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Ao insistir em agenda negativa, PMDB se arrisca a ver bancada reduzida em 2015

A atual estratégia do segundo partido do país só interessa à reeleição de deputados da oposição. Mas, a poucos meses das eleições, é um pouco tarde para o PMDB disputar esse eleitorado com sucesso

Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

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O PMDB, junto ao PTB, PR e PSC, aderiu à oposição para derrotar a base governista na aprovação de uma comissão de parlamentares para ir à Holanda verificar uma denúncia ainda não confirmada de uma empresa de lá que teria pago subornos a funcionários da Petrobras para alugar navios plataformas. Por trás dessa votação, está a pressão de deputados sobre o governo Dilma por nomeações, liberação de verbas para suas emendas ao Orçamento e formação de palanques regionais para as próximas eleições de outubro.

Não foi uma votação que o governo se empenhou com afinco para vencer. Não houve relatos de telefonemas disparados pelo Planalto e por ministérios para mudar votos. As articulações se limitaram às conversas da ministra Ideli Salvatti (da Secretaria de Relações Institucionais) com lideranças partidárias, e o resto foi disputa entre os próprios partidos no Legislativo.

O governo não mostra ter receio com a formação desta comissão. O que se sabe até agora é que a empresa holandesa fornecedora da Petrobras foi chantageada por um funcionário, não cedeu e ele divulgou denúncias na internet que ainda não foram confirmadas. A empresa entregou toda a documentação ao ministério público holandês para investigar, o que deve demorar uns dois meses para decidir se abre um inquérito ou arquiva.

Isso coloca em dúvida se a Câmara não está perdendo tempo ao dedicar-se a esta pauta antes de haver algo mais consistente sobre o assunto. A Petrobras e a Controladoria Geral da União também apuram se o caso tem fundamento para tomar eventuais providências cabíveis.

O inconveniente para a Petrobras é apenas desgaste da imagem empresarial por disputas políticas. O inconveniente para o governo é apenas a pauta do noticiário produzida no Legislativo ser dominada pela oposição, com ajuda dos parlamentares “rebelados” da base governista.

Há quem diga que a presidenta Dilma até deixou rolar a votação para mapear quem controla o PMDB da Câmara. O deputado Eduardo Cunha (RJ) mostrou ser ele quem tem o controle, o que deixou o vice-presidente da República, Michel Temer, numa saia-justa, já que ficou clara sua pouca liderança sobre os correligionários.

Em má situação ficou também o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Aviação Civil. Ocupa o cargo com base na força política que o PMDB tem na Câmara. Se ele não tem apoio da bancada de seu partido no Parlamento, sua situação fica precária. Com isso, a presidenta tem como redesenhar o relacionamento do governo com as pessoas certas do PMDB.

A rebeldia comandada pelo deputado Eduardo Cunha é que parece ter fôlego curto, como um voo de galinha. Se o quadro recomenda ao governo recompor com a bancada peemedebista para não sofrer novas derrotas na Câmara, essa bancada também precisará recompor e logo com o governo para ter êxito nas urnas.

Uma agenda negativa prolongada só interessa à reeleição de deputados da oposição, e agora, há poucos meses das eleições, já é tarde para o PMDB disputar esse eleitorado com sucesso. Para os deputados peemedebistas que querem se reeleger, só uma agenda positiva traz votos populares, o que só o alinhamento com o governo pode proporcionar.

A capacidade de impor derrotas ao governo na Câmara é a mesma que levaria à derrota nas urnas de boa parte da bancada peemedebista, tornando o efeito desta estratégia política limitado para os sabidos objetivos destes políticos: se manterem o mais prolongadamente possível na vida pública.

É claro que à presidenta Dilma não interessa desmanchar a aliança com o segundo maior partido do Brasil, mas quem teria mais a perder com um eventual rompimento? A oposição não oferece uma candidatura presidencial forte que alimente expectativa de poder. Se o PMDB associar sua imagem à agenda negativa da oposição, que as pesquisas apontam para uma derrota, quem ficará com a exclusividade da agenda positiva de avanços e conquistas para a população, em que pese ainda os muitos problemas do país, serão os demais partidos governistas.

E são eles que arrastarão as fichas sozinhos do voto popular vitorioso que elegerá as maiores bancadas. Apesar das tensões e disputas internas, o PMDB não tem escolha razoável a não ser seguir a agenda positiva governista, senão encolherá na próxima legislatura.