Na ponta dos mísseis

Acordo de redução de ogivas nucleares entre Rússia e Estados Unidos tem entraves para avançar. Cada país deve manter 2 mil bombas

Obama com Medvedev e as respectivas primeiras damas. Ogivas no caminho (Foto: Pete Souza/Casa Branca)

A visita do presidente dos EUA, Barack Obama, à Rússia, que começou na segunda-feira (6) e vai esta quarta (8), tem uma pauta carregada. Ela antecede a reunião do G-8, na Itália, em que se reúnem, sempre sob forte proteção policial, além do país anfitrião, os Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha, França, Japão e Rússia, que começa nesta quinta (8). Obama vai se reunir com o presidente Dmitry Medvedev e com o primeiro ministro Vladimir Putin que, para os analistas políticos dos principais jornais europeus, continua a ser o homem forte na Rússia.

O item mais espinhoso em pauta, no momento, diz respeito ao pacto de redução de ogivas nucleares entre os dois países, conhecido como “Start 1”, de 1991. Os EUA e a Rússia detém 90% do armamento nuclear mundial, que é compartilhado com a França, Grã-Bretanha, Índia, China, Paquistão, Coreia do Norte e Israel (país que nunca admitiu ter armas nucleares, mas que é citado como tal em todas as publicações sobre o tema). O polêmico Irã ainda não é citado como tendo essas armas, apenas como possivelmente a caminho de tê-las, embora também negue essa intenção.

Os Estados Unidos têm mais de 5 mil ogivas, e a Rússia, mais de 4 mil. Pela proposta do Start 1 esses números baixariam para 2 mil em cada país. E há discussões em curso que poderiam baixá-los ainda mais, para uma cifra entre 1.500 e 1.700.

Entretanto há dois grandes problemas no caminho. O primeiro diz respeito ao próprio plano de desarmamento. Não há acordo sobre o número de “aparelhos de lançamento” dessas ogivas, o que inclui mísseis de alcance intercontinental, mísseis submarinos e bombardeiros. A Rússia defende um número em torno de 600; os Estados Unidos de mil. E também não há acordo no que se refere ao chamado “potencial de retorno”. A Rússia quer a desativação permanente das ogivas; já os Estados Unidos até agora falaram mais no “desarme” das ogivas. Isto é, elas poderiam ser reativadas, caso necessário.

Mas o problema mais grave no momento é o da construção de bases da Otan, para mísseis e ogivas, na Polônia e na República Tcheca, áreas que antes pertenciam à zona de influência da extinta União Soviética. Segundo o governo norte-americano anterior, essas bases atenderiam à necessidade de defesa da Europa e da Otan diante do lançamento de mísseis por parte do Irã. Entretanto sabe-se que pelo menos de momento o Irã não dispõe de mísseis com esse alcance, e a Rússia argumenta que essas bases fazem parte de uma estratégia da Otan para cercá-la, como herança ainda da Guerra Fria.

Com essas pedras (ou ogivas) no meio do caminho, prevê-se que seja difícil que os governantes saiam das reuniões com algum acordo definido e para valer, a não ser no sentido de que as discussões devam continuar. Além desse tema, certamente haverá conversações sobre o Irã (que a Rússia define como “parceiro”), Coreia do Norte, Oriente Médio e a crise financeira mundial.