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Dilma vence embate com Bonner e dribla agenda neoliberal da Globo

O estilo 'interrogatório' das perguntas feitas pelo 'Jornal Nacional' com os presidenciáveis, além de produzir momentos bizarros para o jornalismo, em nada ajudam o eleitor a formar sua decisão

rede globo/reprodução

Bonner, Poeta e Dilma, no Jornal Nacional: presidenta reafirma políticas sociais e deixa globais sem respostas

Talvez por já ter no passado enfrentado interrogatórios em condições bem mais adversas, nos porões da ditadura, talvez por dominar melhor os assuntos abordados pela dupla de entrevistadores do Jornal Nacional, na noite de ontem (18), a presidenta Dilma Rousseff conseguiu sair-se melhor nas perguntas intimidadoras do que o candidato Aécio Neves (PSDB) e do que havia conseguido fazer Eduardo Campos (PSB).

O formato parece ter objetivo certeiro: impor a pauta de interesses dos donos da emissora aos candidatos. Nas entrevistas com Aécio e Campos, grande parte das perguntas procuraram impor a agenda neoliberal do Estado mínimo, exigindo respostas que invariavelmente levaram os candidatos a citar como medidas “necessárias” cortar despesas públicas na área social, nas políticas redistributivas de renda e nos serviços como saúde e educação.

Na entrevista com Dilma, o objetivo foi tentar desconstruir as políticas de bem-estar social, de crescimento com melhor distribuição de renda e redução das desigualdades sociais. A ideologia que impera na Globo é aquela velha máxima da ditadura: primeiro o bolo precisa crescer para os ricos, vindo o crescimento da renda dos mais pobres a reboque, profecia que nunca se realizou nem no auge do neoliberalismo.

Mas Bonner não conseguiu ser bem sucedido neste seu embate com a presidenta. Ela conseguiu rebater com um argumento bastante forte quando disse “nós enfrentamos a crise, pela primeira vez no Brasil, não desempregando, não arrochando os salários, não aumentando os tributos, pelo contrário, diminuímos, reduzimos e desoneramos a folha de pagamentos. Reduzimos a incidência de tributos sobre a cesta básica. Nós enfrentamos a crise, também, sem demitir”.

O duelo

Na primeira pergunta, sem encontrar um questionamento ético na conduta pessoal da presidenta, como ocorreu no caso da construção do aeroporto com dinheiro público beneficiando a família de Aécio Neves, o apresentador Willian Bonner questionou se o PT não descuidaria da questão ética e da corrupção, por haver no governo petista ministros nomeados e depois afastados por denúncias.

Dilma negou haver tolerância, citando mecanismos de combate a corrupção criados nos governos do PT de forma sistêmica, tais como autonomia da Polícia Federal, o fim da era do apelidado engavetador-geral da República na chefia do Ministério Público, a criação da Controladoria-Geral da União como órgão forte, a criação da Lei de Acesso à Informação e do Portal da Transparência.

Bonner interrompeu, questionando: “A senhora listou aqui uma série de medidas que foram providenciadas depois de ocorridos os escândalos”. Na entrevista, Bonner e Poeta ficaram com a palavra mais de um terço do tempo total de 15 minutos –Dilma corrigiu o apresentador: “Não. Isso tudo foi antes.”

A bizarrice da cena mostrou que Bonner veio com uma réplica pronta em sua pauta para rebater uma resposta que não veio – enfatizando a demissão de ministros. A presidenta deu uma resposta sobre a construção de sistemas de combate à corrupção, e Bonner não soube como interagir com a resposta. Um vexame.

Em outro momento, o apresentador questionou números econômicos que considera adversos, como inflação dentro da meta, mas próxima ao teto e crescimento nominal baixo do PIB. Dilma explicou que Bonner estava olhando pelo retrovisor o acumulado de doze meses passados, e que a inflação está em queda desde abril e no momento atual está próxima de zero. Explicou também que a atividade econômica tem uma melhoria prevista a partir do segundo trimestre.

Bonner rebateu, após referir-se a indicadores do semestre passado, se isso não seria “mero otimismo”. Dilma o corrigiu explicando que em economia existem índices que antecipam tendências econômicas e que estes apontam para um segundo semestre melhor do que o primeiro.

E assim foi. Ressalta-se aqui que o formato adotado pelo Jornal Nacional é pouco produtivo para informar bem ao telespectador eleitor. Fixa um tempo curto de 15 minutos para o total da entrevista, em que os entrevistadores tomam boa parte do tempo em longas formulações de perguntas sobre temas complexos, como em casos que tratam da economia, de um sistema de saúde gigantesco como o SUS, ou de políticas institucionalizadas de combate à corrupção.

Respostas satisfatórias para estes temas não cabem dentro do tempo dado. Para piorar, os entrevistadores interrompem a toda hora, muitas vezes de forma intimidatória, o que não ajuda em nada o eleitor a conhecer melhor os compromissos dos candidatos.

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