oposição sem lastro

Criticar financiamento do BNDES em Cuba é novo ‘tiro no pé’ do PSDB

Ao fazer críticas simplórias sobre financiamento do porto de Mariel, partido presidido por Aécio se revela incapaz de dominar o jogo da política externa. Quando embargo cair, Brasil estará bem

EFE/Alejandro Ernesto

Instalações do porto de Mariel, em Cuba: parceria econômica e estratégica criticada por desconhecimento

O PSDB emitiu nota crítica sobre financiamentos do BNDES à exportação de bens e serviços de empresas brasileiras para construção do porto de Mariel, em Cuba. O tucanato comete novo erro e dá mais um tiro no próprio pé, ao se posicionar contra  a presença do Brasil naquele país, por considerar que por aqui faltam “obras estruturantes”, como diz o comunicado do partido presidido por Aécio Neves. “Os brasileiros acompanham, indignados, mais um périplo da presidente Dilma ao redor do mundo. Especial indignação causa saber que dinheiro dos brasileiros foi empregado para erguer um moderno porto em Cuba”, diz o comunicado.

Além de ter “esquecido” que o governo de FHC manteve parcerias e intercâmbios com Cuba, o comunicado de Aécio e PSDB critica empréstimos à “Venezuela chavista”, quando no governo FHC o BNDES emprestou US$ 107,5 milhões para a construtora Odebrecht abrir uma linha do metrô de Caracas, sob o governo de Hugo Chávez.

Não que o fato de FHC ter feito seja motivo suficiente para justificar que Dilma faça também. Acontece que, neste caso, ambos agiram corretamente.

O BNDES é um banco. O fato de ele financiar uma empresa exportadora brasileira não significa que tal financiamento faça falta a outro empreendimento em território nacional. Obras, no Brasil e em qualquer lugar do mundo, muitas vezes não saem do papel por vários motivos – por haver verba mas faltar projetos, por ausência de garantias ou contrapartidas para o empréstimo, ou porque o limite de endividamento de um estado, município ou empresa está estourado. Nunca por falta de linha de crédito disponível no BNDES.

E no tipo de financiamento à exportação como o feito para o porto cubano, o dinheiro volta ao Brasil, para as empresas brasileiras que exportam os bens e serviços, e volta outra vez com o pagamento do financiamento. Faz crescer a economia, as empresas e os empregos por aqui.

Por isso que os Estados Unidos têm seu Ex-Im Bank que faz esse mesmo tipo de operação. Assim com a China, a Índia, a Alemanha e o Japão. China e Índia também têm carências de infraestrutura em seus territórios, mas a exportação é bom negócio para crescer e superá-las, como é o caso do Brasil.

Se o Brasil não financiasse o porto de Cuba, empresas canadenses ou alemãs ou chinesas, por exemplo, é que ficariam com a obra, com o dinheiro e com os empregos que agora estão no Brasil.

Outra questão é Cuba ainda importar ônibus, máquinas agrícolas e muitos outros produtos industrializados do Brasil. A ilha está promovendo uma abertura econômica semelhante à feita pela China. Tem uma mão de obra altamente qualificada e deve crescer muito nos próximos anos. O porto traz sinergias com a economia brasileira.

Também há a localização e a conjuntura política estratégica. Quase todos os países da América Central e do Caribe estão na órbita econômica dos Estados Unidos. Cuba é uma exceção e por isso mesmo é o melhor país como plataforma de exportação para produtos brasileiros nesta região. Além disso, o embargo de Washington a Cuba não vai durar para sempre. Quando cair, o Brasil já estará com uma parceria sólida dentro de Cuba.

O canal do Panamá está sendo ampliado para passar navios gigantes e o porto de Mariel tem profundidade e estrutura para recebê-los. A rota comercial da Ásia para a costa leste dos Estados Unidos se intensificará no mar do Caribe e vários países da região estão reformando seus portos. Hoje Cuba não pode tirar proveito desta situação. Mas, quando o embargo cair, poderá, e o Brasil estará junto.

Além disso tudo, há um projeto político de integração latino-americana, formação de blocos para votar conjuntamente nos fóruns multilaterais. E foi graças a esta aproximação que o governo Dilma Rousseff emplacou um brasileiro na presidência da Organização Mundial do Comércio (OMC), que conseguiu alcançar um acordo benéfico aos países emergentes, como o Brasil.

É esse intrincado jogo geopolítico na economia mundial que o senador Aécio Neves se revela incapaz de entender e dominar, ao fazer críticas simplórias.

Voltando ao BNDES, como todo banco ele capta dinheiro por um lado e empresta por outro. É verdade que uma das fontes de captação tem sido o tesouro nacional desde 2009, em resposta à crise internacional. Mas tem decrescido ano a ano. E o Tesouro empresta ao BNDES com juros menores do que paga nos títulos da dívida pública. Há então um subsídio referente à diferença das taxas.

Mas aí é preciso analisar a relação custo-benefício deste subsídio. Não há saída se o BNDES não oferecer juros menores de longo prazo para o investimento produtivo, pois senão quase nenhuma indústria de porte se instala no Brasil. Se por um lado isso exige algum subsídio, por outro traz vários efeitos benéficos à economia: diminui importações, aumenta exportações, melhora a balança comercial; mantém níveis de emprego em alta, reduzindo custos sociais, e mantendo o nível de consumo das famílias, garantindo a economia aquecida e com consequente arrecadação de impostos. Em geral, os benefícios superam com folga o custo.

Também sobre isso o PSDB demonstra ignorância. E em nota oficial…

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