dois pesos

Usado pelo MPF para acusar Lula, powerpoint foi proibido para a defesa do PT no Mensalão

Duas medidas. Recurso audiovisual poderia ter criado imagens favoráveis ao PT na mídia, assim como foi usado pelo MPF para aprofundar imagem negativa do ex-presidente

Rodrigo Félix Leal/Futura Press/Folhapress

Procurador Dallagnol, durante exposição de denúncias contra Lula, usa recurso audiovisual que já foi negado à defesa do PT

A já histórica espetacularização da denúncia contra Lula, produzida pelo MPF em Curitiba teve até mestre-de-cerimônias, num luxuoso auditório de um hotel privado e luxuoso na região central da capital paranaense, integrantes da “mesa apresentadora” identificados por placas com nome e sobrenome e transmissão por diversos canais de TV. Além de toda a pompa e circunstância, chamaram a atenção as declarações incisivas – e inconsistentes – do procurador chefe da Força Tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, que concluiu a sessão deixando claro que acusava baseado em convicções, em vez de em provas, e também pela simplória apresentação de slideshows em Powerpoint, que fez o promotor e sua equipe serem inspiração para uma enxurrada de “memes” nas redes sociais.

E sobre o audiovisual produzido para acusar o ex-presidente, numa clara tentativa de criar imagens para a “grande” mídia, vem uma pergunta: Para a Lava Jato, pode Power Point?

    Isso porque, às vésperas do início do julgamento da chamada Ação Penal 470, o também histórico “mensalão”, o STF proibiu advogados de defesa dos réus (a grande maioria de quadros do PT, todos lembram) de usar a apresentação de imagens projetadas para demonstrar a ausência de culpa pelas acusações do processo (imagem ao fim deste post)

Em lugar algum registrou-se que o então Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, tenha discordado da proibição. Por que agora o Ministério Público foi liberado para usar o recurso audiovisual em seu pequeno show, organizado para a denúncia contra Lula?

Dois pesos e duas medidas: quando foi para exercer direito constitucional e humano de defesa não se pôde usar nada que lembrasse um powerpoint durante o julgamento. Agora, porém, usa-se de forma espalhafatosa – além de constrangedor, para o MPF. Pode tudo, se for para contribuir para a criminalização de um partido. E isso além de ainda haver algumas etapas daqui até um eventual julgamento de Lula.

Nos dois casos, os prejudicados foram o PT e os petistas, impedidos que foram e continuam sendo de acesso pleno à Justiça do país.

Inclusive, é preciso lembrar que toda a pirotecnia de Dallagnol e seus parceiros foi disparada há duas semanas das eleições municipais, em mais uma óbvia manobra para tentar influir no resultado das urnas. E para usar um termo do powerpoint dos procuradores, os maiores beneficiários desse arranjo todo são o PSDB, o DEM, o PMDB e outros partidos que concorrem contra candidatos do PT nas votações municipais de outubro.

Vamos combinar: assim fica difícil não crer que parte do Ministério Público Federal esteja influenciado por preferências partidárias.

STF/Reprodução
STF veda uso de imagens projetadas em sessões de julgamento do processo do Mensalão, negando pedido pelo PT