A genialidade frasista de Oswald de Andrade reunida em livro

O modernista e antropofagista Oswald de Andrade(Reprodução) Importante nome do Modernismo e do movimento literário antropofágico no Brasil, o escritor, ensaísta e dramaturgo paulistano Oswald de Andrade foi o grande […]

O modernista e antropofagista Oswald de Andrade(Reprodução)

Importante nome do Modernismo e do movimento literário antropofágico no Brasil, o escritor, ensaísta e dramaturgo paulistano Oswald de Andrade foi o grande homenageado da Festa Literária Internacional de Paraty, em julho. Ao mesmo tempo, as frases elaboradas por ele em livros, peças de teatro e ensaios – muitas das quais causaram celeumas e discussões acaloradas à época -, foram reunidas pelo jornalista e escritor mineiro Luiz Ruffato na antologia “A Alegria é A Prova dos Nove”.

Devidamente organizadas por temas, as frases que mais chamam a atenção são aquelas em que Oswald de Andrade alfineta outras pessoas públicas. Esse é o caso da romancista, contista e cronista Dinah Silveira de Queiroz, a respeito da qual escreveu em1952: “Essa senhora, depois de escrever muita besteira, afagada pela inconsciência crítica de meus amigos cariocas, inventou de se lançar, onde? Em Paris. Como tem posses, primeiro comprou um editor, depois abriu um leilão para a crítica”. Até mesmo o casamento com a artista plástica Tarsila do Amaral era tratado com bom humor: “esse grande casamento acompanhou o destino do café. Subiu a alturas, conseguiu um raro cartaz, depois rodopiou e caiu. Evidentemente, o culpado foi, com o destino, o autor desse diário”.

Também vale a pena prestar atenção naquelas em que o próprio escritor modernista descreve suas escolhas e opções. Entre elas, está a de 1933: “Com pouco dinheiro, mas fora do eixo revolucionário do mundo, ignorando o Manifesto Comunista e não querendo ser burguês, passei naturalmente a ser boêmio”. Para praticamente mudar de opinião cerca de 12 anos depois: “se era já um escritor progressista que tinha como credenciais a parte ativa tomada na renovação da prosa e da poesia do Brasil desde 22 (ano da Semana de Arte Moderna), pude ser esse mesmo escritor a serviço de uma causa, a causa do proletariado que [Luís Carlos] Prestes encarnava”.

 A respeito da antropofagia, ele chegou a declarar, em 1928: “A Antropofagia é o culto à estética instintiva da Terra Nova. Outra: É a redução, a cacarecos, dos ídolos importados, para a ascensão dos totens raciais. Mais outra: É a própria terra da América, o próprio limo fecundo, filtrando e se expressando através dos temperamentos vassalos de seus artistas”.

Sobre o Modernismo, comentou, em 1948: “Foi uma ação necessária contra a Grécia de Bilac e contra as idealizações postiças de Coelho Neto e também contra a língua vernaculista e erudita de Rui Barbosa, que não era de modo algum aquela em que se exprimia, sentia e falava o nosso povo. Não quero dizer com isso que o Modernismo pleiteasse uma língua desconchavada e plebeia. Ao contrário, os principais livros paulistas dessa época foram experiências de estilo, de composição e de cultura linguística das mais altas que tivemos”.

Claro que não faltam as frases mais célebres de Oswald de Andrade, como “Tupi or not tupi that is the question”, de 1928; e “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”, elaborada no mesmo ano. E chega a se auto-definir, em 1954: “sou o toureador que jamais matará o touro e que não tem direito à aposentadoria”.

Fato é que mesmo depois de 56 anos após morrer, o nome dele continua sendo sempre lembrado, assim como suas importantes e marcantes obras e as frases que disse, sempre com uma pitadinha de veneno, como comentou a respeito da crítica, em 1946: “o crítico de livros é muitas vezes, o avesso amargo do panfletário, pois, se ele aliás quiser apenas indicar benevolamente o que se deve ler ou sentir está despedido de suas funções. O que interessa na crítica é a maldade”.

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