memória falha

Rodrigo Maia chora pelo Rio, mas ‘esquece’ culpa de governos como do seu pai, Cesar

Além do ex-governador Sergio Cabral (PMDB), ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM-RJ) também é culpado pela crise econômica e social que assola o estado

DEM-RJ

Conhecido como ‘mago das finanças’, Cesar Maia (dir) já foi condenado por improbidade fiscal quando foi prefeito do Rio

Numa cena demagógica regada a altas doses de oportunismo, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e provável candidato a governador do Rio de Janeiro em 2018, chorou ao ratificar, na terça (5), a entrada do Rio no regime de recuperação fiscal.           

“É uma emoção muito grande poder participar desse momento”, disse Maia, que atuou nos bastidores para garantir que o acordo fosse assinado enquanto ele ocupava a cadeira do outro golpista Michel Temer, que estava no trem da alegria à China. 

Mas essa “mão estendida” requer contrapartidas duras. E isso, Rodrigo Maia omitiu. A homologação do arrocho ataca os direitos dos servidores e esfola o povo fluminense, impõe uma austeridade fiscal de R$ 63 bilhões ao estado, em troca de um pacote de maldades: privatizações, arrocho aos servidores públicos e fim dos investimentos.

O documento prevê a privatização da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), além de aprofundar a entrega de patrimônio público do estado ao setor privado. O parecer da União propõe também a extinção de empresas públicas, além da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) e a demissão de comissionados e servidores ativos, além de aumento da contribuição previdenciária.

Ou seja: Rodrigo Maia “soluçou de emoção” ao dar empréstimo para uma cidade e um estado mergulhados no caos econômico, político e social, depois de anos de irresponsabilidades cometidas por governantes, inclusive pelo ex-prefeito do Rio e atual vereador Cesar Maia (DEM), que nada mais é do que seu pai.

Não é preciso ir ao fundo do baú para relembrar alguns escândalos ligados a Cesar Maia quando prefeito. Outros casos ainda estão sendo investigados. Mas os  Maia são espertos. Por exemplo: em 2012, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou o bloqueio dos bens do ex-prefeito, para garantir a devolução aos cofres públicos de dinheiro desviado em obras superfaturadas.

Mas pode-se até perguntar “que bens?”, já que Cesar Maia declarou patrimônio zero à Justiça Eleitoral quando se lançou candidato a vereador.

Um cidadão desavisado poderia ficar comovido. Como um político que já foi prefeito três vezes da segunda maior metrópole do Brasil, além de deputado e agora vereador, chegou a esse ponto da carreira numa pindaíba danada? Mas não é essa a realidade.

Conhecido no Rio como um “mago das finanças” – das próprias, é claro –, chama a atenção que Maia tenha construído um invejável patrimônio depois de ingressar na vida pública, em 1996. Foi nessa época que ele passou a comprar imóveis em condomínios altamente sofisticados, com valores sempre acima de R$ 1 milhão.

Atualmente, aliás, o ex-prefeito mora em um apartamento de alto luxo, avaliado em pelo menos US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 4,5 milhões, segundo avalistas da Bolsa de Negócios Imobiliários do Rio de Janeiro).

Só que ele transferiu seu milionário patrimônio em imóveis para o nome de parentes, entre eles o filho, Rodrigo Maia e a filha, Daniela Maia. Antes de serem transferidos, o pai Cesar já havia declarado à Receita Federal algumas dezenas de apartamentos em bairros nobres do Rio, com valores de IPTU entre os mais caros da cidade. 

Quando questionado sobre as transferências, o vereador “explicou” que, “normalmente” por volta dos 65 anos, executivos que têm vasto patrimônio costumam repassar suas posses aos filhos, esposa e netos. “Como minha saúde não era perfeita, comecei a transferir os bens com 50 anos de idade. É mais prático que testamento”, declarou.

Porém, Cesar Maia deixou de informar que responde por vários processos de improbidade administrativa, na justiça federal e também na estadual. Ele já chegou a ser condenado em alguns desses casos, mas recorreu e aguarda novos julgamentos. Condenações em última instância, quando que não houver mais como recorrer, levariam à perda destes bens, caso estes continuassem em seu nome.

Os processos vão desde maracutaias na construção da chamada Cidade da Música, com denúncias de superfaturamentos e violações de normas, passando por transferência de verbas públicas para uma ONG de seu subsecretário de meio-ambiente, a construção de igreja privada com dinheiro público, e até o pagamento de milhões – em dinheiro – pela prefeitura à Liga das Escolas de Samba, considerados em duplicidade, o que deflagrou o bloqueio de seus bens.

Apesar dos processos, acusações e condenações, Cesar Maia, que diz não ter boa saúde, não desistiu do osso. Em 2014, ele tentou concorrer ao senado pelo estado do Rio, mas teve sua candidatura barrada no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) pela lei da ficha limpa. O pai de Rodrigo Maia já estava condenado e inelegível por improbidade administrativa porque quando era prefeito desviou dinheiro público para financiar a construção de uma igreja privada com dinheiro público. A sentença suspendeu os direitos políticos de César Maia por cinco anos e obriga a ressarcir aos cofres públicos o valor gasto com a obra.

Ficam algumas perguntas: a justiça tem como alcançar os bens transferidos para parentes de Cesar Maia, como os filhos, Rodrigo e Daniela Maia? E tem como punir, caso ise comprove ter sido uma manobra planejada? E se o ex-prefeito administrasse as finanças do Rio como cuida de seu patrimônio pessoal, será que a cidade enfrentaria tantos e tão graves problemas, tais como esses que acabaram determinando a choradeira do seu filho, o presidente da Câmara?