‘Temos de mudar o modo de vida em São Paulo’

Empreendimentos imobiliários de impacto urbanístico e ambiental cresceram na capital paulista sem políticas de planejamento (CC/Fernando Stankuns) Nabil Bonduki, recém-eleito vereador em São Paulo, é um dos urbanistas mais envolvidos […]

Empreendimentos imobiliários de impacto urbanístico e ambiental cresceram na capital paulista sem políticas de planejamento (CC/Fernando Stankuns)

Nabil Bonduki, recém-eleito vereador em São Paulo, é um dos urbanistas mais envolvidos em política no país. Foi superintendente de Habitação Popular na gestão de Luiza Erundina como prefeita de São Paulo, vereador e relator do projeto do Plano Diretor no governo Marta Suplicy e secretário Nacional de Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente na gestão Dilma. A pouco mais de dois meses de assumir seu segundo mandato como vereador, Nabil analisa nesta entrevista os desafios que a cidade terá de enfrentar nos próximos anos para melhorar o ambiente urbano e a vida de seus moradores. 

São Paulo hoje

O cenário urbanístico está bem difícil. A cidade passou oito anos paralisada em variados aspectos. Houve um grande crescimento do mercado imobiliário e a entrada de muitos carros, sem que houvesse políticas para lidar com essa situação. Diversos empreendimentos que criam impacto urbanístico foram construídos, mas sem planejamento. Não que esses investimentos não fossem necessários, mas não houve acompanhamento das demandas urbanísticas que eles criaram. O Plano Diretor teve alguns de seus aspectos aplicados, mas não como um todo. Não houve a montagem de um sistema de planejamento que o aplicasse. 

Heranças – boas e más

Algumas ações da atual gestão foram positivas. Ainda estão em desenvolvimento, por exemplo, os planos para a urbanização da Jacu-Pêssego e o da Mooca-Vila Carioca. Outro exemplo é o Programa Cidade Limpa, que foi bastante positivo para a cidade.

Agora, a pior herança que recebemos é a da habitação. Apesar de haver alguns programas com muito marketing, como o de Heliópolis, há uma quantidade enorme de famílias sem atendimento. Há projetos de baixa qualidade, que não equacionam o problema do déficit habitacional. Houve, por exemplo, pelo menos 26 mil famílias removidas de suas casas que ainda estão esperando uma moradia.

Revisão do Plano Diretor

Há um conjunto de objetivos e diretrizes que serão relidos, mas a cidade não se alterou substancialmente para que seja necessária uma grande mudança na lei. O que aconteceu foi uma mudança na economia, existe mais crédito, mais veículos. Isso deve ser pensado. 

Acho também que, tendo em vista a experiência do primeiro Plano, devemos deixar a proposta de reestruturação urbana, que é o Arco do Futuro, mais clara e explícita no texto. 

Operações Urbanas

Em relação às Operações Urbanas, todos os contratos já assinados serão respeitados. Haverá uma avaliação de cada uma das operações para decidir se continuam e de que forma. O mais importante, no entanto, é decidir qual a prioridade na aplicação dos recursos. Hoje, a prioridade são os grandes empreendimentos, não a habitação social. Isso está promovendo o despovoamento do centro, processo que deve parar.

Mobilidade

A melhoria na mobilidade depende da implementação de um plano que preveja moradia no centro expandido e desenvolvimento econômico nas zonas Leste e Sudoeste. Atualmente, há uma situação em que a distância entre moradia e trabalho aumentou, o que piorou a mobilidade. Não podemos ter a ilusão de que só isso vá resolver o problema, mas a vida desses trabalhadores que passam três, quatro, cinco horas no trânsito pode melhorar. 

A distância entre casa e trabalho também impacta no custo do transporte público. Transportar pessoas por 35 quilômetros ultrapassa muito o preço da tarifa. O subsídio da prefeitura é enorme. 

Estruturação da cidade

Existe o adensamento populacional, o construtivo e o de veículos. Hoje, no centro expandido, a densidade construtiva e de veículos é enorme, mas a populacional vem caindo. O ideal é que haja mais gente morando no centro, que não use carro, ou use muito pouco. O ideal de morar em um grande condomínio com piscina, área de lazer e quatro vagas de carro na garagem não cabe nas regiões centrais. Temos de mudar o modo de vida que existe hoje em São Paulo. 

Minha Casa Minha Vida

Pretendemos usar os recursos do programa Minha Casa Minha Vida para construir habitação social dentro de uma planejamento anterior. As críticas que o MCMV recebe, de que não é uma política de desenvolvimento urbano e sim de crédito, fazem sentido. Mas são as prefeituras que colocam em prática a maior parte do desenvolvimento urbano. Aplicados por uma gestão que sabe o que quer em termos de território, o programa pode funcionar muito bem.

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