sonháticos

‘Nova política’ da Marina tem caixa dois e alianças com DEM, PSDB e PMDB

Sem claro posicionamento ideológico, estreia da Rede Sustentabilidade nas eleições municipais é marcada por alianças da esquerda à direita, passando pelas oligarquias e repetições de velhas práticas

Marcos Fernandes/PSDB

Marina declarou apoio a Aécio no segundo turno das eleições presidenciais de 2014

Nos últimos meses, várias pesquisas mostraram Marina Silva da Rede Sustentabilidade liderando ou empatando com o ex-presidente Lula na preferência do eleitorado. A pesquisa Datafolha de segunda feira (15) mostrou Marina caindo, despencando, rolando ladeira abaixo. E o motivo para tanto desencanto dos eleitores talvez seja sua tentativa de agradar a gregos e troianos. E isso pode ter gerado no eleitor desconfiança com contradições em seus discursos.

Criado sob o lema de uma “nova política”, segundo declarações de Marina, para contestação de velhas práticas eleitorais e concepção de uma nova conduta político-partidária – “Somos diferentes, não somos a mesma coisa” – , a Rede, assim como Marina, parece ser mais do mesmo. Marina, segundo o empresário Léo Pinheiro, na delação premiada, teria pedido ao grupo OAS contribuição de R$ 400 mil para o caixa dois de sua campanha presidencial em 2010.

Depois de beijar a mão de Aécio Neves (PSDB), a quem Marina declarou apoio no segundo turno da eleição presidencial de 2014, a Rede Sustentabilidade fará agora alianças com partidos que vão da esquerda à direita nas eleições municipais de outubro. DEM, PSDB, PMDB e Psol são algumas das siglas que terão apoio ou apoiarão candidatos próprios do partido de Marina Silva. Mas a Rede não é “nem de esquerda nem de direita”, conforme definição da própria Marina.

Em sua estreia em eleições, a Rede terá candidatos próprios em 11 capitais brasileiras. Em algumas das demais capitais, o partido de Marina fez alianças bem heterodoxas. É o caso do prefeito de Macapá, Clécio Luís, da Rede, e que disputa a reeleição com o apoio do DEM, PSDB, PCdoB e apoio informal do Psol e do PCB. Eleito em 2012 pelo Psol, Clécio foi para a Rede em 2015 e diz que a parceria “pode dar alguma dor de cabeça” junto à militância.

Adversário de Marina nas duas últimas eleições presidenciais, o PSDB receberá o apoio da Rede em Teresina, onde o tucano Firmino Filho tenta reeleição. O prefeito enfrentará nas urnas o ex-senador Gilvan Borges (PMDB), aliado do ex-presidente José Sarney. No outro extremo, a Rede vai apoiar candidatos do Psol e indicar os vices em Salvador e Florianópolis. Em Curitiba, a Rede vai apoiar o filho do senador Roberto Requião, o deputado estadual peemedebista Requião Filho. Em São Paulo, Marina anunciou apoio ao deputado estadual Orlando Morando (PSDB) à prefeitura de São Bernardo do Campo.

A Rede vai apoiar, também, candidatos do PSB. A aliança não é nova, já que Marina integrou a aliança que teve Eduardo Campos (PSB) como cabeça de chapa e, após a morte trágica do ex-governador de Pernambuco, assumiu a candidatura na eleição presidencial de 2014.

Visto por cientistas políticos e especialistas no cenário nacional como o partido mais fisiológico e menos ideológico do espectro de mais de 30 legendas, o PMDB (que junto com o PP lidera nas delações da Lava Jato como recebedor de propinas), vai receber apoio da Rede Sustentabilidade em pelo menos duas capitais: Porto Alegre e em Curitiba.

O porta-voz nacional da Rede, José Gustavo, afirma que o partido aposta na “indignação com o sistema político” e que a ordem é firmar alianças “programáticas”: “A ‘nova política’ está para além do rótulo do que é um partido”, argumenta o representante da Rede Sustentabilidade.

“Nova política”?

Em 2014, Marina Silva, dividiu palanque e pediu votos para o deputado Paulo Bornhausen: “Meus amigos, vamos fazer a campanha de Paulo, para que ele seja o nosso senador”, afirmou Marina no palanque ao lado de Bornhausen. Candidato na época ao Senado pelo PSB no estado, Paulinho, como é conhecido, é filho do ex-senador Jorge Bornhausen, que foi governador biônico de Santa Catarina na época da ditadura. Um dos nomes fortes da Arena, partido que deu sustentação ao regime militar, Jorge fez carreira no antigo PFL e ficou no DEM até 2011, quando deixou a vida partidária. Como “puxadora de votos” Marina não se saiu bem, Bornhausen, não foi eleito. Marina, que defende a chamada “nova política”, pela qual promete governar ao lado dos “melhores”, tenta desconversar agora quando perguntada sobre a nova política com o Bornhausen.

Agora os sonháticos que acreditaram em “nova política” terão que procurar abrigo no Partido Pirata.

Em vez de se redimir e voltar às origens, rendeu-se definitivamente à velha política das oligarquias, se reservando ao papel de boa candidata para perder, e ser usada como linha auxiliar para o projeto de poder demo-tucano.