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Prisão de Vaccari serviu para distrair atenção da luta popular contra a terceirização

Tesoureiro do PT é preso no dia de grandes protestos populares contra a bancada patronal da Câmara. Impressionante a criatividade de alguns juízes quando são picados pela tal 'mosca azul' do poder

Dia de derrota da oposição e de Cunha na Câmara foi encoberto por prisão sob medida de tesoureiro do PT

Na quarta-feira (15), centrais sindicais marcaram um Dia Nacional de Luta contra o Projeto de Lei 4.330 que, se for aprovado, permitirá a terceirização ilimitada de mão de obra pelas empresas, com drásticos prejuízos ao trabalhador. Houve manifestações no Brasil inteiro. No mesmo dia, a Câmara dos Deputados, por determinação de seu presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretendia votar as emendas ao projeto – o texto-base fora aprovado uma semana antes.

À noite, como resultados dos protestos, que ocorreram em 25 estados, Cunha anunciou o adiamento da apreciação das matérias. Segundo contam alguns peemedebistas, a orientação para o recuo partiu do presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, que temeu desgaste político com a aprovação da terceirização.

Porém, na manhã da mesma quarta-feira, a Polícia Federal cumpriu mandado de prisão preventiva do secretário de finanças do PT, João Vaccari Neto, expedido pelo juiz federal Sérgio Moro. Uma prisão tão desnecessária quanto é estranha que, “coincidentemente” ela tenha ocorrido no dia em que grandes manifestações populares contra o poder econômico – que tem seus representantes legislativos em grande maioria na Câmara – eram esperadas.

Ao fim do dia, foi fácil contatar a intenção da nossa “Justiça”. A prisão do tesoureiro e sua repercussão dominou os espaços nobres dos telejornais e portais, seguida da despedida das passarelas da modelo Gisele Bundchen. Os protestos populares, que provocaram o recuo até da bancada tucana na Câmara, não tiveram nenhum destaque e foram dadas timidamente, quase escondidas.

Repetiu-se a história, portanto. Além da prisão preventiva se dar meramente por Vaccari ser membro dirigente do PT é duplamente política pela data e pela forma espetaculosa que foi feita. Serviu para pautar o noticiário com a prisão e sua repercussão, reduzindo as atenções da luta que mais interessa aos trabalhadores brasileiros neste momento, contra a precarização dos empregos e dos salários na PL 4.330.

Para registrar um novo episódio da prática recorrente, que mira sobretudo o governo Dilma e as eleições presidenciais de 2018, ao tomar conhecimento da prisão, o líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), disse: “Estamos extremamente desconfiados de que existe uma orientação deliberada nessas delações premiadas para prejudicar o Partido dos Trabalhadores”.

Prisão preventiva, sem nenhuma condenação, é meramente política. Juridicamente, só serve para tumultuar o bom andamento da investigação, mas politicamente é alimento para a oposição partidária e midiática ao PT.

De certa forma o próprio juiz Moro admite que a prisão é política, ao dizer que o fundamento da prisão preventiva é ele não ter se afastado da Secretaria de Finanças do PT. Segundo o magistrado, esta posição daria a ele poder para cometer ou supostamente continuar cometendo crimes.

Ou seja, Vaccari foi preso não porque cometeu crime, mas porque suspeita-se do quê ele poderia vir a cometer, apenas pelo cargo que ocupa. É impressionante a criatividade de alguns juízes brasileiros quando são picados pela “mosca azul” da política e da mídia – que os leva a se sentir mais poderosos do que deveriam e agir ao surrupio da lei.

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