contradições

Marina e Campos: ‘nova política’, com velhas oligarquias

Enquanto a ex-senadora garante presença ao lado de velhas raposas políticas, em Pernambuco crescem evidências de que o governador mantém o antigo hábito de eleger e empregar parentes

PSB Nacional / Divulgação

Campos e Marina, em campanha no Rio. Sem constrangimentos por manter hábitos nada novos

A adesão de Marina Silva à frente de reacionários e ressentidos antilulistas – que está virando o PSB em quase toda a sua totalidade – fará a ex-senadora subir no mesmo palanque do pré-candidato a governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), da bancada ruralista. Para aquela que se destacou como ambientalista, seria razoável lembrar que os liderados por Caiado são os que mais estragos provocaram no texto final do Código Florestal, os que mais radicalmente se opõem ao endurecimento das penas por submeter trabalhadores a regime de escravidão etc. Mas Caiado já declarou apoio a Campos, devidamente retribuído, e organiza sua pré-campanha em Goiás.

Os novos parceiros políticos também a colocarão no palanque ao lado de Jorge Bornhausen, por sua vez, o “novo” cacique do PSB em Santa Catarina. E também com o ex-DEM Heráclito Fortes, recém-integrado ao PSB do Piauí, além de várias outras filiações demotucanas exóticas, para um partido que nasceu se dizendo de esquerda e carregando o “socialista” no nome.

Marina parece não se importar e roda o Brasil proclamando a “nova política”, enquanto, do seu lado, o candidato Eduardo Campos prepara sua sucessão ao governo de Pernambuco com uma lista de opções tiradas de seu clã familiar e político. Os três nomes mais cotados por Campos para disputar o poder em seu estado têm algum grau de parentesco direto ou indireto com ele.

Na semana passada, uma reportagem publicada no jornal Correio Braziliense listou cada membro familiar de Campos que está pronto para participar de alguma forma do poder – e do orçamento – de Pernambuco.

O primeiro, segundo a publicação, é o primo de primeiro grau de Renata, mulher do governador, o ex-deputado Maurício Rands, que voltou de uma temporada na África para, segundo ele, ficar “na retaguarda” do governador. Depois de romper com o PT, ele se filiou ao PSB em outubro do ano passado, no limite do prazo legal para ser elegível

Outro nome que desponta na sucessão pernambucana é o do secretário da Casa Civil, Tadeu Alencar – além de o filho dele, Tomás Alencar, ser namorado de Duda Campos, filha de Eduardo Campos. As duas famílias são próximas desde a época de Miguel Arraes – o avô de Campos e ex-governador daquele estado. Mas, apesar de serem tratados como primos, a Secretaria de Comunicação pernambucana garante que os Alencar e os Campos não estão na mesma árvore genealógica.

A terceira opção de Campos hoje é o secretário da Fazenda, Paulo Câmara, casado com uma prima de segundo grau do governador. Seu nome não chega a ser unanimidade dentro do PSB pernambucano, mas conta com a simpatia de grande parte dos dirigentes do partido.

O vice-governador, João Lyra, e o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra chegaram a ser cogitados pelo atual governador, mas devem ocupar outros espaços na aliança. Lyra assumirá o governo quando Campos sair para a disputa presidencial em abril e Bezerra pode disputar o Senado. A vaga foi aberta esta semana, quando o peemedebista Jarbas Vasconcelos anunciou que não tentaria a reeleição.

E as coisas não param por aí.

Além dos dois secretários cotados para a disputa, Campos mantém no governo ao menos uma dezena de parentes seus e de sua mulher. A irmã da primeira-dama, Ana Elisabeth de Andrade Lima Molina, médica de carreira da Secretaria da Saúde, foi alçada a um cargo de direção da pasta.

Antes de fazer campanha para que a mãe, a então deputada Ana Arraes, fosse nomeada ministra do Tribunal de Contas da União, em 2011, Campos já havia patrocinado a escolha de dois parentes para ocupar espaços no Tribunal de Contas do Estado. Ele indicou como conselheiros do órgão um primo seu, João Campos, e um primo da mulher, Marcos Loreto. Outro primo do governador, Thiago Arraes Alencar Norões, foi escolhido procurador-geral do Estado no início do segundo mandato de Campos.

No Congresso, há a possibilidade de o filho mais velho de Campos ser candidato a deputado federal. João, de apenas 19 anos, teria a missão de representar a família no Congresso, já que Ana Arraes trocou o mandato na Câmara pela vaga no TCU.

Até para a deputada estadual tucana Terezinha Nunes, a escolha familiar que Campos pretende fazer para a sua sucessão põe em xeque o discurso da nova política adotado pelo governador, no que é apoiada pelo petista Sérgio Leite (PT), que assumiu esta semana a liderança da oposição na Assembleia.

Como Campos, e sobretudo Marina, conseguirão manter seus discursos de nova política mantendo tantas e tamanhas contradições deveremos conferir em breve, assim que comecem as campanhas eleitorais.