Verde e amarelo

Primeira rodada tem grandes viradas, dentro e fora do campo

Quem torceu contra vem se dando mal; níveis de jogos e gols superam expectativas. Mau humor das redes é revertido por ‘clima de Copa’. Até Aécio, que aprovou xingamentos a Dilma, teve de rever a posição

Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Torcedores chegam para assistir ao jogo contra o México em Fortaleza, pela segunda rodada

São Paulo – Nem caos nos aeroportos, nem estádios inacabados, nem terremotos nos transportes públicos – apesar de momentos de sufoco que fizeram lembrar situações que os paulistanos costumam deparar de vez em sempre por volta das 18h, como se verá na foto mais abaixo. As manifestações, com a evasão dos setores oportunistas da mídia e dos coxinhas, que viam na Copa uma oportunidade de desgastar o governo, ocorrem, até aqui, em menor número e capitaneadas por grupos que, de fato, veem no evento uma oportunidade de escancarar problemas do país e detonar a Fifa. O problema é que estão se deparando com forte repressão e violência desmedida das polícias.

Fechada ontem a primeira rodada da primeira fase, o ambiente do Mundial teve várias viradas. A começar pela confirmação do prognóstico apontado aqui pelo Futepoca. Os primeiros 16 jogos da primeira rodada tiveram, em campo, seis viradas, quase uma por grupo. Brasil no Grupo A, Holanda (B), Costa do Marfim (C), Costa Rica (D), Suíca (E) e Bélgica no (H). Isso tudo coroado com muitos gols: 49 foram anotados, média superior a três por partida, o que não ocorria desde 1958.

Houve virada também no mau humor dos brasileiros. Mesmo com críticas a governos, gastos e à onipotência da Fifa, as ruas, carros e vagões dos trens estão coloridos de verde e amarelo. “A gente tem que separar a questão extracampo e torcer para o time do Brasil. Quando está de verde e amarelo, você está torcendo pelo futebol do Brasil. É um momento de festa”, diz o engenheiro Eduardo Silva, com uma camiseta verde e amarela num trem da Linha 4-Amarela do Metrô. “Quem era contra deveria ter manifestado isso há sete anos, quando o Brasil se candidatou a fazer a Copa. Acho que agora, com tudo pronto, a infraestrutura pronta, a gente tem mais que usufruir, receber bem o turista para que ele gaste dinheiro aqui, tenha boa impressão e volte ao nosso país”, opina.

Ao seu lado, a educadora Taiane de Lourenço Sbizera não está vestida com as cores da seleção brasileira, mas pede a palavra com um gesto de concordância, fazendo “sim” com a cabeça. “Acho que a Copa foi muito usada mesmo como manobra política pela oposição. É legítimo que a gente se manifeste contra uma infraestrutura ruim do país, mas isso não significa que a gente não possa ter Copa, não possa se vestir de verde e amarelo”, afirma Taiane.

A psicóloga Ivone Santos, que passa de verde e amarelo, apressada, pela rua São Bento, centro de São Paulo, a poucas horas do segundo jogo da seleção de Luiz Felipe Scolari, contra o México, diz ter críticas, mas… “Estou em espírito de Copa, sim. Apesar de tudo o que está acontecendo, que não concordo, como falta de saúde, educação. Mas agora que já foram feitos vários estádios, gastaram vários milhões, então o negócio é a gente comemorar e entrar no ritmo”, calcula.

Quem achou bonito xingar com “nome feio” a presidenta Dilma Rousseff durante o jogo de abertura também levou uma virada. Os xingamentos incomodaram e foram rechaçados por gente de bom senso nas redes sociais. O tucano Aécio Neves chegou a desdenhar da baixaria e deu pistas de que teria achado “algo merecido”. O senador de Minas Gerais disse que Dilma estava colhendo o que semeou, mas horas depois recuou e escreveu em sua página no Facebook: “No que depender de mim, o debate eleitoral se dará de forma respeitosa.”

