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Fifa, a multinacional e sua gestão ‘aberta a negócios’

Da mesma forma que a raiz da corrupção na política é o financiamento privado de eleições, a base da corrupção no futebol é a influência dos empresários em tudo o que tenha ver com esse esporte

CC Wikimedia Commons – Nationaal Archief Fotocollectie Anefo

Blatter, Havelange e a bola ‘escolhida’ para a Copa do Mundo de 82, na Espanha. Balcão de negócios

A história da Fifa pode ser dividida entre antes do início da gestão de João Havelange, em 1974, e depois de o brasileiro deixar a presidência da federação, em 1998. Antes, era uma associação das confederações nacionais, que promovia as Copas do Mundo e definia normas de relações entre as entidades do futebol.

Havelange teve a intuição de transformá-la numa entidade da era globalizada. Incorporou praticamente todos os países do mundo em que se joga futebol, ampliando a participação da África, e criou uma entidade realmente universal. Ao mesmo tempo em que mudou a composição da estrutura que elege e decide tudo, com uma massa de países de menor expressão, vinculados diretamente à sua condução.

O número de seleções participantes das Copas do Mundo aumentou, foram incentivados os campeonatos por continentes, as transmissões dos jogos se universalizaram e, com elas, os contratos publicitários. A disputa pelos países pelo direito de sediar as Copas passou a ser apoiada por grandes patrocinadores, ao mesmo tempo em que, sob o pretexto de profissionalizar os clubes, estes foram transformando-se em empresas.

No Brasil, o neoliberalismo chegou ao futebol com a Lei Pelé – durante o governo FHC. Concomitantemente às críticas do neoliberalismo ao Estado e aos burocratas que o dirigiriam, deu-se a crítica aos clube e aos cartolas. No plano nacional, os clubes foram esvaziados em favor dos empresários privados, que passaram a controlar as negociações dos jogadores e transformar as carreiras em fonte de lucro e os jogadores em mercadorias.

O dinheiro passou a mandar abertamente no futebol. O desapego dos jogadores passou a primar sobre o vínculo subjetivo a um clube. Mudar de clube implica em novos ganhos para os empresários e os jogadores, fomentando esse desapego.

Ninguém se surpreendeu com as acusações aos dirigentes da Fifa, vinculadas a decisões sobre sedes das Copas, sobre direitos de transmissões pelas TVs e negócios afins. Surpreendeu que tivesse demorado tanto, que tivesse sido levada a cabo pelo FBI e que se misturasse com interesses outros – da tentativa de cancelar a Copa na Rússia à de abafar a proposta de exclusão de Israel da Fifa, pelas agressões da polícia desse país contra dois jogadores palestinos, tornando-os incapacitados para jogar futebol.

Aqui, se sabe agora que a Polícia Federal teria acumulado denúncias e provas contra dirigentes esportivos, empresários, políticos e meios de comunicação vinculados a eles, sem ter tomado nenhuma medida até hoje. O FBI diz que suas investigações datam de pelo menos 20 anos. Como se trata da mesma gangue, suas raízes no tempo devem vir mais ou menos da mesma data.

A maior interrogação é como a Globo poderá se virar diante da promiscuidade evidente que sempre teve com todos os envolvidos nos escândalos. Por enquanto, tentando abafar e fazer com que outros escândalos venham a abafar o atual.

Da mesma forma que a raiz da corrupção na política é o financiamento privado de eleições, a base da corrupção no futebol é a Lei Pelé e a forma como transferiu para os empresários tudo o que tenha ver com esse esporte. O fortalecimento dos clubes, com sua democratização e transparência podem não apenas superar a corrupção no futebol, como resgatar a boa prática futebolística – que nunca esteve tão em baixa no Brasil.

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