Caixa Cultural expõe a arte gráfica de Glauco Rodrigues

“Tenho horário comercial. Trabalho das 9h às 13h. Paro para almoçar. Volto às 14h30 e trabalho até 19h. Sábado e domingo, finalmente, eu dedico ao lazer: continuo pintando”. Essa frase […]

“Tenho horário comercial. Trabalho das 9h às 13h. Paro para almoçar. Volto às 14h30 e trabalho até 19h. Sábado e domingo, finalmente, eu dedico ao lazer: continuo pintando”. Essa frase é exibida com destaque na exposição “O Universo Gráfico de Glauco Rodrigues”, em cartaz até 29 de agosto na Caixa Cultural, em São Paulo, com entrada franca. A mostra reúne obras gráficas, como litografias e serigrafias, e ilustrações realizadas para livros, revistas e discos.

Nascido em Bagé, no Rio Grande do Sul, Glauco Rodrigues estreou na pintura em 1951, ao criar o Clube de Gravura de Bagé, com Vasco Prado e Carlos Scliar. No entanto, a obra dele começa a chamar atenção a partir de 1961, quando realiza a primeira exposição individual na Petit Galerie, no Rio de Janeiro.

Nos quatro anos seguintes, ele fica responsável por implantar o setor gráfico da Embaixada do Brasil em Roma, na Itália. De volta ao Brasil, em 1967, participa da 9ª Bienal de São Paulo, com objetos de acrílico, e realiza letreiros e cartazes para o filme “Garota de Ipanema”, de Leon Hirszman, e que podem ser conferidos na exposição. Após realizar mais de 50 exposições individuais e conquistar dezenas de prêmios, o artista faleceu aos 75 anos, em 2004, no Rio de Janeiro.

Uma negra com vestido verde e azul, amarrado com uma fita amarela, carrega um cesto de frutas na cabeça e um bebê preso às costas. Ela está no lado esquerdo, o oposto de um rapaz igualmente negro, que usa bermuda colorida, óculos de aros amarelos, casaco verde e amarelo aberto para mostrar seu dorso nu, e toca um tambor igualmente amarelo.

Eles estão diante de uma dupla paisagem, que mostra dois cartões-postais do Rio de Janeiro, a praia e o Pão de Açúcar, com carros estacionados e pessoas caminhando. Trata-se um retrato contundente da realidade brasileira, batizado de “O Estado da Guanabara (1960-1970). A obra faz parte da série de 1979, “Guia turístico e histórico da cidade do Rio de Janeiro”, formada por 10 litografias e é ótimo exemplar do que o visitante encontrará.

Na exposição em cartaz em São Paulo, é possível conferir dez versões em serigrafia de 1977 feitas a partir de desenhos de 1953, que quase pulam da tela com cores fortes e vibrantes. Há também capas de livros, como “O Observador No Estúdio”, de Carlos Drummond de Andrade; e “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto; e de discos, como “Poetas de Calçada”, de Neguinho da Beija-Flor; e “Galo de Briga”, “Comissão de Frente” e “Caça a Raposa”, de João Bosco. Não fica de fora, claro, o marcante trabalho que realizou em várias capas da revista “Senhor”.

“Em Glauco é a cor o que mais prende. Certos amarelos ocos que abrem no quadro uma nesga para um fundo não visível mas muito amplo, certos neutros intensos, uns rubros velhos, umas superposições de não sei que tintas que vão dar num tom sem nome conhecido de cor”, descreveu a escritora Clarice Lispector, em texto de 1961, por ocasião da primeira exposição individual de Glauco Rodrigues.

O também escritor Luis Fernando Veríssimo parece completar agora: “Ninguém como ele combinou sensualidade e rigor artesanal e fez um retrato tão preciso deste carnaval. Na sua obra gráfica, como na sua pintura, o Glauco nunca deixou de dizer: que país curioso este nosso, e que país bonito”.

 

Serviço
Até 29 de agosto
De terça a sábado, das 9 às 21h. Domingos e feriados, das 10 às 21h.
Grátis.
Caixa Cultural São Paulo – Avenida Paulista, 2083. T:3321-4400.

 

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