“Movimento”, o jornal dos jornalistas, ganha livro que conta sua história

São Paulo – Foi lançado o livro “Jornal Movimento  – uma reportagem”, um dos principais veículos de resistência à ditadura. O texto de Carlos Azevedo, com reportagens de Marina Amaral […]

São Paulo – Foi lançado o livro “Jornal Movimento  – uma reportagem”, um dos principais veículos de resistência à ditadura. O texto de Carlos Azevedo, com reportagens de Marina Amaral e Natália Viana, narra a trajetória de um dos poucos semanários que aguentaram mais que cinco anos de repressão – Movimento foi publicado entre julho de 1975 e novembro de 1981.

Reuniu-se ali uma turma de peso com a ideia de fazer um jornal dos jornalistas. “O patrão é o coletivo, que decide por maioria, o que vai dar em grandes debates”, conta Azevedo, ele mesmo um colaborador da publicação durante parte dos quase dez anos em que viveu na clandestinidade.

Além dos jornalistas, formou-se um conselho editorial com gente do peso de Chico Buarque, Fernando Henrique Cardoso, Orlando Villas Bôas, Francisco de Oliveira e Flávio Aguiar. Não por acaso, Movimento nasceu sob censura, o que desde o primeiro momento afetou a vendagem, já que reportagens inteiras eram mutiladas pelo olhar da repressão. O semanário só não quebrou nos primeiros meses porque tinha uma grande quantidade de “acionistas”, pessoas interessadas em comprar cotas de participação na editora – são nomes que também figuram na história brasileira, muitos deles ainda frequentadores das principais páginas da política, da cultura, da economia.

Mesmo sob problemas, Movimento cobriu os principais momentos da realidade brasileira. Acompanhou de perto o racha na caserna, hesitante entre aprofundar a repressão ou dar início a uma distensão política – mais que isso, seus repórteres e colaboradores souberam se beneficiar das informações que começaram a vazar por conta do interesse dos militares em trocar farpas. O jornal acompanha também o nascimento de um curioso movimento operário no ABC paulista e de um certo Lula, que tinha aversão à imprensa, à estrutura sindical convencional e à esquerda comunista. “O Lula era um enigma, na medida em que ele não se enquadrava em nenhum dos nossos preconceitos”, resume o escritor Frei Betto, mais tarde um grande amigo do ex-presidente, em entrevista para o livro.

O livro que narra a trajetória de Movimento é acompanhado por um DVD com as 334 edições. O leitor poderá passear por importantes capítulos da história do Brasil. Visitar o passado é encontrar-se com Paulo Maluf, José Sarney, Édison Lobão – analisar que papel desempenhavam à época e qual desempenham hoje. A morte do jornalista Vladimir Herzog, a campanha pela anistia, o surgimento dos partidos que hoje ditam o cotidiano da política brasileira também estão registrados. O começo da abertura era também o fim da linha para a chamada imprensa alternativa. À medida que surgiam jornais de correntes, que os repórteres começavam a retornar às redações convencionais ou ingressavam na vida partidária, Movimento ia perdendo fôlego.

Serviço
“Jornal Movimento – uma reportagem”
Autor: Carlos Azevedo, com reportagens de Marina Amaral e Natalia Viana
Editora: Manifesto
336 páginas
Preço: R$ 59. Pode ser adquirido nesta página

Lançamentos agendados

Rio de Janeiro
Local: Livraria Argumento
Rua Dias Ferreira, 417 – Leblon 
Data: 23 de agosto, 19h30
Informações: 21 2239.5294

São Paulo
Local: Livraria Cultura do Shopping Villa Lobos
Avenida das Nações Unidas, 4.777 – Alto de Pinheiros
Data: 12 de setembro, 19h

 

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