – os Tea Party – não são novos na política norte-americana nem no Partido Republicano. Mas o seu novo poder sim, bem como a força demonstrada na discussão da dívida pública do governo federal dos EUA. Essa força será renovada na próxima discussão, que se inicia dentro de algumas semanas, sobre o orçamento federal do próximo ano.

Os Tea Party são, como pesquisa recente divulgada no Washington Post mostrou, na maioria brancos, religiosos com uma retórica religiosa na política, fundamentalistas em termos de defesa da liberdade de mercado, extremamente reacionários em matéria de política externa e de muito mais que se possa imaginar. Numa palavra, são remanescentes do antigo segmento que se chamava WASP: White Anglo-Saxon Protestant, que se opunha às lutas por direitos civis, sustentava a guerra do Vietnã, era abertamente racista, etc..

Trouxeram uma relativa novidade: um “feminismo de direita”. Isso explica a ascensão de personagens como a ex-governadora do Alaska Sarah Palin e Michelle Bachmann, deputada federal por Minnesota, que disputa agora a indicação à candidatura presidencial pelo Partido Republicano.

Esses setores reacionários ao ponto do grotesco e da tolice bufa não perdoaram  a cúpula tradicional do PR por ter ela ela “permitido” a “aberração” da eleição de Obama, um negro, acusado de “muçulmano disfarçado”, “socialista”, “não-americano”, etc. Decidiram tomar o destino do partido nas mãos, quero dizer, nos dentes, e sair galopando com objetivo de deter essa “comunização” do país. Para eles, Obama só pode ser objeto de ódio ou desprezo.

Esse ímpeto projetou as mulheres nesse grupo: são elas portadoras por excelência de uma retórica “familiar religiosa” que agrada a extrema-direita dos EUA. Na verdade, a retórica anti-governamental do grupo inteiro é consequência e não pedra fundamental das suas concepções. Ela vem embolada numa defesa do individualismo, da criminialização do aborto, do fim do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e agora numa investida contra os cientistas que, segundo eles, “conspiram” para lançar a tese do aquecimento global como conseqüência da ação humana: gigantesca conspiraçào, que envolve 98 % dos cientistas do mundo inteiro, distribuídos em bem mais do que uma centena de países. Melhor e maior que esta, só a antiga conspiração judaico-comuno-maçônica dos anos 30.

A retórica é tal que forçou um dos candidatos a candidato, o ex-governador de Massachussets, Mitt Romney, a tergiversar sobre o aquecimento. Antes engrossara o coro dos que apontavam os riscos das emissões multiplicadas de CO2 na atmosfera. Agora, diante dos ataques de Bachmann e de outro candidato, Rick Perry, o governador do Texas, à “conspiração global dos cientistas para obter mais verbas” (sic), ele saiu-se com um “não sei” quando interrogado sobre a pertinência do tema.

Por outro lado, a força e a coesão demonstrada pelos Tea Party na discussão da dívida pública norte-americana evidenciou seu ponto fraco: levado um deles – sobretudo Bachmann ou Perry – à condição de candidato republicano, seu sectarismo fundamentalista pode afugentar eleitores moderados em direção a Obama. Nesse sentido, o que de melhor aconteceu para o presidente nos últimos tempos foi a vitória de Bachmann na prévia do estado de Iowa neste agosto. Romney seria um candiato mais perigoso contra Obama, que vem tentando desempenhar o papel do “bom moço” que prefere negociação a confronto.

Talvez demais, conforme críticas que vem recebendo de seus apoiadores.

A seguir, não perca: Obama: o homem mais poderoso do mundo ou prisioneiro de guerra?

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