Haddad

Planejamento de longo prazo ganha peso, mas zeladoria não pode ficar de lado

Na entrevista à RBA, prefeito de São Paulo aponta mudanças na administração e parece ter retomado rumo perdido após manifestações de junho. Questões do dia a dia, no entanto, também são urgentes

Adriana Spaca/Brazil Photo Press/Folhapress

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, concedeu ontem (4) entrevista exclusiva à RBA.  Na primeira parte de conversa, Haddad ressaltou em diversos momentos a importância do planejamento para a cidade. Afirmou que “o debate público está muito contaminado pela mesquinharia, pela falta de visão de longo prazo”.

É reconfortante saber que a autoridade máxima da cidade sabe que seu papel é acertar o rumo da cidade como um todo. Depois de certa titubeação no início do mandato, a impressão é de que Haddad mudou o rumo depois das manifestações de junho de 2013. Manifestações essas que poderiam ter tido outro caminho caso os representantes do Movimento pelo Passe Livre tivessem sido recebidos pela prefeitura, é bom lembrar.

Instalação de faixas e corredores de ônibus, diálogo para a abertura dos clubes da prefeitura para a realização de festas e bailes funk, Bilhete Único Mensal, criação de uma Corregedoria e implementação de esforços para a ocupação dos vazios urbanos centrais (Arco do Futuro) são ações que, em maior ou menor grau, contribuem para uma mudança na direção do desenvolvimento da cidade. Ainda é cedo para avaliar o sucesso dessas ideias, mas politicamente fica clara a orientação da administração.

Essa orientação ficou explícita nas ações levadas a cabo na “cracolândia” pela prefeitura. Em ação pioneira no país, a Operação Braços Abertos ofereceu moradia, trabalho e qualificação para 300 pessoas que voluntariamente aderiram ao programa. Mesmo correndo o risco de fracassar – por melhores que sejam as intenções de qualquer iniciativa, o crack é uma droga altamente viciante e abandonar a dependência não depende apenas da boa vontade do usuário – é preciso comemorar a tentativa de tirar a discussão sobre drogas do âmbito policial e colocá-la na seara das políticas públicas. Se apenas esse for o saldo da operação, ela já terá sido positiva.

Entretanto, aquilo que Haddad chama de “mesquinharia” não pode ser desprezado. É verdade que o papel do prefeito de uma metrópole não é esclarecer pessoalmente casos como um poste caído e reclamar da insistência da mídia com essas questões faz parte do jogo. Mas é, sim, papel da prefeitura cuidar para que o “poste caído” não aconteça novamente. Pois é esse poste que atrasa o estudante para a prova. É o pequeno ponto de alagamento que impede os pais de buscar o filho na escola. É o semáforo quebrado que faz com que as pessoas (inclusive quem anda de ônibus) fiquem ainda mais tempo no trânsito. É a calçada esburacada e desnivelada que causa a fratura no quadril de um idoso. Apenas as ações de longo prazo podem resolver de vez esses problemas. Só que eles já existem hoje e precisam, no mínimo, de paliativos.

A zeladoria é importante e deve coexistir com o planejamento de longo prazo. É papel do prefeito organizar sua administração para que os pequenos problemas urbanos sejam tão bem tratados como os grandes. E se isso não acontecer, a responsabilidade também será dele.

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