Buraco

Análise: Brasil reencontra marcação pressão, mas meio-campo pode complicar contra o Chile

Setor continua como ponto fraco da seleção brasileira, tanto na defesa quanto na transição ofensiva. Contra o intenso futebol do Chile de Alexis Sanches, pode ser problema grave

Jefferson Bernardes/VIPCOMM

O camisa 5 Fernandinho saiu do banco e marcou o seu: solução para o buraco no meio de campo da seleção?

Aos três minutos, o Brasil roubou uma bola na defesa de Camarões, numa jogada rápida que desembocou num chute de Luiz Gustavo rebatido pela zaga. Começava a funcionar pela primeira vez na Copa do Mundo a marcação pressão, grande arma do time de Felipão na Copa das Confederações do ano passado. O esquema foi o mesmo que levou ao primeiro gol de Neymar: bola na lateral direita camaronesa, Oscar, Marcelo e Luiz Gustavo pressionam e o volante sai com ela limpa, para fazer o cruzamento preciso para o camisa 10. Ponto para o time.

Mas o sucesso trouxe um preço. A necessidade de atacar rapidamente após tomar a bola escancarou o buraco no meio de campo do Brasil. Quando o time retomava a bola no campo de ataque, boas jogadas saíam. Mas se Camarões conseguia ultrapassar a primeira barreira, fatalmente chegava até a zaga tupiniquim. Assim, ganhou o escanteio que acabou com Nyom ganhando de Daniel Alves – em cujo setor está a maior fragilidade da defesa – e cruzando uma bola que passou por toda a zaga até chegar a Matip.

A saída de bola também engasgava no meio e os zagueiros recorreram o tempo todo a lançamentos de efetividade duvidosa. A maioria, deu em nada. Mas foi num desses que Neymar pegou a bola livre pela meia direita, avançou e marcou o segundo, um golaço.

O fato é que, com a bola nos pés, o Brasil tinha grandes dificuldades na transição. Paulinho disparava para o ataque em vez de trabalhar a redonda vindo de trás, como fez no Corinthians e na seleção ano passado. Às vezes, ficava à frente de Oscar, que em tese seria o meia mais avançado. O resultado era Luiz Gustavo isolado no setor, que mesmo o fraco time de Camarões conseguiu controlar em parte do primeiro tempo.

Na segunda etapa, Felipão atendeu aos apelos de muitos e colocou Fernandinho no lugar de Paulinho. O jogador do Manchester City de fato entrou muito mais aceso em campo, buscou mais as jogadas, participou mais tanto da marcação quanto da transição ofensiva. E teve o bom desempenho premiado com um gol que Paulinho já fez em outros tempos. Não será surpresa se o ex-corintiano começar no banco no sábado, contra o Chile.

Felipão ainda fez outras mudanças com reflexo na meia cancha, ao trocar o esforçado Hulk por Ramires e o craque Neymar por William. A formação rendeu momentos interessantes na segunda metade da etapa complementar. A bola rodava com mais facilidade, com William pela esquerda (tabelando com Marcelo em várias ocasiões), Ramires na direita e Oscar centralizado, chegando bem perto de Fred.

Saíram boas tabelas e muito menos chances para a já derrotada seleção de Camarões. O exemplo é o gol de Fernandinho, com bela troca de passes envolvendo Fred e Oscar. Dá pra imaginar algo bem parecido com Neymar na do camisa 11, que ocuparia um dos lados (na cabeça de Felipão, possivelmente a de seu companheiro de Chelsea).

De resto, boas notícias vêm de Neymar, nome do jogo e artilheiro do mundial até aqui, com 4 gols. Mas isso não chega a ser novidade, como foram o gol e a melhor movimentação de Fred. Felipão acredita no centroavante e hoje ele começou a corresponder a essa fé. Ainda que seja sobre uma defesa fraca, vale para tirar a zica e ganhar confiança.

Brasil x Chile

Encorpar o meio de campo pode ser fundamental na partida das oitavas contra o bom time do Chile, que fez grande campanha na primeira fase. Vitória contra Austrália e a ex-favorita Espanha, despachada na segunda rodada.

O Chile joga um futebol ofensivo e de transição rápida, com marcação muito organizada na saída de bola e em todo o campo, ao gosto de Jorge Sampaoli, discípulo do argentino Marcelo “El Loco” Bielsa. A ideia é parecida com a do Brasil – e de muitos times que seguiram Bielsa e o vitorioso Barcelona de Guardiola, de quem não copia a ênfase na posse de bola: prefere tomar a bola e resolver o ataque com a velocidade de Alexis Sanches e Vargas. No meio, o destaque fica para o múltiplo Aranguiz, que marca e arma com a mesma qualidade.

Contra a Espanha, sufocou e venceu. Contra a Holanda, conseguiu manter a bola, mas não resolveu e mostrou espaços na defesa que um craque como Robben não perdoa facilmente. Que dizer de Neymar, que hoje tomou do holandês, de Messi, Benzema e o próprio Alexis Sanches a dianteira na disputa do craque mais decisivo para seu time – deixando de fora da conta o fenômeno da Costa Rica e seu atacante Joel Campbell. De todo modo, as oitavas de final prometem um jogo corrido, pegado e perigoso para o Brasil. Sem meio campo, pode ficar ainda pior.

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