O tempero da cantora baiana Mariene de Castro no CD ‘Tabaroinha’

Mariene de Castro: baiana de voz grave dá vida a sambas novos e antigos (Foto: ©Kaya Verruno/divulgação) Pegue clássicos do samba. Misture com canções inéditas e/ou pouco conhecidas, mas igualmente […]

Mariene de Castro: baiana de voz grave dá vida a sambas novos e antigos (Foto: ©Kaya Verruno/divulgação)

Pegue clássicos do samba. Misture com canções inéditas e/ou pouco conhecidas, mas igualmente saborosas. Acrescente músicos de primeira linha e uma interpretação vibrante marcada por uma voz de timbre grave. Essa é a receita do novo CD da sambista baiana Mariene Bezerra de Castro, “Tabaroinha”. Antes, ela havia gravado dois álbuns, sendo o segundo ao vivo, também lançado em DVD, “Santo de Casa – Ao Vivo”, em 2011.

O álbum começa com o samba de roda “A Pureza da Flor”, marcada por um excelente coral de vozes femininas, o que se repete na doce “Amuleto da Sorte”, de Nelson Rufino. Em seguida, vem a mais suave “Filha do Mar”, da novata cantora e compositora paraibana Flávia Wenceslau: “Sou filha do mar e na maré mansa / Basta um riso, uma esperança / Pra meu peito consertar / Sou filha do mar e na maré cheia / Tiro o barco da areia / Vou-me embora navegar”.

Entre os clássicos regravados por Mariene de Castro, está “Roda Ciranda”, de Martinho da Vila, lançada em 1985, no álbum “Criações e Recriações”: “Ciranda de roda / De samba de roda da vida / Que girou, que gira / Na roda da saia rendada / Da moça que dança a ciranda / Ciranda da vida / Que gira e faz girar a roda / Da vida que gira”. Outro é “Um ser de luz” de João Nogueira, Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, imortalizado pela interpretação de Alcione.

Os indispensáveis, quando se pensa em música nordestina, Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga, também estão presentes. O primeiro aparece com a acolhedora “Tia Nastácia (Cantiga Pro Sinhozinho)”: “Na hora em que o sol se esconde / E o sono chega / O sinhozinho vai procurar / Hum, hum, hum / A velha de colo quente / Que canta quadras, que conta histórias / Para ninar”. O segundo é representado pela delicada parceria com Humberto Teixeira, “Estrada de Canindé”.

Mas Mariene vai ainda mais longe. Ela recupera o lundu “Isto é Bom”, de Xisto Bahia, compositor baiano do século XIX; e faz uma interpretação personalíssima do samba “Não Vou Pra Casa”, do Roberto Roberti, aqui em parceria com Antonio Almeida. Roberti se destacou principalmente nas décadas 1930, 1940 e 1950, e, além de ser um dos criadores da Associação Brasileira de Compositores e Autores, foi gravado por, entre outros, Carmen Miranda, Araci de Almeida, Orlando Silva e Francisco Alves.

O compositor mais presente em “Tabaroinha” é o “rei do samba baiano” Roque Ferreira, nascido em Nazaré das Farinhas (BA), e que começou a compor aos 14 anos, quando se mudou para Salvador e conheceu artistas como Riachão, Edil Pacheco, Nelson Rufino e Batatinha, entre outros. As canções compostas por ele presentes no álbum são a graciosa “Foguete”, parceria com J. Velloso; a doce “Ponto de Nanã” e a dançante “Orixá de Frente”: “Venha ver como é lindo / Uma preta na roda / Toda se bulindo, laiá / Pano da costa do ouro / Cobrindo o colar”.

“Tabaroinha, que vem de tabaroa, uma palavra tupi-guarani, que quer dizer mulher acanhada, criada no interior, matuta, caipira. Sempre me senti tabaroa, ainda mais quando saí da minha taba, juntando-me a outras tribos. Levei comigo meus costumes, meu sotaque, minha raiz. De onde vim, trago as minhas cores, o meu olhar, minhas lembranças, minhas saudades. Que reflete neste CD a tabaroa, tabaroinha! Que levarei comigo onde quer que eu vá. A escolha deste repertório vem desse mesmo sentimento”, explica Mariene, no encarte.

A cantora, que desde pequena sonhou ser bailarina, aprendeu a tocar violão e iniciou a carreira como vocal de apoio para Márcia Freire, Timbalada e Carlinhos Brown. Nesse álbum, ela é acompanhada por, entre outros, Júlio Caldas (violão e banjo), Israel Ramos (baixolão), Dudu Reis (cavaco), Cicinho de Assis (acordeom), Binho Cunha (timbau, surdo, agogô, ganzá e reco-reco), Marcelo Pinho (timbau, cajon e triângulo), Iuri Passos (timbau, shake balde, pandeiro e cáscaras) e André Souza (timbau e congas).

“Tabaroinha” é, portanto, um álbum extremamente prazeroso de se escutar e que comprova o imenso talento de Mariene de Castro. Além de se cercar dos melhores músicos e de possuir a candura de uma guerreira na interpretação, a cantora prova ter sensibilidade rara na escolha do repertório que, mesmo formado por canções de diferentes épocas, forma uma unidade bastante concisa.

[email protected]

 

Leia também

Últimas notícias