Desalento

Pastor Ariovaldo Ramos: o ‘dia não’ e um lamento pelo Brasil

Seu Moisés, que morreu em uma loja do Carrefour em Recife, deveria estar em casa, afinal, deveríamos todos estar em quarentena enfrentando uma pandemia. A comunicação oficial da empresa poderia ter dito a realidade dos fatos, que é: Isto é o capitalismo!

REPRODUÇÃO/TWITTER
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O caso aconteceu na última sexta-feira (14), mas ganhou repercussão nas redes sociais, nesta quarta-feira (19), quando a foto do caso foi divulgada

Dia 14 de agosto de 2020, “seu” Moisés, de 53 anos, representante de vendas de uma empresa de alimentos, fornecedora do Carrefour, estava na loja da rede em Recife, a trabalho, quando, de um mal súbito, veio a falecer.

Foi um infarto!

Seu corpo ficou no local de sua morte das 7h30 até as 11h00. Segundo a loja, esperando a chegada do IML.

O supermercado estava cheio e isolaram o corpo no corredor, entre caixas de mercadorias, e cobriram o corpo com guarda-sóis, e a loja continuou a funcionar.

Me lembro do cantor e compositor que cantou: “Morreu na contramão, atrapalhando o trânsito!”

Certamente, o “seu” Moisés não se preparou para aquilo, como o trabalhador da música “Construção” parece ter se preparado, tornando o corriqueiro em despedida.

Mas, o seu Moisés deveria estar em casa, afinal, deveríamos todos estar em quarentena, deveríamos estar enfrentando uma pandemia.

De fato, estamos numa pandemia, esperando a morte chegar, não como um outro compositor sugeriu… não estamos trancados num apartamento… se estivéssemos trancados a morte teria dificuldade para chegar.

Estamos nas empresas, nas ruas, nos transportes públicos, onde não deveria estar ninguém.

E o “seu” Moisés morreu no dia não, no dia de tributo ao capital.

A empresa Carrefour admite a inépcia, inclusive responde a internautas com atenção.

A comunicação oficial da empresa poderia ter dito a realidade dos fatos, que é: Isto é o capitalismo!

A roda não pode parar, tudo mais deve ser desconsiderado.

E o Estado brasileiro não está ocupado com os trabalhadores, não seguiu as normas sanitárias, não usou o orçamento que dispõe para o combate à epidemia e não conteve o mercado.

Por isso o “seu” Moisés não pode ficar em sua casa onde não estaria no chão, exposto à indisfarçável curiosidade pública para a qual não há disfarce ou isolamento que chegue.

Nossos sentimentos à família enlutada!

Nosso lamento pelo Brasil!