E a história se repete. Gente bronzeada contra gente diferenciada

No Morumbi, zona sul de São Paulo, a desculpa dos moradores era o “moradoresmonotrilho” – trem que circula por um viaduto de concreto – que passaria pela região. Mas a […]

No Morumbi, zona sul de São Paulo, a desculpa dos moradores era o “moradoresmonotrilho” – trem que circula por um viaduto de concreto – que passaria pela região. Mas a exigência dos mesmos era a construção de uma base policial para vigiar os moradores da favela que cercam os bairros nobres. E o pleito ainda ganhou ares de luta de classes com a expressão, “gente diferenciada”, usada por uma moradora em entrevista para descrever os “mendigos e drogados” que a estação atrairia.

Porém, agora o protesto mudou para o bairro de José Serra, Pinheiros. E como gente cheirosa não grita “abaixo o albergue!” nem queima pneus, os moradores fizeram um protesto, sem muito alarde. Em geral, as estratégias vão de reuniões de pequenos e influentes grupos à contratação de advogados e consultores, pressionando o poder publico com abaixo assinados. Só que dessa vez parece que o grupo não irá conseguir criar situações xenofóbicas: não querer que esse círculo seja invadido.

Já na Rua Cardeal Arcoverde, Zona Oeste de São Paulo, a gritaria é contra a instalação de um albergue da prefeitura. Um grupo colheu 1.104 assinaturas e entrou com uma representação pedindo que o albergue fosse transferido, pois sua permanência provocaria “um verdadeiro impacto no bairro”.

A representação, assinada por comerciantes e moradores, afirma: “O comércio possivelmente não vai sobreviver uma vez que a população local será acuada em suas residências e os visitantes de outros bairros vão nos trocar por outros centros comerciais mais tranquilos e seguros.”

Mas o promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes não viu assim e indeferiu o pedido. Escreveu: “os moradores nada teriam a objetar se o referido albergue fosse instalado no último rincão da periferia da cidade, mas incomoda-os, profundamente, ter na vizinhança indesejáveis moradores de rua”. Ou seja, o problema só é um problema e só incomoda quando a “gente diferenciada” está por perto.

O promotor não gostou da discriminação dos moradores cheirosos de Pinheiros, e pediu à Delegacia Especializada em Crimes de Intolerância (Decradi) abrisse um inquérito por notar indícios de intolerância social, que comparou ao nazismo:

“Há uma demonstração já ativa de preconceito”, disse o promotor.

“Vi com muita preocupação os argumentos para impedir a mudança, dizendo que o local tem criança, tem idosos, vai aumentar a criminalidade. Começa assim, o pensamento nazista.”

O promotor Mauricio Antonio Ribeiro Lopes, disse no ofício que “é de provocar inveja a qualquer higienista social do 3º Reich a demonstração de tal insensibilidade”. – em alusão ao regime do ditador alemão Adolf Hitler.

Ele alega que pediu a investigação do caso por ter ficado preocupado em ver que determinados trechos do documento entregue ao Ministério Público mostravam preocupação em haver em uma mesma região instituições de ensino, crianças e jovens convivendo com moradores de rua. “Havia uma clara demarcação de apartheid. Tenho horror da perspectiva de repetição de movimentos totalitários”, defende. O promotor disse ainda que está à disposição para falar com os moradores e comerciantes ou com o advogado que os representa.

Leia também

Últimas notícias