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Depoimento de Barusco derruba exageros na exploração política da Lava Jato

A mídia velha tentou, mas o depoimento do ex-gerente na CPI da Petrobras decepcionou bastante as expectativas da oposição

Antonio Cruz / ABr / Fotos Públicas

CPI da Petrobras ouve ex-gerente e delator da Operação Lava Jato Pedro Barusco: contradições e inconsistências

Apesar de a imprensa tradicional, de linhagem tucana, ter destacado exclusivamente trechos que possam aprofundar o desgaste atual do Partido dos Trabalhadores, objetivamente o depoimento do ex-gerente Pedro Barusco Filho na CPI da Petrobras demoliu muitas versões exageradas que vem sendo veiculadas:

Primeiro, Barusco afirmou que não podia contar tudo o que sabe sobre o período de 1997 a 2002, no governo FHC, porque estava sendo investigado no Brasil e na Holanda. Ou seja, deu a entender que tinha instruções de sua advogada para só falar de fatos já conhecidos da justiça neste período, não revelando fatos ainda desconhecidos para não se incriminar mais.

Afirmou também que os gerentes e banqueiros de bancos suíços que o atenderam sabiam que o dinheiro era de corrupção no caso dele, faziam vista grossa para a origem e orientavam como inclusive usar offshores em paraísos fiscais.

Caiu em contradição ao dizer que recebia propina sozinho entre 1997 e 2003, quando tinha um cargo inferior, com menor poder de influir em contratações do que tinha em 2003. A história ficou inacreditável.

Ao contrário da versão disseminada pela imprensa oposicionista, ele não disse que a corrupção se institucionalizou na Petrobras a partir de 2003. Disse que ele foi promovido e encontrou em seu novo cargo um esquema de corrupção já estruturado, dando a entender que já existia antes. Ele apenas disse não participar antes deste grupo, por isso não sabia quando começou.

Chegou a rir e deixou sem resposta quando o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), perguntou se poderia deduzir que Barusco era o pai e fundador único da corrupção na Petrobras.

Disse que a governança na Petrobras era boa, com orçamentos rigorosos para controlar preços nas licitações e que não vazavam. Disse que a corrupção era clandestina e só sabiam os poucos que participavam do esquema.

Disse que não havia superfaturamento nos contratos, pois ficavam dentro da faixa de preço de mercado monitorada pela Petrobras. Segundo ele, havia cartel onde as empreiteiras pareciam não praticar a concorrência e combinavam preços puxando para cima. Mas preços superfaturados eram desclassificados no processo de licitação. Se nenhuma empreiteira apresentasse preço dentro da faixa de mercado orçada pela Petrobras, a licitação era cancelada e havia outra.

Disse que não havia um comando central sobre o esquema de propinas, dando a entender que haviam gerências e diretorias que atuavam como células clandestinas de corrupção e que, “autônomas”, agiam por conta própria, só sendo conhecido quem participava do esquema.

Disse que sua relação com o ex-presidente da Petrobras Sérgio Gabrielli era apenas institucional, dando a entender que nunca conversou sobre propina ou irregularidades com ele.

Disse que a ex-presidenta da Petrobras Graça Foster nunca esteve envolvida com o esquema dele e de Paulo Roberto Costa.

Disse que não viu, não pagou e não sabe como e se suposto dinheiro para PT teria sido pago, se limitando a contar uma confusa e vaga versão de que só saberia de supostas combinações prévias com João Vaccari Netto, secretário de finanças do PT. Mas também não apresentou nenhuma prova.

Disse nunca ter tratado, nem ter conhecimento sobre propinas ou negócios ilícitos com nenhuma outra pessoa do PT.

Caiu em contradição ao dizer que em 2010 teria ajudado a arrecadar o equivalente a US$ 300 mil para a campanha presidencial do PT por meio da empresa SBM Offshore. Mas o tesoureiro da campanha de Dilma não foi Vaccari, foi José de Filippi, que negou ter recebido doações da SBM e afirmou que sequer conhecia Barusco.

Essa estória também não bate com a versão de 1% para o PT. Se fosse verdade que o PT teria 1% sobre contratos da SBM, teria um valor muito maior do que US$ 300 mil. Assim como a estória dos 1% não bate com os inquéritos abertos pelo Ministério Público Federal contra senadores do PT, por eles terem que “passar o pires” na campanha eleitoral como faz qualquer candidato sem envolvimento em nenhum esquema de propinas.

Barusco também desconstruiu a tese de que a empresa com maioria do capital privado Sete Brasil fosse mal sucedida. Disse que a empresa fez a estruturação financeira para construir sondas de perfuração no Brasil, a preços competitivos com o mercado internacional, trazendo vários estaleiros para se instalarem no Brasil e criando milhares de empregos. Disse que, mesmo sendo uma empresa privada, ele e outros diretores receberam propinas de estaleiros, mas em valor irrisório diante do tamanho da empresa. O escândalo fez interromper o fluxo de empréstimos à empresa que a levou a enfrentar dificuldades atuais.

No fundo, Barusco decepcionou bastante as expectativas da oposição tucana e do DEM, cujos parlamentares, na ânsia de gerar imagens para telejornais, se limitaram a fazer mais proselitismo do que perguntas. E faziam afirmações que eram negadas nas respostas do depoente.

O depoimento também mostrou os excessos de exposição negativa que a Justiça Federal e o Ministério Público Federal no Paraná submeteram a imagem da Petrobras.

Os corruptos que atacaram a empresa são deploráveis, mas as qualidades da Petrobras, inclusive a governança, e de seus milhares de trabalhadores honestos são muito maiores do que eles.

Seria melhor a investigação se ater mais na realidade objetiva dos crimes, doa a quem doer, do que no jogo político midiático. O caminho correto – e que se espera do nosso Judiciário – é concentrar mais nos criminosos de fato, trilhando o caminho do dinheiro para neles chegar. Quanto à mídia, velha e gasta, é hora de passar a tratar a empresa como vítima de focos localizados de corrupção e que agora se trabalha para que sejam extirpados.

Contas bloqueadas

Ex-gerente de Engenharia da Petrobras e um dos delatores “premiados” da Operação Lava Jato, Pedro Barusco entregou à Justiça Federal cópias de ordens de bloqueio das contas que ele operava em bancos da Suíça, por onde passou uma fortuna de US$ 67 milhões.

Cinco meses antes de fechar acordo de delação com a força-tarefa da Lava Jato, o ex-gerente soube que todo o patrimônio que havia acumulado em mais de dez anos de corrupção na estatal estava congelado. Alvo de investigação aberta na Holanda em 2013, por corrupção de agente público estrangeiro e lavagem de dinheiro, Barusco foi um dos funcionários da estatal que receberam propina da holandesa SBM Offfshore, empresa na área de navios-sonda.