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Operação Carne Fraca: PF devia ser punida por atentar contra o interesse nacional

Ação espetaculosa da Polícia Federal generalizou acusações sobre adulterações cometidas por alguns frigoríficos e pode quebrar mais um setor relevante da economia brasileira e levar a mais desemprego

Por que nunca se viu a PF fazer uma operação em setores controlados pelo capital estrangeiro?

Brasil 247 – Em um país onde o interesse nacional fosse um valor forte e compartilhado por todos os cidadãos e instituições, a Operação Carne Fraca não teria acontecido da forma como aconteceu. A investigação e a punição de irregularidades sanitárias poderia ter acontecido sem ameaçar o terceiro produto mais importante na pauta de exportações. Mas tendo acontecido como aconteceu, o governo já teria censurado a Polícia Federal pelos erros cometidos e pedido providências contra os responsáveis. Isso faria um governo sem rabo preso, que não temesse a Lava Jato, da qual a PF é sócia importante.

“Irresponsável”. Vinda do presidente da Sociedade Rural Brasileira, esta foi a condenação mais forte à espetaculosa Operação que, ao generalizar acusações sobre adulterações cometidas por alguns frigoríficos,  levou os principais importadores da carne brasileira a  suspender compras e até a embargar conteiners já desembarcados, como fez a China.

Não partiu do governo, que está tentando apagar o incêndio mas não ousa dizer o que precisa ser dito: a Polícia Federal, com seu hábito de generalizar, espetacularizar e buscar sempre os holofotes da mídia, atentou contra o interesse nacional. Já sabemos, por exemplo, que a PF falou em adição de papelão a embutidos, quando na verdade o que se discutia, na conversa grampeada, era formatos de embalagem.

Já sabemos que o uso de ácido ascórbico em carnes conservadas, como linguiças e salsichas, é normal, dentro de doses corretas. Tal como foi dito, pareceu uma trapaça dos frigoríficos. E nem se trata de produto cancerígeno. Em excesso, o ácido ascórbico pode prejudicar os rins, mas não é carcinogênico.

Em nenhum país do mundo, as irregularidades apuradas ou investigadas teriam sido lançadas ao vento midiático sem a presença de técnicos do Ministério da Agricultura, que teriam posto pingos nos is e feito avaliações técnicas preliminares. Da forma como foi feito, quem olhou de fora viu um país ateando fogo às vestes.

Só com a queda de ações dos principais frigoríficos o prejuízo já foi de mais de R$ 7 bilhões. Se houver embargo às exportações brasileiras, “vai ser um desastre”, disse o ministro da Agricultura, Blairo Maggi. O desastre, se vier, afetará a balança de pagamentos, o nível de divisas e o de emprego.

Milhares de empregos serão perdidos se houver uma quebradeira no setor, o exemplo das milhares de vagas já fechadas pelas construtoras atingidas pela Lava Jato. Um trabalho de muitos anos foi jogado fora e terá que ser refeito, com muito esforço, pelos produtores, o Ministério da Agricultura e o Itamaraty.

Deve haver um jeito de combater a corrupção sem desestruturar setores estratégicos da economia. Por outro lado, nunca se viu a PF fazer uma operação em setores controlados pelo capital estrangeiro, e que atuam sob fiscalização frouxa. Por exemplo, que tal fiscalizar as mineradoras estrangeiras que atuam nos garimpos de ouro e diamante?  Ninguém sabe ao certo quanto retiram do subsolo brasileiro,  e pagam os pagam os impostos segundo o que declaram ter extraído.