Entre os estilos Felipão e Parreira

Análise – Brasil ‘inova’ nos erros e salva match point

Seleção entrega gol para o Chile, perde meio de campo no segundo tempo e faz prorrogação razoável, mas insuficiente

JOSE COELHO/EFE

Seleção celebra classificação. Ao estilo Felipão, mais alívio do que qualquer outra coisa

Dizer que a vitória do Brasil foi “injusta”, como muitos têm dito, é um exagero. A seleção fez um primeiro tempo chegando mais na área rival, e o Chile quase não levou perigo à meta de Júlio César. Não chegou ao tento de empate por conta de seus méritos, mas sim por uma falha dupla de Marcelo e Hulk, que mudou totalmente o panorama de uma partida que parecia até surpreendentemente tranquila àquela altura.

Marcelo fazia uma marcação quase individual em Alexis Sánchez e Luiz Gustavo compunha pelo lado esquerdo quando o jogador do Real Madrid seguia o chileno no meio de campo. A seleção andina insistia pelo lado canhoto da defesa brasileira, mas Jorge Sampaoli mudou o modo da equipe jogar no segundo tempo, alterando as posições de Sánchez e Vidal, e o Brasil, que sentiu emocionalmente o tento rival, perdeu o meio de campo.

Em especial na etapa final, não adiantou a troca de Paulinho por Fernandinho, ainda que o substituto tenha feito um jogo melhor no primeiro tempo. O problema é que o Brasil passou a abusar da ligação direta dos defensores com o ataque e das articulações frustradas nas laterais, ou seja, a redonda não passava pelos volantes. Com Fred ou Jô na frente, a bola batia no centroavante e voltava.

Outro ponto incompreensível foi encostar Neymar no ataque e tirar sua liberdade de voltar para o meio. Tal alteração só se justifica por uma possível lesão do craque. Mas, nesse contexto, o lógico seria colocar mais alguém para vir de trás, fazendo a função de ponta de lança, até para preocupar mais os ótimos Aránguiz e Vidal.

Emocional

Pode parecer clichê ou psicologismo barato, mas quem está acostumado a ver futebol sabe que às vezes você percebe a condição emocional de um atleta só pelo olhar. O Brasil se perdeu depois do gol chileno, e só se recuperou na prorrogação, quando voltou a jogar razoavelmente, também em função de o Chile ter abdicado da partida para apostar na disputa de penalidades. Os andinos já tinham ido longe demais e cumprido seu papel.

Só após os noventa minutos a seleção foi mais Parreira e menos Felipão, talvez não tenha sido coincidência a imagem do técnico ouvindo o coordenador ao fim do tempo regulamentar. A equipe colocou a bola no chão, tocou a bola com a participação dos volantes e dos meias, e chegou com perigo ao gol de Bravo, embora a oportunidade mais contundente tenha sido da equipe de Sampaoli no último minuto da prorrogação, com uma bola na trave de Júlio César.

Entre os atletas, impressionou mais uma vez a postura de Neymar. Jogando mal no segundo tempo, foi ele que chamou a responsabilidade no primeiro tempo e também depois dos 90 minutos, quando “chamou na chincha” seus companheiros, mais velhos que ele, para a cobrança de penalidade. Na hora de se diferenciar os homens dos meninos, mostrou não ser mais moleque.

Injustiça, só se levarmos em conta que a seleção, pelos nomes que possui, poderia ter jogado muito mais, e o Chile mostrou alternativas de jogo que o Brasil ficou devendo. Falta equilíbrio, na tática e na cabeça. Na linguagem do tênis, a seleção salvou um match point, mas se continuar assim, outros virão.