Tática?

Derrota sem ‘apagão’ deixa clara limitação do time

Se já não temos craques como no passado, a falta de organização tática do time tornou bons jogadores em medíocres

Robert Ghement/EFE

Ao tentar diminuir a parcela de culpa no resultado, Felipão desdenha falhas táticas gritantes da equipe

“Isso não em nada a ver com treinadores, com dirigentes. Nossa equipe tem alguma dificuldade a mais com relação a jogadores, estamos revelando um pouco menos.” A frase é de Luiz Felipe Scolari, treinador da seleção brasileira de futebol na coletiva após a derrota da equipe por 3 a 0 frente à Holanda. Com ela, negou a necessidade de qualquer reciclagem tática do futebol praticado pela seleção em relação aos times europeus.

Se o diagnóstico é esperado de quem defende o trabalho que fez, ele vai na contramão da realidade vista em campo nessa Copa do Mundo. O Brasil fez sete jogos no torneio sem conseguir apresentar um futebol consistente, como o que levou à conquista da Copa das Confederações em 2013 – que agora se transforma em uma vitória enganosa. A tentativa era sempre a de marcar a saída de bola e tentar fazer um gol rápido, para depois recuar e buscar o contragolpe. Não deu certo nenhuma vez, mas mesmo assim prosseguimos.

Mas para além dessa estratégia geral, os erros se davam na distribuição do time em campo. Não havia uma lógica na ocupação dos espaços, como é possível ver na Alemanha ou na Holanda, fazendo com que a marcação, no ataque ou na defesa, deixasse os jogadores no mano a mano. Na frente, isso inviabilizou a tomada rápida da bola, já que os times mais organizados achavam sempre opções de passe. Atrás, permitiu os dois resultados elásticos.

Se os fantásticos 4 gols em 6 minutos aplicados pela Alemanha colocaram o resultado muito fora da curva razoável para um confronto do futebol moderno, a partida contra a Holanda transcorreu sem apagões brasileiros. E, mesmo assim, a diferença no placar igualou o pior resultado do Brasil na história das copas antes da semifinal de terça.

Muitos comentaristas encarnaram “profetas do passado” e agora dizem que o time sempre foi muito ruim. Exagero: a comparação nome a nome com a Alemanha e Holanda poderia trazer vantagem para os europeus (para os finalistas com certeza), mas não um abismo tão grande quanto o que foi visto nos dois últimos jogos.

Temos, sim, limitações, especialmente no setor de meio de campo, mas não tão trágica. O que faltou foi clareza dos pontos fortes e fracos do elenco, e estratégias de ocupação dos espaços e criação de jogadas. Sem isso, bons jogadores se transformaram em medíocres e, mesmo atletas ótimos, como nossa dupla de zaga, cometeram erros em cima de erros.

Felipão não está errado quando diz que não produzimos craques como em outros momentos e, até por isso, erra mais feio ainda ao não trabalhar melhor a questão tática. Para veteranos como ele e Parreira, talvez não seja mesmo o caso de reciclagem, porque é capaz de ser a hora de aposentadoria da função de técnico, mas, para o futebol brasileiro, com certeza, é um sinal importante.

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