sem noção

‘Aécio, para que tá feio. A direita merece mais’

Além de 'partido dos ricos', da maneira como o PSDB exerce seu direito de ser oposição só conseguirá chegar em 2018 com pecha de golpista

© GEORGE GIANNI-PSDB

Em vez de propostas para um Brasil melhor, dificuldade de conviver com a democracia e golpismo

Os 30 anos da morte de Tancredo Neves, relembrados durante a última semana, foram o mote para artigos do seu neto e agora senador, Aécio Neves (PSDB-MG), para atacar o PT e a presidenta Dilma nos jornais O Globo e Folha de S.Paulo.

Com espaços generosos e “gratuitos” concedidos pela nossa mídia tradicional, o candidato derrotado na eleição presidencial do ano passado aproveitou a data da morte de seu avô, que coincide com o dia de Tiradentes, para incrementar as críticas a Dilma.

No texto publicado pelo jornal da família Marinho, Aécio fala que conquistas econômicas e sociais do país estão na “berlinda”, que a política econômica deve ser “resgatada na arena pública” e que “o partido governista se descolou da realidade”, passando pelo já batido, mas nunca devidamente rebatido, bordão “o governo prefere agora separar o país entre elite e pobres”.

Já na coluna do jornal Folha de São Paulo, Aécio disse que o impeachment “precisa ser o final de um caminho percorrido com rigor, respeito à realidade e à legalidade”. O senador tucano, que encomendou estudos ao jurista Miguel Reale Jr. para embasar pedido de impeachment. O senador levanta as chamadas”pedaladas fiscais” como nova bandeira da oposição para armar o grande salto para a destituição de Dilma – já que as tentativas de associá-la à corrupção na Petrobras vão se mostrando cada vez mais distante de cumprirem o objetivo, por absoluto descolamento da realidade.

Talvez tenha esquecido de combinar com o próprio Reale Jr., que em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, em 7 de março passado, afirmou: “não há base jurídica para o impedimento”, e que “a pena do impeachment visa a exonerar o presidente por atos praticados no decorrer do mandato. Findo o exercício da Presidência, não se pode retirar do cargo aquele cujo governo findou”. Concluindo, nada do que ocorreu no primeiro mandato serve para interromper o atual.

O PSDB nasceu com uma proposta social democrata e, no passado, conquistou simpatia de alguns movimentos sociais importantes e representativos das lutas populares. Antes de chegar à presidência da República, Fernando Henrique Cardoso chegou a participar de encontros da Internacional Socialista, convidado por Leonel Brizola.

Depois de governar o Brasil por 8 anos seguindo à risca a cartilha neoliberal, agradando aos ricos e arrochando os mais pobres, os tucanos passaram inevitavelmente a ser vistos como um partido da elite econômica do país, perdendo simpatizantes na classe média arrochada, e nas classes mais baixas, abandonadas à própria sorte.

Desde o fim dos anos FHC, o partido batalha com afinco, inclusive no Congresso Nacional, para fazer por merecer esta imagem. Basta ver que seus deputados votaram em peso a favor da terceirização ilimitada, aprovando o Projeto de Lei 4.330, na quarta passada (22).

É coisa que só beneficia os setores patronais, enquanto detona conquistas históricas, obtidas em décadas de lutas, muitas inclusive com a morte de trabalhadores, além de propiciar a queda dos salários e a qualidade do emprego de dezenas de milhões de trabalhadores, inclusive da classe média que sonha em fazer carreira profissional em grandes empresas.

Nas últimas eleições presidenciais, o candidato tucano, Aécio Neves, patinou o tempo todo entre 10 e 15% nas pesquisas de intenções de votos e sua candidatura alimentou-se da rejeição do eleitorado aos outros candidatos. Para ir ao segundo turno precisou desconstruir Marina Silva e pregar o chamado voto útil.

Propostas de governo melhor? Nada disso. Aécio dizia que era ele quem tinha mais estrutura e mais chances de vencer Dilma Rousseff no segundo turno, buscando o voto antipetista incensado pela imprensa demotucana. Esse eleitor votaria em qualquer um por falta de outra opção.

Já restrito à este nicho dos ricos, agora a atuação dos tucanos reduz mais ainda seu segmento eleitoral, ao se dedicarem à política do golpismo e do “quanto pior, melhor”. O PSDB só está atraindo uma minoria radical que aceita ou clama pela ditadura, não aceita a democracia expressa no resultado das urnas e não aceita um governo popular onde os pobres também prosperem.

Note que os mais ricos também prosperaram nos governos petistas. E prosperaram bem mais do que nos governos tucanos. Mas, irracionalmente, não aceitam políticas de valorização do salário mínimo e da renda do trabalho em geral, coisa que qualquer país democrático que se tornou altamente desenvolvido fez no século passado.

É verdade que há tucanos que só pensam no golpe do impeachment, enquanto outros mais comedidos fazem ressalvas sobre quebra da institucionalidade. Mas quem é contra o golpe ou faz ressalvas, o faz protocolarmente, timidamente. Enquanto quem é favor age como incendiário, inclusive o próprio Aécio Neves, atual presidente do partido. Com esse comportamento, não adianta querer ficar com um pé em cada canoa, porque a imagem que prevalece é a de golpista.

É óbvio que crises afetam governos e que é do jogo a oposição explorá-las. Mas crises passam, e quando o povo percebe que a atividade política da oposição é só de atrapalhar, sem conseguir formular uma alternativa construtiva visível para a nação, o povo pune.

Já ocorreu no Brasil com diversos parlamentares do DEM e do próprio PSDB que se especializaram em “CPIs do fim do mundo” e o povo os demitiu nas urnas, desde 2006. Até nos EUA o partido Republicano atrapalhou votações do Orçamento para “sangrar” o presidente Obama em seu primeiro mandato, mas este acabou reeleito.

Do jeito que a coisa vai, o PSDB chegará em 2018 perdendo boa parte que tinha do eleitorado mais rico. Sobrarão os golpistas. Os eleitores que querem mais democracia, reformas representativas dos anseios do povo (e me refiro à grande maioria do povo, e não à minorias barulhentas), mesmo que busquem um candidato de oposição procurarão algum que não seja tucano.

Agora, relembrando um artigo de André Singer: Aécio começa a fazer o papel de Lacerda em relação a Getúlio em 1954: era preciso, a qualquer custo, apeá-lo do poder. Mesmo que fosse por um golpe. Todos o sabiam. Seria melhor que lembrasse o avô. Tancredo era conservador, mas ficou com Vargas até o último momento. Recusou-se a votar no general Castelo Branco porque não apoiava golpes. Será um enorme desserviço à democracia brasileira se o PSDB embarcar em aventuras golpistas, como fez a UDN.