No sufoco

Dez vezes Real Madrid

Tratamento à base de placenta de égua não funcionou para Diego Costa. Atlético sofreu virada no final e tomou goleada na prorrogação

© Jose Sena Goulão/EFE

O zagueiro Sergio Ramos comemora seu dramático gol no final do jogo

Como esperado, a batalha entre Real Madrid e Atlético de Madrid na primeira final da Liga dos Campeões que envolveu dois times da mesma cidade foi acirrada. Após abrir vantagem no primeiro tempo do jogo, a equipe alvirrubra tomou muita pressão na segunda metade da etapa final, e faltando dois minutos para o final do jogo a cidadela de Simeone ruiu. Melhor física e tecnicamente, o Real atropelou na prorrogação e goleou por 4 a 1 o rival, chegando a seu décimo título no torneio.

A partida teve início com uma polêmica. Diego Costa, após um tratamento pouco usual para resolver suas dores na coxa, uma massagem com líquido de placenta de égua, não aguentou e saiu aos 9 minutos de jogo. Foi a segunda substituição mais rápida das decisões da Liga dos Campeões. Adrían Lopez entrou em seu lugar e, logo de cara, os colchoneros já tinham duas baixas em relação à equipe titular, já que Arda Turan também não foi para o jogo.

Como o forte das duas equipes é a saída rápida para o contra-ataque, a peleja começou com ambos tentando anular essa arma do rival, e os espaços para a velocidade quase não existiram até pouco mais da metade da primeira etapa. O Atlético, mesmo tradicionalmente mais preocupado com a defesa, chegando a ter em vários momentos do jogo todos os seus atletas na intermediária, não abdicou de ir à frente, frequentando mais a defesa adversária do que o Real em um bom pedação da etapa inicial.

Mas, aos 26, Di María escapou pela esquerda em velocidade, obrigando Raúl García a cometer uma falta dura, que lhe custou o cartão amarelo. A cobrança resultou na segunda finalização da equipe alva até então, a terceira do jogo e nenhuma, na prática, levando perigo. Chance mesmo teve Bale, pelo Real, graças a um erro de passe infantil do português Tiago aos 32 minutos. Mas o chute foi pra fora.

Se o equívoco atleticano não resultou em gol, uma falha do goleiro Iker Casillas foi fatal. Aos 36, cobrança de escanteio pela direita, o uruguaio Diego Modín subiu mais que a zaga e o arqueiro, que saiu mas não saiu do gol, acabou encoberto. O zagueiro sul-americano já havia marcado o tento decisivo para sua equipe na última partida do campeonato espanhol, contra o Barcelona, também em cobrança de escanteio.

Sufoco e castigo

O segundo tempo se iniciou com o Atlético mais presente no campo rival. O conjunto do Real não se achava em campo, mas o elenco estelar de Florentino Pérez tem atletas que podem resolver a parada em um lance individual.

Foi o que tentou o argentino Di María, que arrancou pela esquerda e sofreu falta de Miranda, infração que valeu ao brasileiro o cartão amarelo. Na cobrança, um apagado Cristiano Ronaldo exigiu uma bela defesa do belga Courtois. O Real ainda levou perigo na sequência, com duas cobranças de escanteio, mas não chegou às redes.

Aos 14 minutos, o italiano Carlo Ancelotti tentou levar seu time mais à frente em uma troca de laterais, saindo o lusitano Fábio Coentrão para a entrada do brasileiro Marcelo. Sacou ainda Khedira para a entrada de Isco. Aos 21, Simeone gastou sua segunda alteração, tirando Raúl García e colocando na partida o argentino José Sosa.

Ancelotti buscou tornar sua equipe mais efetiva tirando o quase nulo Benzema, substituído por Morata aos 34. A partir daí, foi quase um jogo de ataque contra defesa, com o Atlético segurando a pressão do Real com quase todo o time atrás da linha da bola, muitas vezes com sete ou oito jogadores na própria área.

Ao final, o bravo, mas excessivamente retrancado Atlético, levou o castigo. Também com um escanteio cobrado do lado direito, também com um gol de zagueiro. Aos 48, Sérgio Ramos cabeceou no canto, uma bola indefensável para Courtois, assegurando a prorrogação para um Real de moral alta no gramado.

Prorrogação e goleada

Sem poder fazer substituições, as equipes começaram a prorrogação do mesmo jeito que terminaram o tempo normal. O Atlético, recuado, aguentava como podia e segurava as investidas do Real, que ia na base do abafa. Não foi só o tento no fim da partida que afetou a moral alvirrubra, a parte física também parecia dar vantagem à equipe de Ancelotti, embora o astro Cristiano Ronaldo estivesse abaixo fisicamente do seu normal.

No início da segunda etapa da prorrogação, o time de Simeone tentou equilibrar, mas dessa vez a arrancada de Di María deu certo. Ele passou por três adversários em velocidade e finalizou para grande defesa de Courtois com o pé. No rebote, Bale não perdoou e cabeceou para as redes, aos 5.

E, mais uma vez, quase o Atlético empatou em saída errada de Casillas, que caçou borboleta na área em um chutão de Gabi. Tiago, no entanto, finalizou pra fora, mesmo com o arqueiro longe da meta. Já quase sem condições de correr, os atletas alvirrubros saíram para o ataque e deixaram o campo para o Real deitar e rolar.

O lateral Marcelo aproveitou. Sem marcação, carregou a bola aos 12, chutando rasteiro para Courtois tocar na bola, que acabou entrando. O Real marcou ainda mais uma vez, de pênalti, sofrido por Cristiano Ronaldo. Ele mesmo bateu e fez o quarto aos 15, tornando-se o primeiro jogador a marcar gols em finais da Liga por duas equipes diferentes.

Um princípio de confusão no final não manchou a festa. E a torcida alvirrubra aplaudiu seu técnico e sua equipe, reconhecendo a campanha fantástica na temporada. Mas a noite portuguesa foi do Real, maior campeão da Liga, uma máquina que marcou 41 vezes em 13 jogos (contando os três da prorrogação). Um título justo e legítimo de um time que fez no tempo normal o que notabilizou seu adversário na temporada: não desistiu até o apito final.