Pastor Ariovaldo Ramos: o ‘dia não’ e um lamento pelo Brasil
Seu Moisés, que morreu em uma loja do Carrefour em Recife, deveria estar em casa, afinal, deveríamos todos estar em quarentena enfrentando uma pandemia. A comunicação oficial da empresa poderia ter dito a realidade dos fatos, que é: Isto é o capitalismo!
Publicado 23/08/2020 - 09h39
Dia 14 de agosto de 2020, “seu” Moisés, de 53 anos, representante de vendas de uma empresa de alimentos, fornecedora do Carrefour, estava na loja da rede em Recife, a trabalho, quando, de um mal súbito, veio a falecer.
Foi um infarto!
Seu corpo ficou no local de sua morte das 7h30 até as 11h00. Segundo a loja, esperando a chegada do IML.
O supermercado estava cheio e isolaram o corpo no corredor, entre caixas de mercadorias, e cobriram o corpo com guarda-sóis, e a loja continuou a funcionar.
Me lembro do cantor e compositor que cantou: “Morreu na contramão, atrapalhando o trânsito!”
Certamente, o “seu” Moisés não se preparou para aquilo, como o trabalhador da música “Construção” parece ter se preparado, tornando o corriqueiro em despedida.
Mas, o seu Moisés deveria estar em casa, afinal, deveríamos todos estar em quarentena, deveríamos estar enfrentando uma pandemia.
De fato, estamos numa pandemia, esperando a morte chegar, não como um outro compositor sugeriu… não estamos trancados num apartamento… se estivéssemos trancados a morte teria dificuldade para chegar.
Estamos nas empresas, nas ruas, nos transportes públicos, onde não deveria estar ninguém.
E o “seu” Moisés morreu no dia não, no dia de tributo ao capital.
A empresa Carrefour admite a inépcia, inclusive responde a internautas com atenção.
A comunicação oficial da empresa poderia ter dito a realidade dos fatos, que é: Isto é o capitalismo!
A roda não pode parar, tudo mais deve ser desconsiderado.
E o Estado brasileiro não está ocupado com os trabalhadores, não seguiu as normas sanitárias, não usou o orçamento que dispõe para o combate à epidemia e não conteve o mercado.
Por isso o “seu” Moisés não pode ficar em sua casa onde não estaria no chão, exposto à indisfarçável curiosidade pública para a qual não há disfarce ou isolamento que chegue.
Nossos sentimentos à família enlutada!
Nosso lamento pelo Brasil!