Presidenta da Petrobras elogia congestionamentos: ‘Que maravilha’

“Acho lindo carro na rua, estou faturando”, disse Graça Foster em entrevista ao gaúcho Zero Hora (Foto: Agência Petrobras) Em entrevista concedida ao jornal gaúcho Zero Hora na semana retrasada, […]

“Acho lindo carro na rua, estou faturando”, disse Graça Foster em entrevista ao gaúcho Zero Hora (Foto: Agência Petrobras)

Em entrevista concedida ao jornal gaúcho Zero Hora na semana retrasada, a presidenta da Petrobras, Graça Foster, deu uma daquelas declarações que podem marcar a vida de uma pessoa pública (se alguma atenção tivesse sido dada a esse fato). Durante uma conversa sobre investimentos da empresa no Rio Grande do Sul, Foster declarou que gosta de congestionamentos, pois eles aumentam a venda de combustíveis. 

Para não ficar dúvida, reproduzo a fala completa: “Então, que maravilha! Acho lindo engarrafamento! Meu negócio é vender combustível. Só entendo que deveríamos ter sempre planos diretores para orientar o fluxo de carros a favor da sociedade. Acho lindo carro na rua, estou faturando… De 2006 até agora a demanda cresceu 4,9%, enquanto a produção de petróleo, 3,8%, gerando uma defasagem. Por isso, as plataformas são tão importantes – mais 15, além das de 2013 e 2014, vão entrar em operação até 2020. Em 2014, a curva de produção será puxada novamente. No próximo ano, o Brasil terá, através da produção da Petrobras e de seus parceiros, um volume de óleo igual ao de derivados.”  

A Petrobras não tem responsabilidade alguma sobre os problemas de mobilidade de cada cidade, mas daí a fazer um elogio aberto aos congestionamentos, vai um passo muito, mas muito grande. Mesmo quando tenta contextualizar os problemas urbanos, citando os planos diretores, Foster só mostrou que não entende nada das consequências maléficas que o principal produto da sua empresa causa para a sociedade brasileira. O que significa “fluxo de carros a favor da sociedade”? O entendimento geral sobre os engarrafamentos, hoje, é de que o número de automóveis, bem como sua velocidade, devem diminuir, e não aumentar. Como esse fato levaria a um consumo menor de combustíveis, não era esse tipo de orientação que a executiva tinha em mente. 

É evidente que a pergunta em si era um pouco descabida. A Petrobras tem como negócio produzir e processar petróleo. Que o faça. Por menos que gostemos disso, vivemos em uma sociedade dependente dos combustíveis fósseis. Não tem cabimento relacionar essa atividade aos congestionamentos. Grosso modo, o trânsito é causado por incentivos à produção e à venda de carros, no âmbito federal, e, muito mais importante, pela maneira como cada cidade e região metropolitana gerencia o tráfego de veículos. A Petrobras produzir mais ou menos combustível afeta muito pouco a quantidade de carros circulando, pelo menos com os atuais preços dos combustíveis. 

Mas, então, por que Foster respondeu uma pergunta com um assunto que não lhe diz respeito e do qual não entende, a ponto de cometer uma gafe tão estrondosa? Por que não se esquivou, dizendo que a Petrobras não pode interferir nas cidades e enumerou as atividades fundamentais que dependem dos combustíveis, como distribuição de mercadorias por todo o país?

No mínimo, por que a política federal sobre o assunto reside apenas em tentar vender mais carros. A mobilidade urbana é ignorada na esfera federal. Os prejuízos decorrentes de acidentes, doenças causadas pela poluição, perda de tempo produtivo e de lazer, aumento do estresse e outras questões são invisíveis.

Azar dos municípios, que lidam sozinhos com todos esses efeitos negativos. Se as grandes capitais, que possuem grandes orçamentos e capacidade de investimento, ainda não encontraram saídas para os congestionamentos, as cidades médias estão em situação ainda pior. Sem especialistas e sem contar com a ajuda das esferas federal e estadual, padecem de situações que não conseguem prever nem resolver.

E, principalmente, azar de quem respira a fumaça dos carros todo santo dia.

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