O capitão da seleção brasileira, Thiago Silva, em entrevista coletiva na segunda (16), disse que esta está demonstrando ser “a Copa das copas”. O sucesso após a primeira rodada reverberou na mídia e nas redes sociais. Já no dia 12, inaugural da Copa do Mundo, a revista Exame, da Abril, mostrou em matéria on-line que ainda antes de o torneio começar, no “período que antecedeu a Copa do Mundo, pode-se dizer que os brasileiros na rede sociais viraram a casaca”. “Se antes a opinião principal era contra a Copa do Mundo, hoje, no dia da inauguração, eles são mais favoráveis”, anotou a publicação.

Utilizando dados da ferramenta Apita Brasil, especializada em análise do que acontece nas redes sociais, a Exame informa a transformação de humor. “Dez dias antes do início da competição, 86% das manifestações de brasileiros na rede eram negativas. Elas falavam sobre a falta de organização na Copa do Mundo e faziam críticas à competição”, diz a revista. “Passados dez dias, no início da competição o apoio das pessoas nas redes sociais subiu muito. Entre as manifestações de internautas, 65% apoiam usando expressões como #euapoioacopa ou #vaitercopasim. As críticas, obviamente, continuam, mas em menor proporção do que era observado antes.”

Outros veículos cujo posicionamento é conhecido têm se resignado a reconhecer que a Copa está longe do fracasso para o qual torciam. Na segunda-feira (16), O Globo publicou na internet que “o plano de mobilidade montado para atender aos torcedores que foram assistir a Argentina x Bósnia, primeiro jogo realizado no Maracanã, passou no teste” e que “o transporte público foi o principal meio empregado para chegar ao Maracanã”.

“Há Copa, o metrô anda, muita gente que nem sabe onde fica a Bósnia gritou o nome desse país e nossa íntima Argentina chegou a brilhar num corisco, sem que houvesse tempo e ritmo para que hostilidades brutas aflorassem”, escreveu o compositor Caetano Veloso em sua página no Facebook. “Estávamos longe dos palavrões dirigidos a Dilma no Itaquerão. Esses, não dá para perdoar”, acrescentou.

Paulo Donizetti de Souza
Problemas no metrô estão na rotina dos paulistanos; ontem (17), dia de ir mais cedo ver o jogo, não afetaram humores

Até quem passou sufoco para fazer conexão metrô-trem na Estação da Luz, em São Paulo, acabou levando na esportiva. Ontem (17), por volta das 14h, multidões vindas das plataformas da Linha 1 – Azul e Linha 4 – Amarela mal conseguiam caminhar. No meio do aperto, um gritou: “Calma, toca a corneta, o pânico passa”. A expressão no rosto das pessoas, testemunhada pelas reportagens, não era a habitual cara de horário de rush vista quase sempre por volta das 18h. Eram rostos de quem estava indo para casa mais cedo em tempo de ver Brasil x México.

A mídia internacional não está indiferente à virada dos ventos. Como noticiou o portal The Huffington Post, o o blog Rio Report, do Yahoo da Inglaterra, já “chegou a dizer que muitos estão sugerindo que a Copa no Brasil deve ser a melhor Copa da história do evento” e que “tem o potencial de eclipsar as outras Copas memoráveis”. O Copa na Rede foi adepto de primeira hora da tese, sedimentando dez motivos para apostar.

Segundo o Yahoo, o número de gols, algumas partidas memoráveis, como Holanda 5 x 1 Espanha, o brilho de grandes astros, como Neymar e Robben, estão entre os motivos dos resultados positivos da competição até a primeira rodada.

Entre as delegações visitantes, o clima é de surpresa. O volante Schweinsteiger, da seleção alemã, ficou impressionado com a mistura de raças que encontrou em Salvador: “O resultado é um mix perfeito. Diria que os brasileiros são um exemplo, com sua alegria, positividade e amor pela vida. E, pelo que ouvi, a economia brasileira também está se fortalecendo já faz algum tempo – combinação excelente.”