Polícia do RJ entra em confronto com manifestantes em evento da FIFA

Manifestantes pedem a queda de Ricardo Teixeira (Foto: Thalita Pires/Rede Brasil Atual) Assim como em São Paulo, hoje foi dia de protesto contra o modelo de obras adotado no Brasil […]

Manifestantes pedem a queda de Ricardo Teixeira (Foto: Thalita Pires/Rede Brasil Atual)

Assim como em São Paulo, hoje foi dia de protesto contra o modelo de obras adotado no Brasil para a Copa do Mundo e Olimpíada. Cerca de 500 pessoas de diversas entidades se reuniram no Largo do Machado para protestar contra os altos gastos públicos com o sorteio das eliminatórias  da Copa do Mundo de 2014, estimados em R$ 30 milhões, a corrupção na organização da Copa e, principalmente, contra as remoções que ameaçam diversas comunidades no Rio.

O confronto com a polícia aconteceu por volta das 14 horas. Uma passeata saiu do Largo do Machado em direção à Marina da Glória, onde acontecia o sorteio das chaves das eliminatórias. Ao se aproximarem do local, os manifestantes foram impedidos de usar a passarela e tentaram fechar o tráfego de veículos e atravessar a avenida. Nesse momento, os policiais usaram gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes. Ninguém foi preso e não há relato de feridos.

Depois do confronto, a organização da passeata, encabeçada pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíada do Rio, negociou com a polícia e conseguiu marcar um encontro com Olinto Silva, representante da Secretaria Especial de Grandes Eventos do Ministério da Justiça. 

Remoções e elitização do futebol

A manifestação contou com a participação de atores tão diferentes quanto os professores estaduais do Rio, em greve há três meses, a Frente Nacional dos Torcedores, a Conlutas e representantes de comunidades afetadas pelas obras de infraestrutura para os mega-eventos que acontecerão no Rio até 2016. Apesar de todos declararem que não são contra a realização desses eventos, as críticas em relação à condução das obras são grandes.

De acordo com as contas de Carlos Vainer, professor  de planejamento urbano da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entre 20 e 25 mil pessoas serão removidas de suas casas por conta das obras que acontecem na cidade. O maior impacto é criado pelas três grandes obras viárias: Transcarioca, Transolímpica e Transoeste. “O pior é que esses trajetos são essencialmente turísticos e não correspondem ao volume de tráfego entre as regiões da cidade”, afirma Vainer.

Em relação às remoções, a reclamação é de que as opções oferecidas pela Prefeitura são muito ruins para os moradores, estejam eles em áreas legalizadas ou em ocupações. No bairro de Vicente de Carvalho, por exemplo, cerca de 70 imóveis regulares serão desapropriados para dar espaço para a Transcarioca. A reclamação dos moradores é de que o valor oferecido é muito menor que o de mercado. “O dinheiro que oferecem é pouco e fica impossível comprar um imóvel similar na região”, conta Valéria Fonseca, representante dos moradores. Ela alega que o traçado foi mudado subitamente. “No projeto anterior não havia nenhuma desapropriação. Não sabemos o motivo dessa mudança”, conta.

No caso de comunidades não legalizadas, a situação é pior. A Prefeitura oferece Bolsa Aluguel de R$ 300, indenização pelas melhorias (mas não pelo terreno, mesmo em comunidades antigas) ou um apartamento em conjuntos habitacionais distantes 60 quilômetros do Centro. Essa é a situação de muitas comunidades, como as localizadas na área do Projeto Porto Maravilha.

Já a Frente Nacional dos Torcedores (FNT), que luta pela queda de Ricardo Teixeira da direção da CBF, aproveitou o protesto para reclamar da elitização da Copa e do futebol de uma maneira geral. “Apesar de ser paga com dinheiro público, a Copa é feita para turistas. Os mais pobre não têm como pagar para ir ao estádio”, afirma João Marques, presidente da FNT. Ele reclama ainda do custo da festa de hoje. “Se só para o sorteio preliminar foram gastos R$ 30 milhões, em um estado em que os professores estão em greve há três meses, imagina o que vão gastar com o sorteio dos grupos da Copa? E ainda fecharam o aeroporto [o Aeroporto Santos Dumont ficou fechado durante 4 horas para não atrapalhar o evento]. Não dá para aceitar”, diz.