Porto Maravilha

Demolição da Perimetral já tem data, mas faltou combinar com os cariocas

O fim da via elevada que atravessa a região portuária do Rio já está definido, mas ainda rende muito debate na cidade

Beth Santos / Prefeitura do Rio de Janeiro

O prefeito Eduardo Paes, que preferiu mais uma vez decidir sem ouvir os moradores sobre o prioridades para o Rio

Está marcada para o dia 17 de novembro a demolição do elevado da Perimetral, via que liga o Aeroporto Santos Dumont com acessos à Ponte Rio-Niterói, Linha Vermelha e Avenida Brasil. A operação faz parte do projeto Porto Maravilha, que busca a revitalização da zona portuária da cidade. O elevado será fechado definitivamente no dia 2 de novembro. A Avenida Rodrigues Alves – que fica abaixo do elevado – ficará interditada por tempo indefinido depois da demolição. A via será substituída por um túnel, já em construção.

Hoje (24) foram realizados os primeiros testes de tráfego para a avaliação do impacto da medida no trânsito do Rio. Para absorver os veículos que utilizam a via, foi aberto o Binário do Porto, um sistema de avenidas que aproveita a antiga linha férrea que ainda corta a área. Apesar da lentidão do tráfego, o teste foi considerado positivo pela Prefeitura, que deve fazer mais ajustes até o dia da interdição.

O prefeito Eduardo Paes defende apaixonadamente a demolição da via. “A Perimetral degradou muito a Região Portuária e colaborou com a degradação de todo o centro da cidade. Por isso, sua demolição é simbólica nesse processo de revitalização da região central do Rio. Uma cidade que não tem um centro funcionando é uma cidade sem alma, e a retirada dessa viga representa um pouco a retomada dessa alma”, afirmou ele no início deste ano, quando era dada a largada para a primeira etapa da obra. A posição da prefeitura é de que o fim do elevado é fundamental para as ambições paisagísticas do Porto Maravilha.

Entretanto, há muitas vozes que discordam do destino do elevado. Um grupo de docentes e pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro desenvolveu, em 2010, um projeto alternativo para a área. Em vez de ser derrubada, a estrutura serviria como via para um veículo sobre trilhos entre os aeroportos Santos Dumont, ali mesmo no Centro, e o do Galeão, na Ilha do Governador.

“Imagine se, em vez de carros e ônibus poluindo o meio ambiente, nós tivéssemos um parque linear e um transporte de massa sobre trilhos deslizando sobre aquela estrutura? A Perimetral poderia deixar de ser um símbolo do rodoviarismo e se transformaria no símbolo de uma cidade que aposta no futuro sustentável”, afirmou à época Cristovão Duarte, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da UFRJ e integrante do grupo. Essa alternativa, no entanto, não foi considerada pela Prefeitura.

Outra voz crítica em relação à demolição é a ex-vereadora e especialista em planejamento urbano Sonia Rabello. “O custo astronômico da demolição, além dos custos ambiental  e cultural, com as escavações em áreas arqueológicas, são alguns importantes aspectos da questão. E, acrescente-se a isso, a anunciada falta de planejamento viário portuário”, diz Rabello.

Sonia Rabelo toca em pontos importantes, mas são questões que, em maior ou menor grau, estão presentes em qualquer obra ou projeto urbano. Por vezes, assume-se prejuízos financeiros que retornarão para a sociedade na forma de bons serviços ou de um bom ambiente.

Sem discussão

Acredito que o questionamento central na questão da demolição da Perimetral não sejam as escolhas que foram tomadas, mas sim a maneira como essas decisões aconteceram. Todas as sugestões que surgiram da sociedade civil foram rechaçadas. De acordo com Sonia, algumas das opções foram exigências pessoais do prefeito, como a extensão do túnel que substituirá o elevado até as proximidades do aeroporto. “Não me conformo como uma mudança tão importante e radical possa ser fruto de uma decisão tão sem responsabilidade pessoal”, diz.

O estilo de governar de Paes não admite interferências externas às suas decisões. Para levar seus projetos à frente, ele já desautorizou a instalação da CPI das remoções forçadas, que já tinha as assinaturas necessárias para funcionar. Alguns aliados retiraram o apoio e não houve investigação. Assim, era de se esperar que as decisões tomadas internamente não fossem objeto de qualquer revisão, por mais embasada que pudesse ser a crítica.

Esse é o grande problema. Se tomada de forma mais democrática, a decisão de mudar tão profundamente a região do porto teria muito mais respaldo da sociedade. Mas as escolhas sequer foram explicadas de forma clara; ao contrário, costumam ser mostradas de forma propagandística para a imprensa, que tendem a comprar o discurso.

O destino do Porto Maravilha, para Paes, é ser um polo de escritórios de alto padrão, além de porta de entrada da cidade para cruzeiros. Para isso, a demolição da Perimetral passou a ser um passo importante. Só que isso não foi explicado claramente. A essa altura do campeonato, parece que não faz mais diferença.

A Perimetral vai cair, não importa o que aconteça.

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