Japão: nada muito novo sob o sol

Yukio Hatoyama é egresso do agora derrotado Partido Liberal Democrata. Mas resultado eleição mostra que o credo neoliberal, até há pouco hegemônico, trincou, rachou

Cartaz de campanha de Hatoyama: desafio é acomodar facções de seu partido no governo (Foto: Reprodução)

A vitória do Partido Democrático do Japão nas recentes eleições parlamentares naquele país puseram fim a uma hegemonia de 54 anos do conservador Partido Liberal Democrata. O PLD tinha até a semana passada 300 cadeiras das 480 da Câmara de Deputados, embora já tivesse perdido a maioria na Câmara Alta. Agora ficou com 119. Já o PDJ pulou para 308 cadeiras.

O líder do PLD, Taro Haso, assumiu a responsabilidade pela derrota do seu partido. Entretanto seu gesto fica mais por conta de cortesia e elegância na derrota, já que o fracasso foi do partido como um todo e de sua adesão indiscriminada nas últimas décadas ao ideário e às políticas neoliberais, que levaram o Japão a uma de suas piores crises econômicas da sua história.

Entretanto nada de muito novo brilha na política do país do sol nascente. O líder do partido vitorioso, Yukio Hatoyama, é um egresso do PLD, tendo saído deste na década de 1990 por discordar das reações timoratas da agremiação diante das repetidas denúncias de corrupção que seguidamente abalaram a política japonesa.

O PDJ reúne políticos de extração conservadora, liberal e social-democrata. Muitos são considerados “rebeldes” que saíram do PLD. Das seis correntes que convivem no partido, desde sua fundação em 1998, apenas uma se apresenta como “à esquerda”, e esta ficou com 20 das 308 cadeiras conquistadas.

Assim mesmo, a eleição é um sinal dos tempos, e importa ver também o que ela sinaliza como tendência ou mudanças no corpo do eleitorado japonês. Dos 480 deputados dessa legislatura, 158 são marinheiros de primeira viagem, numa renovação alta, quase 33%. Fazem parte do parlamento 54 mulheres, um número recorde. Dessas, 40 pertencem ao PDJ.

A expectativa é grande sobre se o novo primeiro ministro, que tem duas semanas para apresentar seu novo governo, conseguirá acomodar as facções de seu partido de modo a corresponder às promessas com que acenou: aumento do salário mínimo (que no Japão é regional), auxílio direto às famílias e cidadãos empobrecidos pela crise, mudança no custo da educaçào, com acenos de gratuidade no ensino médio público, aumento dos investimentos em seguridade social, fortalecimento do consumo interno, maior independência em relação aos Estados Unidos na política externa, e uma reforma tributária que desonere os trabalhadores.

De qualquer modo, qualquer que seja a expectativa ou a descrença no novo governo, uma coisa é certa: a eleição japonesa mostra que para largas parcelas da população mundial o credo neoliberal, até há pouco hegemônico, trincou, rachou, e deixou de ser, no mínimo, uma certeza. Os que nele apostaram irrestritamente estão pagando o que semearam: o desastre.