Marina de La Riva traz o arco-íris latino no álbum ‘Idílio’

Filha de pai cubano com mãe mineira, a cantora carioca Marina de La Riva acaba de lançar seu segundo álbum, “Idílio”, em que retoma a saborosíssima mistura de música brasileira […]

Filha de pai cubano com mãe mineira, a cantora carioca Marina de La Riva acaba de lançar seu segundo álbum, “Idílio”, em que retoma a saborosíssima mistura de música brasileira com cubana, como havia feito e chamado muita atenção em 2007, com o trabalho de estreia e homônimo. Ela volta agora muito mais amadurecida e acompanhada de músicos de primeiríssimo nível. “Eu acredito que o tempo da arte é outro e não o do relógio. Isso não significa que meu próximo trabalho demorará mais cinco anos. O fato é que sou uma faminta musical e estou o tempo inteiro procurando repertório”, declarou Marina de La Riva, em coletiva de imprensa.

As faixas não foram escolhidas e organizadas aleatoriamente. Muito pelo contrário. Umas dialogam com as outras. Ela começa mergulhando no baú da música cubana, recuperando “Añorado Encuentro”, de Piloto Bea e Vera Morua, que conta com a participação do consagrado trombonista Raul de Souza. Ela é acompanhada pela romântica “Ausência”, de Vinicius de Moraes e Marília Medalha, marcada pela percussão de Pedro Bandera e Ricardo Valverde: “Eu tinha feito da saudade / A minha amiga mais constante / Ela a cada instante / Me pedia pra esperar / E foi tudo o que eu fiz, te esperei tanto”.

A maneira como a voz de Marina de La Riva dialoga com o violão de Daniel Oliva e o baixo acústico e o arco de Fabio Sá, em “Assum Preto”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, é de arrepiar. Já é uma das mais belas homenagens ao centenário do “rei do baião”. A delicadeza permanece na dengosa “Canción de Las Simples Cosas”, de Armando Tejada Gómez e César Isella, reforçada pelo tres de Pepi Olviedo, o baixo acústico de Fabian Garcia Caturía, o violino de Ernesto Villalobos e os timbales de Adel Gonzalez, que cuida das palmas junto com a cantora. É surpreendente observar como a voz de Marina de la Riva se transforma nesse canto de saudade: “Por eso, muchacho, no partas ahoa, soñando el regreso / Que el amor es simple, y a las cosas simples las devora el tiempo”.

Igualmente forte é “Como Duele Perderte”, de Flores, pontuada pelo tamborim de Ricardo Valverde e o violão de Emiliano Castro. Ela abre espaço para o bolero-ranchero “Y”, de Mario de Jesus, com direitinho a uma “paradinha”, que arrepia mais do que a feita atualmente pelas escolas de samba na Marques de Sapucaí, assim como a voz de Marina de La Riva, imitando um suave trombone: “Y a que debo dime entonces tu abandono / Y em que rufa tu promesa se perdió / Y si dices la verdad yo te perdono / Y te llevo de recuerdo junto a Dios”. É de arrepiar.

“Minha casa era muito misturada entre Brasil e Cuba. Eu demorei para descobrir que espanhol e português não eram o mesmo idioma. Por isso, os dois ambientes tem um peso musical muito importante para mim. Não é preciso intitular barreiras. Nós temos um arco-íris inteiro na América Latina. E faz parte do meu trabalho mostrar também o que não é óbvio. Para cantar é preciso viver e acho que estou mais madura”, garantiu na mesma coletiva de imprensa.

Não à toa o álbum segue com o samba “Juracy”, de Antonio de Almeida e Cyro de Souza, gravada pelo “rei da malandragem” Moreira da Silva. Ela desbrava espaço para uma versão em mambo da dançante “Estúpido Cupido”, versão de Frank Jorge para sucesso de Neil Sedaka e Howard Greenfield, gravada por Celly Campello, na fase inaugural do rock brasileiro. Aqui ela é reforçada pelo piano de Pepe Cisneros e o sax-tenor de Ivan de Andrade. “Eu gosto muito de mambo, a letra é ótima e tem uma piadinha de ser em inglês, ter feito sucesso em português e agora eu devolver para o mundo com as minhas cores de mulher latina. Meu filho perguntou: ‘Legal essa música. De quem é, mãe?’. Só que estou falando sério em estúpido cupido”, acrescenta.

A canção seguinte é o chorinho “Deixa Que Amanheça”, de Oswaldo Santiago, gravada por Emilinha Borba e que aqui conta com o acompanhamento de um time de altíssimo nível, formado por Luizinho 7 Cordas, no violão de sete cordas; Alexandre Ribeiro, no clarinete; Deni Mastrodomenico, no cavaco; e Ricardo Valverde, na percussão. Ela abre espaço para “Dile Que Por Mi No Tema”, de T. Smith, que conta com arranjos de Pepe Cisneros e remete à “chanson francesa”.

Marina de La Riva parte, então, direto para a emplogante “Muñeca”, de Eddie Palmieri, mais uma faixa com arranjo de Pepe Cisneros, com o primoroso trombone de Raul de Souza e com uma letra “safadíssima”: “Muñeca, quiero que me perdones / Muñeca, que yo no ló hago más / Me encontrastes em los brazos de otra nena / Son diversiones que no valen nada”. Dá vontade de sair dançando pelo salão.

Chega-se à faixa-título, “Idílio”, de Titi Amadeo, que conta com a bateria de Pupilo, da Nação Zumbi, e mantém o clima caribenho e bastante ensolarado. “Eu penso nas músicas em cores e elas também precisam gostar de mim. Crio e me afasto para ter autocrítica. Preciso dormir em paz com meu trabalho. Todas as cores nele são muito intensas e vibrantes. Meu branco e preto são muito fortes assim como o azul e o verde. Ou seja, são as músicas do meu arco-íris”, explica Marina de La Riva.

O álbum termina com mais duas canções charmosas e dançantes – “Voy a Tatuarme”, de Amaury Gutiérrez (vencedor do Grammy Latino de melhor cantautor em 2011), baseada no “Soneto LXVI”, de Pablo Neruda e Luiz Felipe Gama; e “Voy a Guardar Mi Lamento”, de Raul Vasquez, que conta com o trompete azeitadíssimo de Guizado, a guitarra de Junior Boca, a bateria de Pupilo e o baixo elétrico de Fabio Sá.

Portanto, “Idílio” reafirma Marina de La Riva como uma das melhores cantoras brasileiras da nova geração. Há quem diga que ela é apenas para ouvidos mais refinados. Mas, que nada, parece impossível escutar esse álbum e não se encantar e nem sentir vontade de sair dançando por aí, com uma pitada de saudade e um arco-íris ou uma Lua, rodeada de estrelas, no céu.

 

[email protected]

Leia também

Últimas notícias